A segunda passagem da cantora norte-americana por Lisboa deixou-nos algo intrigadas ou até mesmo confusas. Se num momento Cyrus provocava o seu público pré-adolescente com referências a sexo e drogas, no momento seguinte fazia apelos para ajudarmos animais sem lar. Os dançarinos tão depressa estavam vestidos de Mount Rushmore como de isqueiro. Miley Cyrus tanto cantava “Love, Money, Party” com um coordenado que pouco deixava à imaginação, como aparecia coberta da cabeça aos pés para interpretar a balada “Adore You”.
Este concerto em pouco ou nada teve a ver com a passagem da cantora pelo Rock in Rio Lisboa 2010. Se há quatro anos a Bela Vista não esgotou por cerca de duas mil pessoas, desta vez a MEO Arena nem tinha metade da sua lotação ocupada, mas uma coisa é certa, os poucos fãs que estavam no domingo à espera de Cyrus fizeram mais barulho que em 2010. O delírio dos fãs (e dos pais aborrecidos) acompanhou na perfeição um espectáculo visualmente muito estimulante, cheio de cor e luz, que nos encheu as medidas.
Em relação ao alinhamento da Bangerz Tour, dominado sem questão pelo álbum “Bangerz”, abriu a atuação com “SMS”, que pôs imediatamente todo o público a mexer, seguida pelos ritmos country de “4X4”, seguindo para o hip-hop de “Love Money Party”.
Na noite escolhida para filmar o DVD, duas músicas “#GET IT RIGHT” e “On My Own” foram gravadas duas vezes, o que acabou por quebrar a fluidez do espectáculo. Rapidamente compensadas pelas agradáveis surpresas que foram as covers de “There Is A Light That Never Goes Out” dos The Smiths, “Summertime Sadness” de Lana Del Rey (a mais aplaudida), “Hey Ya” dos Outkast, “You’re Gonna Make Me Lonesome When You Go” de Bob Dylan, “Jolene” de Dolly Parton, “The Scientist” dos Coldplay, passando por “Lucy in the Sky with Diamonds” dos Beatles, que nos fazem contemplar a sua voz, escondida por de atrás de tanta controvérsia. Se pensávamos que os fãs não poderiam ficar mais histéricos, um primeiro encore com os temas mais esperados da noite “We Can’t Stop” e “Wrecking Ball”, provou-nos o contrário.
Para fechar as sensivelmente duas horas e meia de concerto, “Party In the USA” fez-nos pensar que, polémicas à parte, Miley Cyrus é uma figura incontornável do mundo da música e uma entertainer como não se vê todos os dias.
Fotografia: Everything Is New, Getty e Instagram