Sexo durante a menstruação ainda é tabu?
Um conjunto de novos filmes e séries está a desafiar a forma como se encara a sexualidade durante o chamado período. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades em relação ao sangue menstrual, mas o futuro parece acontecer gota a gota.

"Mas ainda existe ainda algum tabu em relação a isso!?", perguntou uma amiga quando lhe contei que estava a escrever uma reportagem sobre sexo durante o período menstrual. Na sua experiência, e em duas décadas de vida sexual ativa, somente um homem havia demonstrado algum tipo de incómodo, mas, ainda assim, a hesitação não foi o suficiente para que desistisse do ato. Ao que parece, a minha amiga está à frente do zeitgeist: nos últimos anos, cenas de sexo em que a mulher está com o período apareceram em filmes e séries de sucesso como Fair Play (2023), Saltburn (2023), O Souvenir Parte II (2021), I May Destroy You (2020), Saint Frances (2019) e American Honey (2016).
A indústria de Hollywood não está de todo errada: os mais jovens costumam, sim, fazer sexo durante o período menstrual, até porque ainda se acredita que assim se está protegido de uma eventual gravidez. "É frequente a crença de que não há risco de gravidez nessa altura. E realmente é um risco pequeno, uma vez que o sangramento é consequência do desprendimento do endométrio, e sem o endométrio, não há gravidez. No entanto, é possível ovular no fim do período, então este é um método contracetivo pouco eficaz", explica a sexóloga Vânia Beliz.


O senso comum também diz que o sexo durante a menstruação é mais prazeroso para a mulher, mas esta também é uma meia-verdade: "O sangue no canal vaginal faz com que a lubrificação seja maior, mas não ocorre necessariamente maior excitação, isto é apenas no período fértil. Pelo contrário, muitas mulheres preferem evitar o sexo durante esta fase do mês porque sentem dores ou desconforto", continua.
No entanto, a grande maioria da população ainda é conservadora em relação ao tema. "Nos últimos anos, isso tem mudado um pouco, mas a passos muito lentos. Não há comunicação sexual entre o casal que é formado por um homem e uma mulher. Mas, entre lésbicas, é muito diferente, além das duas passarem por essa experiência todos os meses, também costumam conversar mais em geral", relata Ana Carvalheira, professora do ISPA - Instituto Universitário de Ciências Psicológicas.

A História mostra que o preconceito com o sangue menstrual não é de hoje. E tampouco é algo exclusivo de uma crença cultura ou etnia. "Os aborígenes da Austrália acreditavam que uma mulher menstruada se tornava tão contagiosa que não podia aproximar-se de alguém ou de algum objeto útil. Os anglo-saxões não permitiam que as mulheres, durante o seu "curse" (maldição = menstruação), entrassem nas refinarias, pois o açúcar escurecia. No Egito, a mulher permanecia isolada e era proibida de comer – caso fosse necessário, a irmã ou mãe alimentavam-na com um instrumento que era queimado em seguida", escreve Maria Inês Pagano Gasperini, no artigo "Sangue e sexo: menstruação e comportamento sexual", publicado na Revista Brasileira de Sexualidade Humana.
As religiões monoteístas, ou seja, o judaísmo, o islamismo e o cristianismo, acreditavam que a mulher menstruada estaria impura tanto para rituais religiosos quanto para práticas sexuais por associarem o sangue ao pecado original de Eva. "O tratado ginecológico Secreta Mulierum (do latim, Os segredos das mulheres), produzido entre o final do século XIII e início do XIV, adverte que, se uma mulher concebesse durante seu período menstrual, o veneno do fluido poderia afetar o feto, de modo a causar-lhe lepra, epilepsia ou deformidades", escreve Andressa Furlan Ferreira no artigo "Sangue menstrual e magia amatória: conceções e práticas históricas", publicado na "Revista do Corpo Discente do Programa de Pós-Graduação História da UFRGS" – Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Mais adiante, o sexo na menstruação continuou a ser uma questão controversa mesmo quando já havia informação suficiente para que a população estivesse razoavelmente educada. James Leslie McCary, professor de psicologia da Universidade de Houston, coletou uma série de mitos folclóricos que ainda persistiam entre universitários nos Estados Unidos: um homem impotente ficará curado se praticar cunilíngua a uma mulher menstruada; uma mulher frígida pode ser levada a vários orgasmos caso faça sexo menstruada; carícias podem fazer com que a dor menstrual passe da mulher para o amante…O estudo foi realizado em 1971 – ou seja, muito distante dos tempos pré-históricos de outrora.
Em 2024, não há mais desculpas para que a educação sexual não esteja em dia. É importante saber que nos dias atuais há métodos para que a penetração possa ser feita sem o contato com o sangue, como o uso de esponjas e discos, além das possibilidades sexuais não penetrativas. O sexo oral durante a menstruação tampouco apresenta um problema de ordem prática pois não ocorre aumento do risco de doenças sexualmente transmissíveis. No entanto, é importante saber que DST’S, incluindo sífilis, herpes, gonorreia, tricomoníase, clamídia, HPV e HIV podem ser passadas durante o sexo oral, independente da fase do ciclo (as infeções podem ser passadas da boca para os genitais, ou vice-versa). "O corpo genital da pessoa que menstrua não é sujo, pelo contrário, o sangue significa a possibilidade daquele útero gerar vida", finaliza Carvalheira.
* A jornalista escreve em Português do Brasil.

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