Globos de Ouro 2025 e o reconhecimento de Demi Moore que demorou 45 anos a chegar

A atriz recebeu o prémio de melhor atriz num filme de comédia ou musical pelo seu papel no filme "The Substance", uma interpretação magistral que é, talvez, demasiado próxima da vida real para ser confortável. Seja por isso ou pelo seu enorme talento, Moore recebeu, finalmente, o primeiro galardão da sua carreira.

Foto: Getty Images
06 de janeiro de 2025 às 13:02 Madalena Haderer

Em mais de 45 anos de trabalho como atriz, Demi Moore recebeu o grande total de zero prémios. Ao ouvir o seu discurso de aceitação do Globo de Ouro para melhor atriz num filme de comédia ou musical, uma pessoa quase tem vontade de a corrigir. Certamente que está enganada. Como assim? Então e os filmes Proposta Indecente, Uma Questão de Honra, Ghost - O Espírito do Amor, Revelação, A Jurada, G.I. Jane, Striptease? Filmes que ajudaram a definir o Zeitgeist da cultura popular da década de 90. Filmes pelos quais foi aclamada e contracenou com alguns dos maiores atores de Hollywood, como Robert Redford, Michael Douglas, Patrick Swayze, Donald Sutherland, Alec Baldwin, Viggo Mortensen, Burt Reynolds. Filmes favoritos por milhões de pessoas e, no entanto, nenhum deles mereceu à atriz um reconhecimento público do seu talento.

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A travessia no deserto chegou ontem ao fim, quando uma visivelmente chocada Demi Moore recebeu o Globo de Ouro partilhou uma história antiga que moldou muito do que foi o seu percurso profissional: "Há 30 anos um produtor disse-me que eu era uma actriz-pipoca. A leitura que eu fiz desse comentário foi que isto [apontando para o prémio] era algo que eu não podia ter. Podia fazer filmes bem sucedidos, que faziam muito dinheiro, mas não podia ser reconhecida por isso. Convenci-me que era verdade. E isso foi-me corroendo, ao longo do tempo, ao ponto de, há uns tempos, ter começado a pensar que talvez o meu trabalho tivesse chegado ao fim, talvez já tivesse feito o que era suposto fazer. E quando estava nessa fase mais negativa da minha vida, aterrou na minha secretária um guião mágico, ambicioso, corajoso, fora da caixa e absolutamente de doidos, chamado The Substance. E o universo mostrou-me que, afinal, o meu trabalho ainda não tinha chegado ao fim."

Foto: Getty Images

Mais à frente, depois de agradecer a todas as pessoas que acreditaram nela para este projeto e às que a têm acompanhado nos últimos 30 anos e que continuaram a acreditar nela mesmo quando ela deixou de acreditar em si própria, Demi Moore terminou deixando uma mensagem de esperança, coragem e perseverança, que acredita ser a mensagem do filme e que é válida não só para atrizes, mas para todas as mulheres: "Num daqueles momentos em que não acreditamos que somos suficientemente inteligentes, bonitas, magras, ou bem sucedidas, ou que, muito simplesmente, sentimos que não estamos à altura [do desafio], uma mulher disse-me o seguinte: 'Nunca serás suficiente, mas poderás saber o teu valor se simplesmente largares a fita métrica [ou seja, se parar de se comparar com os outros]'."

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The Substance, escrito, realizado, co-editado e co-produzido por Coralie Fargeat, é um filme de comédia negra e terror psicológico sobre uma celebridade (Demi Moore) em decadência que decide tomar uma droga à venda no mercado negro que cria, temporariamente, uma versão mais nova, bonita e melhorada dela própria (interpretada por Margaret Qualley). Os efeitos secundários são inesperados e perturbadores. Recebeu o prémio de Melhor Argumento no Festival de Cannes e foi nomeado para cinco Globos de Ouro, incluindo na categoria que deu a vitória a Demi Moore.

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