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Celebridades

A hora de Lupita

Lupita Nyongo deslumbrou no filme 12 Anos Escravo. O título de nova menina bonita de Hollywood, esse, já ninguém lhe tira.

A hora de Lupita
A hora de Lupita
21 de março de 2014 às 07:00 Máxima

O seu papel como Patsey, a escrava que suporta indescritíveis atos de brutalidade, valeu-lhe um BAFTA para melhor atriz secundária, um prémio da Screen Actors’ Guild e uma nomeação para os Óscares.

 

As pessoas são naturalmente atraídas pelo seu jeito encantador, espírito livre e incrível beleza. Além disso, tem uma tal naturalidade e vivacidade que se torna uma lufada de ar fresco numa indústria saturada de celebridades ocas. Lupita bateu mil outras atrizes que se candidataram ao papel e, agora, a sua súbita ascensão à fama está muito além de tudo o que alguma vez ousasse ter imaginado. “Têm sido tempos maravilhosos para mim”, diz a atriz de 30 anos. “Nos Globos de Ouro, fui apresentada a Leonardo DiCaprio, tiraram-nos uma fotografia juntos e ele foi muito simpático e gentil. Foi como se estivesse a ver a gala na televisão e, de repente, aquelas celebridades entrassem todas na sala. [Sorri] Agora, os meus amigos no Quénia dizem-me que sou mais famosa do que o meu pai [N.R.: o professor Anyang Nyong’o, ilustre senador do parlamento queniano]. Só não sei se ele vai ficar satisfeito com isso!” [Ri]

 

O pai vai ter de se habituar a ser ofuscado pela filha. Lupita Nyong’o (pronuncia-se en-yong-o) vai voltar brevemente ao grande ecrã no thriller a estrear brevemente Non-Stop, em que contracena com Liam Neeson e Julianne Moore. Entretanto, em plena época dos prémios, tem estado a fazer um percurso cativante pelo circuito dos talk shows americanos, em que o seu encantador sotaque, misto de inglês, americano e queniano, só amplifica a sua inteligência, sagacidade e presença de espírito.

 

Nascida no México, onde o pai lecionava na altura (o seu nome resulta do costume queniano de batizar as crianças consoante acontecimentos ou circunstâncias verificados no momento do nascimento), Lupita voltou ao Quénia quando ainda gatinhava e aí ficou até aos 16 anos. Regressou depois ao México porque os pais queriam que aprendesse a falar espanhol, uma vez que também tinha passaporte mexicano. Em seguida, mudou-se para os EUA, onde se licenciou em Cinema e Estudos Africanos no Hampshire College, antes de ser aceite na prestigiada escola de artes dramáticas de Yale, que conta com Meryl Streep, Paul Newman, Sigourney Weaver e Elizabeth Banks entre os seus mais distintos alunos. Lupita concluíra o curso há apenas três semanas quando soube que tinha sido escolhida pelo realizador Steve McQueen para interpretar Patsey. Agora, a sua carreira como atriz parece estar assegurada. Há dez anos, trabalhava como assistente de produção de Ralph Fiennes enquanto este rodava O Fiel Jardineiro, não longe de Nairóbi, onde residia. Quando o realizador lhe perguntou quais eram as suas ambições na vida, Lupita respondeu: “Quero ser atriz.” Steve McQueen hesitou por instantes, suspirou e alertou-a: “Lupita, não representes, a menos que não consigas respirar se não o fizeres.” Ela, porém, nunca teve quaisquer dúvidas.

 

- Lupita, a atenção que os prémios acarretam e a possibilidade de ganhar um Óscar parecem-lhe avassaladoras?

É tudo muito excitante. Estou muito orgulhosa e aliviada por o filme ter sido reconhecido, pois a vida de Solomon Northup merecia ser contada e a sua autobiografia é espantosa e faz parte da história. O meu objetivo era fazer justiça a Patsey porque ela impressionou-o muito e foi deveras importante na vida dele. Senti como uma grande responsabilidade fazer jus à história desta mulher e sinto-me muito feliz por o meu desempenho ter, de certa forma, sensibilizado o público. Dei tudo o que tinha neste papel.

 

- Como foi filmar no Louisiana?

Um calor terrível. Sou africana, mas até eu sofri com as temperaturas no Louisiana. Filmámos no pico do verão e pode imaginar o que foi para mim, para o Chiwetel (Ejiofor) e para os outros atores apanhar algodão no meio de um campo, sob um sol ardente. Mas não nos queixámos porque sabíamos que foi esta a trágica realidade dos escravos que ali trabalharam. Tentei imaginar como terá sido passar 16 horas por dia a apanhar algodão, suportando um calor intenso. Fez-me pensar que aqueles homens e aquelas mulheres eram extremamente fortes e resistentes.

 

- Alguma vez se sentiu mal ao filmar nessas condições?

Tive insónias durante todo o tempo que lá estive. Mas foi menos pelo calor do que pelo facto de ter de me obrigar a ir até onde tinha de ir com a minha personagem e aguentar até ao fim. E foi também o entusiasmo e a felicidade de fazer este filme. Foi a minha primeira longa-metragem, estava a trabalhar com pessoas que admirava imenso e estávamos a fazer uma coisa em que todos acreditávamos e nos empenhávamos bastante. Portanto, levantar-me para trabalhar era uma experiência eletrizante. Foi penoso, mas eu mal podia esperar por cada dia de trabalho porque me sentia privilegiada e honrada por ter a responsabilidade de contar a incrível história desta mulher.

 


- Foi para si uma experiência muito emotiva fazer este papel e ter agora a oportunidade de falar dele?

[Os olhos marejam-se-lhe de lágrimas.] Sou uma chorona. [Solta uma risadinha.] Estou apaixonadíssima por este projeto e pelas pessoas com quem trabalhei e acho que nunca gostei tanto de uma personagem que tivesse interpretado como desta. É tudo tão empolgante, e eu adoro falar disto, mas fico sempre com lágrimas nos olhos. [E os seus olhos humedecem-se novamente.] Meu Deus, sou tão chorona...

 

- Como é que abordou o papel de uma escrava que sofre, mas, não obstante, consegue manter a sua dignidade, apesar de todos os maus-tratos físicos e psicológicos?

Uma das coisas que o livro diz é que Patsey “tinha um ar altivo que nem o trabalho nem o chicote lhe podiam tirar”, e era uma mulher com capacidades extraordinárias. No guião estava escrito que ela era naturalmente sensual, e eu fiquei a pensar naquilo durante algum tempo até que encontrei uma citação de um livro de James Baldwin, The Fire Next Time, em que ele diz: “Ser sensual, creio, é regozijarmo-nos com a força da vida, com a própria vida, e estarmos presentes em tudo o que fazemos, desde o esforço de amar até ao partir o pão.” Para mim, isto foi a chave para interpretar Patsey. Sendo escrava de um senhor irascível [interpretado com zelo implacável por Michael Fassbender], tinha de estar muito presente e pronta para tudo a qualquer momento. Portanto, isso acabou por ser como que uma revelação, ali mesmo, no guião.

 

- Que mais pesquisa fez para o papel?

Visitei o National Great Blacks In Wax Museum, em Baltimore. Quando entrei, deparei-me logo com um fardo de algodão com 250 quilos, que era o que Patsey colhia diariamente. Aquele fardo enorme era bem maior do que eu em todas as dimensões, e eu pensei: “OK, então era esta a altivez daquela mulher, que conseguia fazer isto todos os dias.” O que eu percebi ao preparar-me para o papel foi que, para ela, os maus-tratos eram a norma, e eu não podia ser sentimental, que aquilo era a realidade dela e que a sua dor era algo de que ela estava sempre a tentar libertar-se e não a afundar-se nela.

 

- Quando é que sentiu pela primeira vez a vontade de ser atriz?

Foi muito cedo, no Quénia. Lembro-me de ser ainda uma criança quando vi, pela primeira vez, A Cor Púrpura. Teria talvez uns nove anos e achei interessante ver pessoas que se pareciam comigo, mulheres como a Oprah e Whoopi Goldberg, a trabalhar no filme. Isso fez nascer em mim a ideia de que também eu poderia vir a ser atriz, embora, ao crescer mais um pouco, visse que eram pouquíssimas as pessoas do meu país que conseguiam ganhar a vida com essa profissão. Achei que não iria conseguir fazer carreira se ficasse em África.

 

- Qual foi a sua primeira experiência na representação?

Um grande momento para mim foi quando voltei ao Quénia nas férias da escola que frequentava, o Hampshire College, em Amherst, Massachusetts. Soube por um amigo que andavam à procura de gente para trabalhar nas filmagens de O Fiel Jardineiro, e consegui arranjar trabalho como assistente de produção. Trabalhei durante algum tempo com Ralph Fiennes, e ele foi muito simpático comigo. Tivemos algumas boas conversas sobre a representação e o seu lado comercial, o que foi bastante proveitoso.

 

- Foi por isso que resolveu candidatar-se à Yale Drama School?

Isso foi depois de ter terminado o curso em Hampshire. Voltei a Nairóbi e estava a passar por uma pequena crise pessoal: não sabia o que queria fazer da minha vida. Apesar de saber que seria difícil ganhar a vida sendo atriz, sabia que tinha de tentar, ou arrepender-me-ia para sempre. Assim, decidi candidatar-me às melhores escolas que conhecia nos Estados Unidos, um país que aprendera a conhecer e a amar. Se entrasse, seria um bom augúrio; caso contrário, ater-me-ia a outros planos. Acabei por me candidatar a Yale e ser aceite. Fiquei empolgadíssima, e a minha família e os meus amigos muito orgulhosos por eu ir estudar representação em Yale. E foi mesmo uma das melhores experiências da minha vida.

 

- Como é que acabou a participar nas audições para 12 Anos Escravo?

Foi um mês antes de acabar o curso. A escola estava a autorizar os finalistas a prestarem provas para papéis, o que normalmente não é permitido durante o curso. A minha agente, a Didi Rea, recebeu o guião para uma outra cliente sua, Garrett Dillahunt, que faz o papel de Armsby no filme. Quando ela leu o papel de Patsey, disse-me: “Acho que isto era bom para ti.” Fizemos um vídeo em Nova Iorque e, na semana seguinte, eu ia a Los Angeles, integrada naquilo a que se chama “a montra” de Yale. Já lá estava quando fui chamada para participar no processo de audições mais duro que se possa imaginar. Duas semanas depois, convidaram-me para ir ter com o Steve [McQueen, o realizador] ao Louisiana e fiz a audição seguinte com ele, pessoalmente. No dia a seguir regressei a Nova Iorque e foi quando ele me telefonou a dizer-me que o papel era meu. Nunca esquecerei esse momento.

 

- O seu pai é um distinto académico e político queniano. Acha que ele está orgulhoso de si?

A minha família está espantada com o sucesso que estou a ter. Penso que toda a gente estava com medo que eu achasse esta vida muito dura e voltasse a Nairóbi de vez. É claro que agora me é muito mais fácil explicar que, nos próximos tempos, não vou regressar! [Ri] E as minhas amigas estão excitadíssimas por eu ter conhecido o Leonardo DiCaprio. Publiquei todas as fotos em que estávamos juntos. Estão todas a roer-se de inveja! [Ri]  

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