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Celebridades

Cate Blanchett e a arte da metamorfose

Exigente, a anti-estrela, vencedora de dois Óscares, cultiva a inquietude. Musa do perfume Sì, de Armani, ela revisita o seu trajeto ao sabor do absoluto.

Foto: Tom Munro | Madame Figaro
24 de abril de 2018 às 18:00 Isabelle Girard

Com os cabelos louros colados à testa, calças de jogging e colete em cabedal, Cate Blanchett [Ivanhoe, Austrália, 1969] avança, lentamente, pelo Salon Proust do hotel Ritz, em Paris. O grande Marcel poderia ter pensado que esta mulher longilínea, felina e cheia de garra seria a versão atual e perfeita da sua duquesa de Guermantes, se tivesse de reescrever Em Busca do Tempo Perdido. Cate sorri perante esta ideia, considerando-a barroca. "Não sou uma dessas coquettes obcecadas pelos jantares na cidade. Sou uma rapariga do campo", explica a estrela que acaba de se instalar numa região rural dos arredores de Londres, onde trata dos quatro filhos e do jardim. "O último capricho da minha família é plantarmos uma floresta no nosso pedaço de terra. Sabe, estou longe das mundanidades da vossa querida Oriane [de Guermantes]." Exceto em outubro passado, em plena Semana da Moda de Paris, onde exibiu um look roqueiro na plateia de uma série de desfiles. Se necessário, a musa do perfume Sì e amiga íntima do seu criador, Giorgio Armani, também sabe adotar um estilo andrógino à la Bowie e fazer poses de mulher fatal, vestindo um fato-calça rosa velho e brincos de esmalte pesados, fazendo desfilar a sua silhueta esguia, em forma de vírgula, pelas passadeiras vermelhas, como as divas de Hollywood da década de 1950. Cate Blanchett, artista colossal, excede-se em metamorfoses. Ela é um camaleão, na vida e no cinema, capaz de deslizar sem esforço pelos papéis mais extremos ou mais loucos, interpretando com a mesma inteligência a rainha Isabel I de Inglaterra, a elfa Galadriel n’O Senhor dos Anéis ou uma mulher à beira de um ataque de nervos em Blue Jasmine. Segue-se a entrevista.

"Não poderia desenvolver uma personagem sozinha no meu canto"

"Construir um papel é encontrar o tom certo da personagem e, para o descobrir, são precisas, pelo menos, duas pessoas, para trocarmos ideias, dialogarmos, acedermos às nossas referências visuais, literárias, cinematográficas, musicais. É isso que me interessa na construção de uma personagem: a conversa que tenho com o realizador e os meus colegas. É assim que eu faço evoluir a personagem. É com este confronto que a minha personagem se enriquece. Um papel é o resultado de uma tecelagem complexa. Não poderia desenvolver uma personagem sozinha no meu canto. Aborrecer-me-ia de morte. Não é esse o meu método."

"Tenho dúvidas. Tenho medo. É uma sensação de pura adrenalina"

"Por vezes, quando eu leio um argumento, digo-me: ‘Desta vez não vou conseguir.’ Não estou à altura. Como vou fazer isto? Não é por ter recebido prémios que perdi o medo. Para cada papel é preciso voltar a ligar a ‘máquina’. Tenho dúvidas. Tenho medo. É uma sensação de pura adrenalina e é isso que eu adoro: a possibilidade de falhar. Para mim, falhar significa não conseguir surpreender os meus parceiros, apresentar-lhes uma versão demasiado erudita, demasiado literal, demasiado previsível da personagem. Por outro lado, se conseguir criar uma imagem ligeiramente diferente daquela que toda a gente espera, então considero que fiz bem o meu trabalho. Uma coisinha minúscula pode fazer a diferença. Uma voz um pouco mais grave, os olhos um pouco mais carregados de maquilhagem, uma tez mais clara, um olhar mais vulnerável. A personagem de Carol, no filme homónimo, é complexa. Ela é simultaneamente acessível e misteriosa, burguesa e vulcânica, casada e vivendo uma aventura homossexual – tudo isto na América da década de 1950. Como apresentar esta paleta de sentimentos contraditórios? É aqui que o diálogo com os intervenientes se revela essencial. E se não estivermos completamente imersos no papel, então nem vale a pena tentar. Não há qualquer hipótese de alguém se interessar pela nossa história."

"Aquilo que adoro é fazer experiências"

"Nunca quis fazer carreira. Aquilo que adoro é fazer experiências, viajar, estar rodeada de gente que respeito e que me faz sentir bem. Uma cena, um bom argumento, uma boa equipa. É isso que me faz feliz. Quando eu era nova sabia que queria ter uma profissão que me fizesse viajar, mas não fazia ideia do que eu iria ser. Comecei a trabalhar em finanças e depois o Teatro seduziu-me: codirigi a Companhia de Teatro de Sydney com o meu marido, o dramaturgo Andrew Upton. Seguiu-se o Cinema, em 1998, com o meu primeiro grande papel, o da rainha Isabel I de Inglaterra no filme de Shekhar Kapur. Tive as minhas recompensas. Enquanto isso, eu consegui formar uma família. Devo tudo isto ao meu trabalho, mas sobretudo a uma certa curiosidade, ligeireza, despreocupação e otimismo."

"Em casa eu sou tudo, menos glamorosa"

"Quando temos esta profissão, mas somos mães de quatro filhos, temos de ser práticas. Irmos diretas à questão. Quando estou a trabalhar, estou 100 por cento concentrada. Não existe mais nada. Mas depois de sair do modo estúdio, eu transformo-me numa mulher normal e numa mãe de família que entra em casa para encontrar os seus entes queridos, ler os seus e-mails e preparar as lancheiras para o dia seguinte. Os meus filhos não se interessam pelos estados de alma que a mãe encarna. Eles querem falar sobre o dia deles, tomar banho, jantar. Em casa eu sou tudo, menos glamorosa."

"Interpretar um papel é confrontar a realidade"

"Os meus papéis mudaram a minha visão do mundo. É como ser antropóloga ou jornalista. Interpretar um papel é confrontar a realidade, é observar o que se passa à nossa volta para poder enriquecer a personagem, é ser mais permeável ao mundo, é ser menos indiferente. Enquanto encarnei o papel de Jasmine, no filme de Woody Allen, olhava para as pessoas na rua de maneira diferente: as pessoas destituídas, as mulheres abandonadas, as pessoas que falam sozinhas. Fiquei mais sensível ao sofrimento."

"Não me vejo como uma estrela"

"O inimigo do artista é o olhar para o próprio umbigo e ficar obcecado pela sua imagem. Com a idade, deixei de querer parecer-me com aquelas mulheres incrivelmente bonitas, aqueles ícones do Cinema, aos quais regresso, continuamente, e com os quais eu não me identifico minimamente. Na verdade, considero-me bastante banal. No ecrã ou em palco, sou-o menos porque estou a encarnar uma personagem, mas na vida do dia a dia não me vejo como uma estrela de Hollywood. A minha mãe ensinou-me coisas simples: ‘Respeita-te, respeita os outros e quando te levantares, de manhã, pergunta-te se os teus filhos estarão orgulhosos daquilo que fizeste ontem.’"

"O que adoro em Armani é o facto de ele ser um pioneiro"

"Sou a musa do perfume Sì, criado por Armani. O que adoro neste designer italiano é ele ser um pioneiro. Ele deu às mulheres a possibilidade de adotarem uma silhueta masculina, permanecendo femininas. Ele sempre se interessou por esta dualidade que existe em cada um de nós. Sì é um perfume de mulher sexy, complexo e livre. Se sou feminista? Sim. Quando eu aceito um papel, interrogo-me se será bom para a causa. E eu sou uma daquelas pessoas que pensam que as mulheres podem fazer tudo e encarnar qualquer papel, mesmo que seja masculino. Eu interpretei bem o papel de Bob Dylan! Fico pasmada com a longevidade das carreiras de Catherine Deneuve e de Isabelle Huppert. Isto quer dizer que uma mulher pode fazer tudo."

"Como consigo fazer tudo? Mas eu não consigo!"

"O problema da igualdade entre os sexos não será verdadeiramente resolvido até haver igualdade salarial. E isso nem sempre acontece. E também não será resolvido enquanto as mulheres acharem que podem fazer tudo. Quando me perguntam como consigo fazer tudo, eu respondo: ‘Mas eu não consigo!’ Ninguém consegue. Toda a gente comete erros com os filhos, no trabalho ou enquanto casal. Por que haveremos de fingir o contrário?" 

Os meus segredos de Beleza

  • Nada de sol.
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  • Um bom desmaquilhante.
  • Vitaminas para a pele. 

    Exclusivo Madame Figaro. Tradução: Erica Cunha e Alves

Exclusivo Madame Figaro. Tradução: Erica Cunha e Alves

Casaco assimétrico almofadado, Giorgio Armani
Foto: Tom Munro | Madame Figaro
1 de 8 / Casaco assimétrico almofadado, Giorgio Armani
Casaco assertoado almofadado em lã e calças de algodão, Giorgio Armani
Foto: Tom Munro | Madame Figaro
2 de 8 / Casaco assertoado almofadado em lã e calças de algodão, Giorgio Armani
Casaco com gola alta em lã e seda, revestido a cetim azul, Giorgio Armani
Foto: Tom Munro | Madame Figaro
3 de 8 / Casaco com gola alta em lã e seda, revestido a cetim azul, Giorgio Armani
Casaco comprido em jacquard com lamé impresso, Giorgio Armani
Foto: Tom Munro | Madame Figaro
4 de 8 / Casaco comprido em jacquard com lamé impresso, Giorgio Armani
Casaco de lamé em patchwork de algodão e seda, Dries Van Noten
Foto: Tom Munro | Madame Figaro
5 de 8 / Casaco de lamé em patchwork de algodão e seda, Dries Van Noten
Foto: Tom Munro | Madame Figaro
6 de 8
Vestido preto em lã com nervuras em fio vermelho, Alexander McQueen
Foto: Tom Munro | Madame Figaro
7 de 8 / Vestido preto em lã com nervuras em fio vermelho, Alexander McQueen
Casaco em veludo e pelo falso e vestido em seda, Y/Project
Foto: Tom Munro | Madame Figaro
8 de 8 / Casaco em veludo e pelo falso e vestido em seda, Y/Project
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