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Celebridades

Wonder Woman

Depois de meses de preparativos num burocrático tango entre a Máxima e as Nações Unidas, chegámos finalmente ao icónico edifício. A celebrar 15 anos enquanto embaixadora de Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População, Catarina Furtado descobriu na luta pelos direitos humanos a sua verdadeira vocação. Em exclusivo com a Máxima viajou até Nova Iorque, onde partilhou os seus sonhos e desejos numa conversa cujo pano de fundo foi o icónico edifício da ONU. 

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22 de janeiro de 2015 às 08:00 Máxima

Depois de meses de preparativos num burocrático tango entre a Máxima e as Nações Unidas, a organização internacional que luta pela paz mundial e para quem a segurança dos seus membros é lei, chegámos finalmente ao icónico edifício. Ao vivo, com o seu pé-direito pronunciado, rasgado por luminosas janelas, o espaço é tão majestoso e mágico como é retratado nos filmes, mas, acima de tudo, prevalece a emoção de nos sentirmos no epicentro das grandes tomadas de decisão pelo desenvolvimento mundial. Pelos imensos corredores, e apesar da escassez de tempo e stress inerente a uma viagem transatlântica, Catarina caminha firme em saltos altos, parando apenas para saudar alguns rostos familiares – e outros perfeitamente anónimos – que interpelam a embaixadora portuguesa para dois dedos de conversa. Entre reportagem, reuniões e planeamentos de agenda para os objetivos de 2015, o cuidado, a atenção e o sorriso cúmplice com todos os que a rodeiam são uma constante. Nunca parece vencida pelo cansaço. É movida pela paixão e pela energia contagiante. No final de um dia tão longo quanto cheio de emoções, um dos membros da nossa equipa, que pela primeira vez tinha trabalhado com a Catarina, partilhou comigo o quanto estava impressionada: “Ela é uma pessoa especial. É como se deixasse um rasto de felicidade por onde passa.” 

"Acho que tudo poderia ser muito mais simples se a igreja articulasse com algumas ONG's e com os estados de cada país. Teriam os resultados concretos no que diz respeito à vida e à morte."

Não podia estar mais de acordo. Ao longo dos anos, tive o prazer de privar várias vezes com a Catarina Furtado, acompanhando alguns dos momentos cruciais do seu crescimento profissional. Primeiro, como espectadora, quando esta surge como uma lufada de ar fresco na televisão nacional. Depois, profissionalmente, quando nos cruzámos em produções e entrevistas, onde celebrámos a sua maternidade, a sua estreia no teatro, os seus 40 anos ou a fundação da organização sem fins lucrativos Corações com Coroa. Confessar-me-ia mais tarde, quando nos sentámos no concorrido bistrô do Ludlow Hotel, que é exatamente neste tipo de trabalho que encontrou a verdadeira plenitude. E os projetos são mais que muitos. No papel de Embaixadora de Boa Vontade, já viajou por toda a África, testemunhando episódios de pobreza extrema que documentou na série Príncipes do Nada. Mais recentemente, em Portugal, promoveu a campanha internacional Continuamos à Espera, à qual se juntou a Máxima, convidando à participação e entrosamento da opinião pública na discussão urgente de temas relacionados com os direitos humanos. Sabia que todos os dias morrem 800 mulheres por causas evitáveis relacionadas com a gravidez? Catarina Furtado sabe-o como ninguém, vestindo uma capa imaginária de super-heroína que afirma ser diariamente usada por todas as mulheres. O melhor de tudo? Combina na perfeição com os saltos altos com que caminha, firme, em direção a uma e outra causa.  

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A maternidade é o princípio de tudo. Como é possível que, em alguns lugares, todos os dias, seja precisamente o oposto, o momento em que tudo acaba para milhares de mulheres e crianças?

Investir na igualdade de géneros

- As mulheres representam metade da população mundial e, no entanto, representam 70% da população desfavorecida.

- Em cada três adultos, dois são iletrados e são mulheres, representando 64% da população iletrada. A cada minuto do dia, 27 raparigas são forçadas a casar, perfazendo 39 mil por dia.  

- As mulheres representam apenas 21,9% dos cargos no Parlamento e apenas 8% dos executivos no mundo dos negócios. 

- 39000 raparigas são forçadas a casar por dia 

- As mulheres representam metade da população mundial e, no entanto, representam 70% da população desfavorecida.

- Em cada três adultos, dois são iletrados e são mulheres, representando 64% da população iletrada. A cada minuto do dia, 27 raparigas são forçadas a casar, perfazendo 39 mil por dia.  

- As mulheres representam apenas 21,9% dos cargos no Parlamento e apenas 8% dos executivos no mundo dos negócios. 

 

O UNFPA (Fundo das Nações para a População) existe precisamente para que as mulheres tenham gravidezes desejadas, partos seguros e que todos os jovens vejam o seu potencial promovido. Se as gravidezes forem desejadas, certamente as coisas vão fluir de outra forma. A minha maior batalha, no sentido de missão, tem a ver com isto, com a maternidade. É tão fácil falar das crianças, é tão fácil ficarmos com a lágrima no canto do olho, porque são a coisa mais inocente do mundo… Claro que, em primeiro lugar, estarão sempre as crianças, porque são os cidadãos mais indefesos e devem ter os seus direitos reconhecidos, protegidos e promovidos, mas, para todos os efeitos, esquecemo-nos que, por exemplo, no que diz respeito à ajuda financeira, todas as associações que trabalham a área da criança, nomeadamente a UNICEF, têm muito mais apoios. Enquanto Embaixadora das Nações Unidas, tenho de dizer que “estas mulheres já foram bebés e agora estão a dar à luz outros bebés”. Por isso, há que promover este elo interior.

Não imaginas como a minha vida mudou radicalmente quando vi estas mulheres a darem à luz em condições miseráveis. Dizemos que temos de celebrar a vida, mas estas mulheres morrem por dar vida, porque ninguém está lá para as apoiar. Eu já nem falo da humanização do parto, mas fico solidária com aquelas mulheres, muito mais do que com os bebés, porque a partir do momento do parto aquelas mulheres já não têm ninguém que as apoie, o que interessa é a criança. Não deve haver nada pior para uma mãe do que passar muito mal para dar à luz e logo a seguir ver o seu bebé a penar para sobreviver.

Sou católica, mas admito que tenho uma relação difícil com a Igreja… Sou casada pela Igreja, os meus filhos foram batizados e tenho conversas com Deus, mas comecei a distanciar-me em algumas coisas... e ao longo dos últimos 15 anos no terreno ainda me distanciei mais, porque é como se existissem duas Igrejas. Há aquela que diz que “há que promover a não contraceção”. Como é possível achar-se que, nos países em que a Igreja tem uma presença brutal, nomeadamente em Timor, seja possível aplicar a mesma teoria que nos países desenvolvidos? Sítios onde não se tem acesso a cuidados de saúde sexual, a planeamento familiar, a nada. Como é que se podem dizer estas coisas?

Talvez a Igreja não esteja articulada com a realidade do mundo. A verdade é que muitos católicos acabam por contornar e até mesmo ignorar alguns dos princípios da Igreja… Mais do que desajustados, será que não se tornam perigosos?

"Há sempre interesses económicos que prevalecem sobre as vidas. Valeria a pena que a política fosse feita de outra maneira e que os políticos fossem aos sítios ver com os seus próprios olhos. Quando tudo é muito teórico, não toca no coração".

Eu não quero dizer que é um ato criminoso, mas é um ato irresponsável e que vem da Igreja. Mas, depois, no terreno, o que eu vejo é que as organizações não-governamentais religiosas fazem um trabalho organizado e muito sério. São muitas as irmãs e os padres que, entredentes, me dizem: “Aqui para nós que ninguém nos ouve, o planeamento familiar é que era a solução.” Há uma espécie de hipocrisia na Igreja que me incomoda muito porque tenho muitos quilómetros já percorridos que me permitem ter uma visão clara. Tenho muitas recordações de irmãs que têm aquele colo grande, as irmãs do “xi-coração” que, apesar desse pragmatismo, estão a dar colo. Há uma preocupação real com aqueles jovens e aquelas crianças. Na prática, também acho que os fiéis ao serviço da Igreja são completamente diferentes dos missionários. Têm uma escola diferente, são aqueles que sabem que têm de fechar os olhos a determinadas situações, porque sabem que aquilo ali é assim. Acho que tudo podia ser muito mais simples se a Igreja se articulasse com algumas ONG’s e com os Estados de cada país. Seria muito mais fácil ter resultados concretos no que diz respeito à vida e à morte. Certamente, muito menos mulheres morreriam a dar à luz e muito menos filhos morreriam ao nascer ou até aos cinco anos. Ainda ontem me perguntaram qual era o meu maior sonho e eu disse que o meu sonho coletivo era que mais nenhuma mulher do mundo morresse por causas evitáveis ao dar à luz. Não é uma lei natural! É um absurdo afirmar uma coisa dessas. Até porque então seria tudo uma questão de sorte: nasces aqui tiveste sorte, nasces acolá tiveste azar. Não pode ser assim.

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Olhando para trás, para estes quinze anos em que assumiste o desafio de ser Embaixadora, sentes que há conquistas palpáveis?

Investir na saúde feminina 

- Em 2030, meio milhão de mulheres irão morrer de cancro cervical e mais de 98% dessas mortes serão em países em desenvolvimento. 

- 98% dessas mortes serão em países em desenvimento

- 140 milhões de meninas e mulheres sobrevivem a uma mutilação genital

Investir na saúde materna e do recém nascido

- 800 mulheres morrem diariamente por consequências de complicações durante a gravidez ou durante o parto

- 3 milhões de bebés morrem todos os anos 

- 98% dessas mortes serão em países em desenvimento

- 140 milhões de meninas e mulheres sobrevivem a uma mutilação genital

Investir na saúde materna e do recém nascido

- 800 mulheres morrem diariamente por consequências de complicações durante a gravidez ou durante o parto

É evidente que sim. Jamais continuaria a atirar-me de cabeça por estas causas se não sentisse que há frutos e resultados muito concretos. São milhares de pessoas a trabalhar nestas áreas, pessoas que fazem um trabalho seríssimo, que sabem perfeitamente aquilo que resulta e o que não resulta. Depois esbarras muitas vezes com a tal vontade política, porque se os diferentes Governos aplicassem todos os conhecimentos que os investigadores trazem do terreno para as mesas de discussões, para as assinaturas dos acordos, para as conferências mundiais, seria tudo muito mais fácil. Há coisas que evidentemente nos ultrapassam, como as pandemias, as epidemias, as catástrofes naturais...

O mais difícil é constatar que a desigualdade social até se resolveria e a pobreza extrema talvez se diluísse se não existissem tantos interesses económicos...

Há sempre interesses económicos que prevalecem sobre as vidas. Se calhar, valeria a pena que a política fosse feita de outra maneira e que os políticos fossem aos sítios ver com os seus próprios olhos. Quando é tudo muito teórico, não toca o coração. Acho que se eles vissem mais sem ser nas tais visitas de Estado, onde é tudo muito plástico, percebiam como as pessoas vivem, viam realmente as suas dificuldades.

Em teoria, atualmente existem políticas mais humanizadas mas, na prática, não é bem assim. Até a humanização é uma estratégia política e pouco genuína ou emocional.

Talvez seja uma abordagem um pouco utópica, mas sinto que, às vezes, quando falo com alguns políticos com cargos importantíssimos, e que certamente saberão muito mais do que eu, é que há ali qualquer coisa que não passa. Eu pergunto: “Sabe como é que as pessoas vivem nesta tabanca [aldeia]? O que é que esta mulher faz? O que o homem faz? Sabe que a mulher não tem acesso a serviços de saúde?” E eles não fazem ideia. Se calhar, se soubessem, era tudo mais simples.

Investir nas raparigas e nas mulheres Uma reação em cadeia

 1. Melhorar a saúde Mulheres que usam serviços de saúde materna têm uma maior probabilidade de usar outros serviços médicos da área de saúde reprodutiva. 

2. Melhorar a dinâmica familiar Raparigas e mulheres gastam 90% dos seus vencimentos na família, enquanto os homens gastam apenas 30 a 40%. 

3. Fortalecer a economia Garantir que mais 10% de raparigas vão à escola aumenta o produto interno bruto em 3% (média). 

4. Aumentar a produtividade Eliminar as barreiras de acesso ao emprego para mulheres e raparigas pode aumentar a produtividade laboral de alguns países em 25%. 

5. Reduzir a fome  Reduzir as disparidades entre homens e mulheres na agricultura pode retirar entre 100 a 150 milhões de pessoas da fome. 

6. Criar nações sustentáveis Há cada vez mais provas de que empresas geridas por mulheres têm maior consciência sustentável. 

O que nos leva inevitavelmente à antiga questão da relação entre o Género e o Poder. Sentes que faria diferença ter mais mulheres em cargos decisivos? Mais mulheres no poder fariam do mundo um lugar mais justo?

Tenho a certeza absoluta! Acredito mesmo que mudaria o mundo. Ainda há a ideia de que a oportunidade de trabalhar nesta área foi uma coisa que me caiu do céu. Na verdade, quando me convidaram [para ser Embaixadora], nem fazia ideia do que era o Fundo das Nações para a População, só conhecia a UNICEF. Ainda não era mãe. Fui estudar estas matérias e percebi que o convite era, de facto, um enorme privilégio. E cada vez me apercebo mais do que esta equipa, que é muito mais pequena do que a da UNICEF, faz, com um comprometimento em relação a temas que são dificílimos. São as tais “coisas das mulheres”, as tais coisas que, às vezes, esbarram nas dos homens. Fiquei tatuada. Mesmo que as Nações Unidas desistam deste “cargo”... E essa é uma hipótese falada, porque a verdade é que a maior parte dos embaixadores não faz muito… A nível europeu, eu e a embaixadora belga somos consideradas as mais ativas no terreno. Mas, mesmo que desistam, eu nunca vou desistir.

A verdade é que, ao contrário do que gostaríamos, estes temas são difíceis de comunicar, por ser complicado adotar um discurso que corte com o tom mais institucional ou politicamente correto. Estamos a chegar a todas as pessoas? Às novas gerações? Ou continua a ser um discurso muito hermético?

Há quinze anos, quando comecei a trabalhar estas questões, não tinha noção que, dentro da esfera mediática, se falasse sequer da igualdade de género, mas começou a ser um tema mais recorrente. Por exemplo, nunca a violência doméstica esteve tão na ordem no dia. Na altura pensei: “Como é que vou falar com a imprensa sobre saúde sexual e reprodutiva?” Vão achar “que coisa mais entediante, que coisa menos sexy”, porque, apesar de ser sexual e reprodutiva, é tudo menos sexy. É preciso ser-se criativo para conseguir passar uma mensagem. Às vezes é preciso “fazer o pino”. Passados quinze anos, penso muitas vezes na necessidade de arranjar outro léxico, outra forma – mais inclusiva – de abordar estes assuntos, nomeadamente entre os homens.

É aquela velha ideia de serem apenas “coisas de mulheres”. Grande parte destas questões deixará de ser um problema no dia em que se tornarem “coisas de todos”.

Sim, mas há outros direitos com os quais eles não se mostram tão sensibilizados. Por exemplo, com o facto de não chegarmos a CEO’s, a administradoras...

Um estudo recente, publicado na revista The Economist, revela que CEO’s pais de raparigas têm, em comparação com CEO’s pais de rapazes (ou sem filhos), uma gestão completamente diferente no que toca às questões de igualdade de género.

Não sei… Acho que as mulheres são cada vez mais solidárias comigo. Começo a agregar muitas cumplicidades femininas (até porque não defendo nada aquela tese de que as mulheres são más umas para as outras). Eu juro-te: não tenho essa característica! Nós somos difíceis, somos mais picuinhas, temos leituras diversas sobre a realidade e somos complicadas, mas eu sou apaixonada por mulheres, pelo “ser” mulher. Do ponto de vista psicológico, sei que as mulheres podem ser muito violentas e a violência psicológica até é mais praticada pelas mulheres do que pelos homens, ao contrário da violência física. Há uns tempos, tive uma conversa com o Ricardo Simões, Presidente da Associação Portuguesa para a Igualdade Parental e Direito dos Filhos, que se mostrou indignado porque acha que o Governo, ao dar mais atenção do que nunca à violência doméstica, está só a pensar nas mulheres. E ele dizia que, no meio de tudo isto, se estão a verificar imensas queixas oportunistas de mulheres que apanham “boleia” deste movimento. O que lhe disse foi que as coisas têm de ter princípio, meio e fim, e a verdade é que não se estava a dar importância a este assunto. Agora, é evidente que é preciso estar atento e proteger também os homens. É preciso falar destas coisas. Tem muito a ver com a ignorância… Quando não se conhece, não se defende. E há muita coisa que não é noticiada, por exemplo, a questão dos salários: a disparidade entre homens e mulheres na mesma função (na UE, anda à volta dos 15% e, em Portugal, é de 18%). A questão, às vezes, nem toca as mulheres. Há muitas mulheres que não são feministas.

A palavra “feminista” acarreta por si só algum preconceito, mesmo entre mulheres. A certa altura tornou-se impopular, associada a mulheres agressivas, pouco femininas e anti-homens. É também uma questão de ignorância. Se uma pessoa defende a igualdade de oportunidades no acesso a cargos de administração, muitas mulheres socorrem-se da ideia de que “isso terá de ficar em segundo ou terceiro plano, depois da vida familiar e dos filhos”.

Ou seja, parece que ao desejar essa igualdade a mulher está a destituir-se do seu papel de mãe. Mas uma coisa não invalida a outra! Até os homens acham que, para as mulheres conseguirem isso, têm de abdicar da vida familiar. Isso não é verdade. Esta é também uma oportunidade para os homens poderem abraçar a vida familiar de outra forma. Não está escrito em parte nenhuma do mundo que a mãe é mais importante do que o pai. O que está escrito é que os filhos têm de crescer com amor, que precisam de equilíbrio, de ser amados. Essa é a prioridade. E, infelizmente, à conta de muito sacrifício, também está provado que as mulheres conseguem conciliar a vida profissional com a vida pessoal, mas com grandes desvantagens. Em Portugal, até temos algumas leis simpáticas, mas as empresas não as praticam e as mulheres não recorrem a elas. As mulheres acham que é mau e, às vezes, têm medo que a sociedade as penalize por fazerem determinadas escolhas. Há aqui um lado social. Enquanto estes estereótipos não forem atropelados de vez, as coisas não mudam.

Que, acredito, nas novas gerações já não se sintam tanto…

Nas novas gerações talvez não, porque, como ambos os géneros estão a sentir as consequências do desemprego, assim é mais fácil que esses papéis comecem a dissipar-se. Quanto mais informação melhor. Depois são precisas estratégias para conquistar os homens para esta causa. Mas é difícil, eu própria dou comigo a pensar: “Pronto, lá estou eu com as coisas das mulheres.” Pedi ao João, o meu marido, para fazer uma lista daquilo que ele considerava serem “coisas de mulheres” e “coisas de homens”. Ele fez essa lista. Coisas de homens: comprar jornais desportivos, olhar descaradamente para onde não devem, sair com os amigos para falar sobre trivialidades, lavar o carro mesmo quando não é preciso, não assumir que dão importância à sua aparência, sentirem-se incomodados com a inteligência de algumas mulheres (isto é absolutamente verdade), ter vergonha de chorar, queixar-se muito quando o termómetro passa os 38°, nunca fechar a tampa da sanita, achar que o champanhe é bebida de senhora, gostar de petiscos, gabar-se das conquistas mesmo quando são insignificantes (acho esta brilhante… porque, para nós, as conquistas nunca são as suficientes). Coisas de mulheres: são gentis, mais benevolentes e mais distraídas na condução, no futebol torcem pela seleção, não toleram o alarvismo, não saem com as amigas para falar sobre o casamento e os namorados das outras, têm mais resistência à dor em geral, disfarçam melhor quando olham descaradamente, não suportam os gabarolas, acham-se muitas vezes preteridas por questões de género (lá está, “acham-se mesmo preteridas” como se não fôssemos realmente preteridas). E eu sorri, esta era a lista de um homem informado...

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Há um reality show americano em que o dono da empresa começa a trabalhar infiltrado, a partir dos cargos mais baixos, para perceber como se comportam os seus colaboradores. No final, alguns percebem que os seus funcionários são fantásticos e outros que, afinal, está tudo errado. Seria interessante criar qualquer coisa parecida com isto, para as pessoas perceberem na realidade as diferenças e as injustiças no terreno… até mesmo na área da solidariedade.

Quem me dera poder fazer algo do género! Continuando a lista do João: as mulheres toleram melhor as diferenças, ficam alarmadas quando os filhos preferem as escolhas do pai (eu fico, esta foi uma boca para mim), não gostam de ver barrigas proeminentes a não ser em mulheres grávidas, são mais românticas (e tudo isto é relativo, é o que ele acha que os homens acham). Também é importante dizer que nem todas as mulheres representam as mulheres, nem todos os homens representam os homens.

Investir na Educação  

31 milhões de raparigas que frequentam o ensino primário nunca chegam a frequentar o terceiro ciclo. 

 

31 milhões de raparigas que frequentam o ensino primário nunca chegam a frequentar o terceiro ciclo. 

Claro, e as mulheres podem representar os homens e os homens podem representar as mulheres…

Esse é um ideal feminista. Por exemplo, o discurso da Emma Watson é um discurso antiquíssimo. A abordagem diferente é a juventude dela, mas, se reparares, ficamos deprimidos a pensar: “Então vamos ter de voltar a dizer isto tudo?”

Acredito que sim. Até que a questão da desigualdade de direitos se dilua por completo, ao longo de várias gerações, temos a responsabilidade de passar conhecimento à geração seguinte. Os comportamentos sociais abusivos são cíclicos, a luta contra a injustiça também tem de o ser. E sabemos demais da História para concluir que as mudanças não acontecem de um momento para o outro.

Planeamento familiar e saúde reprodutiva

-  222 milhões de mulheres em países em desenvolvimento têm uma necessidade de apoio familiar que não é preenchida e 162 milhões dessas mulheres moram nos países mais pobres. 

- A falta de serviços de planeamento familiar leva a 80 milhões de gravidezes não planeadas, 30 milhões de nascimentos não planeados e 40 milhões de abortos em cada ano. 

- Por cada dólar gasto em planeamento familiar, 6 dólares são poupados. 

 

No fundo, continuamos à espera que as coisas mudem, que alguém tenha de facto coragem para mudar. Porque, às vezes, é uma questão de coragem. Há um tempo, alguém dizia que era por medo. Eu não sei se é, mas há uma coisa de que tenho a certeza: não chegamos lá, a essa terra da igualdade, se eles, homens, não deixarem. Não há outra hipótese. E depois há aquelas coisas que eu dei por mim a não querer e agora acho que são veículos para chegar lá, como as quotas, do ponto de vista da participação das mulheres na política.

Qualquer medida extrema ou impositiva acarreta sempre alguma injustiça… Talvez seja um mal necessário para chegar a um fim maior.

Se os resultados não fossem visíveis nos outros países, nomeadamente nos nórdicos, também teria reservas, mas a verdade é que, infelizmente, somos avaliadas pelo nosso triplo esforço. Nós precisamos de um triplo salto para chegar a algum lado, eles precisam de um único salto. E, no nosso caso, o primeiro salto não conta, o segundo também não conta e ao terceiro lá dizem “ok, está bem, ela esforçou-se”. Não nos é dada essa escolha, temos de acumular 30 mil funções por dia para podermos chegar a algum lado e nós ainda achamos natural esta multitask, este “canivete suíço” que somos. E há muitas mulheres inadaptadas, inúteis, tal como muitos homens. Mas o poder está neles e eles têm de ter noção que depende deles abrir a porta para que nós possamos passar. Estas questões estão resolvidas através das leis de proteção de trabalho. Por exemplo, em alguns países, as mulheres trabalham imenso, com funções importantíssimas, mas em casa, com horários facilitadores e compatíveis com a maternidade. Se isto é possível noutros países, que também têm outros problemas por resolver, também tem de ser possível no nosso.

Como figura pública, estás habituada ao facto da tua vida, pessoal e profissional, estar sempre sob os holofotes. Questões sobre a tua remuneração já foram sobejamente colocadas tanto a ti como à administração do canal televisivo onde trabalhas. Respondeste de forma clara. A questão que coloco agora é diferente: tendo o canal televisivo nacional alguém com o teu valor e a tua projeção, com uma forte ligação a causas humanitárias e às próprias Nações Unidas, como não tira mais partido disso? Não deveriam estas causas ser também uma prioridade e um serviço público prestado pela RTP?

[Silêncio] Eu até agradeço essa pergunta, mas não tenho resposta. A verdade é que os Príncipes do Nada nasceram quando ainda estava na SIC e esse desafio [para ser Embaixadora] foi-me feito porque andavam à procura de figuras públicas que, através do seu dia a dia e do seu comportamento, mostrassem interesse nestas questões. Eu nas minhas entrevistas sempre falei destas questões, das diferenças, da desigualdade. Foi uma preocupação que veio da minha mãe, por ser professora de Educação Especial, e do meu pai, por ser jornalista e me trazer muitas histórias do Mundo. Se calhar, nas entrevistas, isso saltava à vista e perceberam que eram preocupações genuínas. Este é um trabalho paralelo, voluntário, e que depende muito da minha energia, da vontade que eu tenho de pôr as coisas em pé. Por exemplo, em 15 anos, a única missão que fiz e cuja viagem foi paga aconteceu logo no início, quando fui a Moçambique. Tudo o resto que fiz paguei do meu bolso. Só eu e eles é que sabemos o que dei e o que não dei, e não tenho de fazer essa exposição. Tive de arranjar uma estratégia. Mas se pensarmos no trabalho de uma Angelina Jolie (e temos de falar nela porque é emblemática e seríssima no trabalho que faz, mas também tem todos os meios ao seu alcance...) sabemos que ninguém lhe vai perguntar, como já me perguntaram: “Então você anda a ajudar os refugiados e ganha tanto?” Isso é absolutamente ridículo e hipócrita.

Nós temos uma carta onde estão os princípios da nossa missão que nos temos de comprometer a cumprir, como o trabalho para a imprensa, a angariação de fundos para gerir o projeto, o trabalho com os jovens, a advocacy (que é um trabalho muito interessante, onde atuamos junto dos decisores políticos e temos de arranjar estratégias para comunicar estes assuntos). No início foi dificílimo. Ainda por cima, “boa vontade”, que eu acho um termo lindíssimo, depois tem uma conotação de “caridadezinha” feita por quem vive bem e recebe um bom ordenado. A imprensa não tem conhecimento de grande parte das coisas que faço, porque são feitas para ter argumentação na tal advocacy.

Depois, há o outro lado, que tem a ver com o meu público. Na altura, era o Nuno Santos que estava à frente da direção, e foi numa decisão conjunta com ele que eu e o Ricardo Freitas [autores dos Príncipes do Nada] decidimos fazer este programa. É um programa que não se encerra nos projetos do UNFPA e que não é só sobre a minha missão enquanto embaixadora, mas sim sobre os voluntários portugueses espalhados pelo mundo e sobre as organizações não-governamentais que fazem um trabalho excecional e que são um complemento determinante em relação aos Estados locais. Achei que era muito importante e tenho muita pena que este projeto não continue no serviço público e que não existam outros formatos em que este meu lado seja mais utilizado. Tenho imensa pena.

Nos Príncipes do Nada, eu e o Ricardo Freitas decidimos que nunca deixaríamos um rasto de tristeza, mas sim um raio de esperança e de otimismo. Eu e o Ricardo Freitas brindámos de comoção quando, depois da primeira série, o número de voluntários aumentou já nem sei em quantos por cento. Isto para mim é tão importante, tão significativo e vale tanto a pena. Depois também tenho a “vantagem” de não ter carteira profissional e, assim, poder partilhar as minhas emoções… Neste registo não há ninguém que o faça. Há jornalistas maravilhosos, a fazer trabalhos maravilhosos, mas este registo mais ninguém tem e acho que há aqui um pudor qualquer em mostrar as dificuldades em que as pessoas vivem, porque, se calhar, estamos numa altura em que as pessoas querem ser mais entretidas do que informadas.

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Mas há formas inteligentes de o fazer… e informação de qualidade não tem de ser "chata", pelo contrário, deve despertar as atenções e tocar as pessoas.

As pessoas precisam de uma inspiração qualquer. Há outra coisa muito importante, uma coisa muito portuguesa e muito má, que é não olharmos além do nosso país por estarmos a viver aquilo que estamos a viver. Isso é errado e, infelizmente, de uma forma um bocadinho perversa, até nos dá o contraponto, que é: sim, nós estamos a passar por coisas terríveis, mas reparem no que os outros países estão a passar. Quando digo isto, falo na nossa obrigação enquanto Estado de fazer cooperação. Para mim, isso é fundamental. Temos de ver o mundo como um todo, porque se deixarmos de o fazer, então é que vamos ficar cada vez mais centrados em nós próprios. Não podemos deixar que isso aconteça. Não é isso que queremos. Aliás, os Príncipes também refletiam a realidade de Portugal. A Corações com Coroa nasce em Portugal… Acho que uma coisa não invalida a outra. O pensamento que “se dermos para ali já não damos para aqui” é muito pequenino. E efetivamente muito pouco solidário. Solidário para mim é abrir os braços e não os fechar.

A diplomacia e as grandes organizações internacionais ainda podem ser uma das melhores formas de mudar o mundo, mas fica difícil acreditar nessa mudança quando à nossa volta temos inúmeros casos de corrupção e desonestidade. Como sentes e defines esta realidade?

No outro dia apanhei um táxi e o motorista só me dizia: “Já viu isto? No meu tempo não era assim, agora já não se pode confiar em ninguém.” E eu fiquei logo assustada, porque “esse tempo” remetia para Salazar e para a ditadura e eu, francamente, acho que, felizmente, não estamos nesse tempo. Mas esse senhor deixou-me a pensar. A ignorância é o nosso pior inimigo, mas, às vezes, a simplicidade numa avaliação pode representar um princípio de qualquer coisa. Ele dizia-me: “Oh menina, já não há estadistas como deve ser, já não há políticos sérios, comprometidos com a política. Sabe uma coisa, antigamente o dinheiro não era tão importante, porque nós vivíamos mais ou menos mal, mas emprestávamos dinheiro uns aos outros e hoje em dia já ninguém tem essa capacidade.” E isto é verdade. Eu não vivi no antigamente, mas o não arriscar e não nos entregarmos a alguém… até no amor isso se sente. E ele dizia que o problema era a ganância. E de facto é verdade: a ganância é o maior mal do mundo. O teres pouco e quereres ter mais, o teres muito e quereres ter imenso.

Quando visito aqueles países não quero de todo dizer “eles são felizes assim”. Não suporto as pessoas que dizem “ai, são tão queridos, todos a rir”. Isso é de um paternalismo que me dá nojo. O que eu queria dizer é que eles, de facto, nem sabem desejar ter mais. Entre o oito e o 80, há aqui um estado qualquer que temos de encontrar. Eu ainda não cheguei ao ponto de precisar de retiros, não tenho nada esse lado esotérico, mas há aqui um ponto de equilíbrio que tem mais a ver com os ricos, com quem tem bastante dinheiro e poder. Adorava perceber o que é que muda dentro de uma pessoa que ganha poder. Quimicamente algo tem de mudar, porque a pessoa fica com um comportamento diferente.

Quem me dera acreditar que tudo fosse uma questão química. Um comprimido podia ser a salvação contra a corrupção no mundo! [Risos] Mas é por demais evidente que a maioria senão todas as pessoas que atingem posições de poder, mudam o seu comportamento. Mas será que essas características negativas que observamos são a causa ou a consequência?

Sim, é preciso ter vontade de poder. Aquilo que constato é que as pessoas que acabam por ter poder como consequência natural da sua carreira, mas que nunca o ambicionaram, também não o exercem de forma abusiva. Por outro lado, aqueles que sempre quiseram ter poder têm estes buracos enormes. Há de facto uma crise de missão coletiva. Quem tem o poder para decidir as nossas vidas tem de ter a necessária consciência de que está a decidir as vidas de todos. Eu vivo bem e assumo que vivo bem, mas estou preparada para mudar de vida se assim tiver de ser. Para mim, o mais importante são as pessoas. E onde eu vou buscar mais energia e mais retorno é nas pessoas, pela forma como, à minha escala, posso mudar a vida das pessoas. Nada me dá mais energia, nada me dá mais prazer (a não ser os meus filhos). Mas é legítimo que outras pessoas, mesmo enquanto figuras públicas, ponham a sua energia no seu próprio umbigo. Não condeno isso. É uma escolha pessoal. Por exemplo, a Cristina Ferreira faz um trabalho extraordinário, do ponto de vista de ascensão. É um furacão e isso é admirável. Mas gostava que houvesse mais gente a canalizar energia para os outros. No meu caso, só isso me faria feliz. Não conseguiria viver só em função das minhas conquistas pessoais. E quero muito que os meus filhos sejam assim, mas melhores do que eu.

Como geres esse papel de mãe?

Há uma boa parte que, muito francamente, acho que nunca vou controlar. Quando os filhos nascem percebemos uma coisa cruel: o facto de eles não serem nossos. Isso é muito duro. Esta relação pais/filhos é sempre muito desequilibrada, porque eu quero sempre mais atenção por parte dos meus filhos do que aquela que dou aos meus pais (embora tente gerir isso o melhor possível). Damos o amor dos pais como adquirido e com os nossos filhos estamos sempre a tentar comprová-lo… Depois, talvez seja tudo mais equilibrado com os netos. A única vez que sofri muito do ponto de vista afetivo foi com a morte dos meus avós. Hoje, acho que os meus filhos até compensam afetivamente os avós. É a tal cadeia. Vendo bem, as coisas até estão mais ou menos bem organizadas.

De que forma promoves e instigas nos teus filhos essa consciência cívica e humanitária?

Tento sempre dar o exemplo, mas admito que, às vezes, também recorro à frase batida: “Vocês vejam lá, têm sorte.” E quando eles terminam a frase por mim percebo que tenho de recorrer a outro argumento. Mas acho que têm mais consciência sobre estes assuntos do que, por exemplo, muitas das crianças com quem estudam. Às vezes têm um bocadinho de ciúmes… Mas também são altamente generosos. Eu quero mais do que isso, quero que sejam pró-ativos. Uma das coisas mais negativas na nossa sociedade é o facto de não sermos muito pró-ativos, devíamos ter uma capacidade de mobilização muito maior. Até podemos continuar desta forma pacífica, mas devíamo-nos insurgir mais vezes em relação aos nossos direitos e deveres. Somos pacatos demais, somos demasiado “deixa andar” e um bocadinho comodistas. Penso que somos emocionalmente ricos, temos disponibilidade para amar, mas também temos disponibilidade para sermos enganados e temos aquela coisa de estarmos ainda à espera de D. Sebastião.

Durante anos desdobraste-te em diversos papéis: apresentadora, atriz, escritora, ativista… Sentes que agora, depois dos 40, uns conquistaram definitivamente mais terreno aos outros?

A Corações com Coroa nasceu há dois anos e meio e tenho um orgulho imenso no que uma equipa de quatro pessoas fez: vamos para a sétima bolsa de estudo, temos projetos incríveis no terreno. Mas há um outro lado que é, de repente, do nada, até nas reuniões de Assembleia (que são invariavelmente à noite), dá-me um soluço... a vontade de representar. O mal das pessoas a quem a vida felizmente tem corrido bem e são puxadas para determinados projetos é que, depois, têm mais dificuldades em pôr de pé os seus sonhos. E não é por inércia, porque eu até sou bastante “arregaçadora” de mangas. Mas sinto tanta vontade de representar… A Cidade Despida foi, para mim, um curso de psicanálise de borla, porque me preencheu de uma forma incrível enquanto atriz e exigiu de mim um despojamento total, até em termos de imagem. Foi um projeto muito feito por mulheres e foi muito importante para mim. E, por isso, às vezes, dá-me esse soluço de ansiedade do tempo passar, porque eu tenho muito terror do tempo, muito terror da morte.

Acreditas em Deus. Acreditas na vida depois da morte?

Não sei. Sei lá, acho que Deus tem lá um esquema montado… espero eu. O meu filho também me perguntava como ia ser quando fosse para o céu, se lá podíamos estar todos de mãos dadas. Eu disse-lhe “Claro que sim” e ele respondeu: “Então, se dermos as mãos, os brinquedos que eu levar caem cá em baixo” [risos]. Não sei se acredito, mas tenho pavor, tenho pavor do passar do tempo, porque quero representar e fazer mais documentários. Gosto muito de televisão e gosto muito de entretenimento (desde que não seja “big brotheriano”, um conceito que acho muito nocivo)... Ainda esta semana estava a ver as audiências e o programa mais visto pelas crianças é a Casa dos Segredos. Acho que tem de ser feito um trabalho urgente por terapeutas, psicólogos… porque estes são os miúdos que vêm a seguir. É uma coisa inacreditável, muito grave, e isto já não é uma questão de preconceito, trata-se de valores. Vou ser muito conservadora no que diz respeito a esta questão: acredito que as mulheres têm ali uma exposição e um estigma muito maiores. Mas, para as miúdas novas, aquilo é um exemplo a seguir e isso é muito preocupante.

Imagino que tenhas noção da tua importância como role model, junto de várias gerações de mulheres. Essa imagem de “supermulher” não é um bocadinho perversa? Não acaba por ser uma forma de “violência” para as mulheres que, apesar de te verem como inspiração, não conseguirão atingir esse patamar?

Para começar, acho que existem supermulheres, onde eu, com toda a imodéstia, estou incluída. Onde a maior parte das mulheres que conheço estão incluídas. Eu tenho esse outro lado, da exposição, que me obriga a ter uma consciência mais exata daquilo que represento quando sou exposta pela imprensa. Mas, de resto, acredito que as mulheres de uma maneira geral são todas supermulheres, porque achamos que, para conseguirmos conciliar a vida pessoal e profissional, temos de ser uma supermulher. Porque é que achamos isso? Porque estamos habituadas a ter superpoderes, ou seja, a achar que tudo aquilo que fazemos com um esforço imenso só pode ser fruto de um superpoder. E desvalorizamos o nosso trabalho do dia a dia. Por isso, acho que todas as mulheres são supermulheres, porque elas não têm consciência daquilo que fazem para gerar e gerir essa vida à sua volta. Mas tenho de fazer uma declaração de justiça para com o meu marido: se todas as mulheres tivessem alguém com quem partilhar de facto a vida, seria muito mais fácil. Tudo flui melhor. Por exemplo, eu não tenho tempo de ir ao supermercado, faço outras coisas lá para casa, e ele vai ao supermercado. É um exemplo rudimentar e estúpido, mas é um exemplo. Acho que não faço nada mais do que as outras mulheres, tenho é sorte de partilhar a minha vida com alguém que a torna mais fácil. Por outro lado, é evidente que posso pagar a uma empregada. Mas não é fruto de mais nada do que querer que as coisas resultem. Também sou muito organizada e rigorosa com os tempos e acho que tudo é possível. E depois há outra coisa que pode parecer tonta, mas eu adoro “gostar” e, portanto, é fácil ter sempre à minha volta pessoas que também gostam de mim. Isso agiliza muito as coisas. É raro ter uma antipatia, gosto realmente de estar cá, de andar cá, gosto muito de pessoas. Estamos aqui, juntas, neste trabalho, neste momento, e não podemos nunca desvalorizar esta reportagem que acabámos de fazer. Temos de acreditar que cada momento faz sempre a diferença.

A Máxima agradece à ONU todas as facilidades concedidas.

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