O leite é, há muito, um alimento presente nas mesas portuguesas - seja ao pequeno-almoço, em receitas ou como ingrediente base de inúmeros produtos derivados. No entanto, apesar da popularidade, o seu valor nutricional e a sua real necessidade numa alimentação saudável continuam a ser temas de debate, até entre profissionais de saúde. A escolha entre leite gordo e leite magro é uma dessas questões que gera dúvidas legítimas, e não existe uma resposta única que sirva para todos.
A nutricionista Magda Roma lembra-nos, desde logo, que "o leite é um produto que tem vindo a ter diversas opiniões, sendo um assunto não consensual na comunidade científica quanto a ser, ou não, essencial para uma alimentação saudável." De facto, embora o leite continue a ser essencial em algumas regiões do mundo em que há escassez alimentar, nos países onde existe uma maior disponibilidade e diversidade de alimentos, a inclusão na dieta não é obrigatória. Ou seja, é possível ter uma alimentação equilibrada e completa sem consumir leite, desde que haja variedade e qualidade nutricional.
Mas quando o leite está presente na alimentação, a escolha entre leite gordo e leite magro levanta uma série de considerações importantes. À primeira vista, parece simples: o leite magro tem menos gordura, logo menos calorias, e será, por isso, uma opção mais saudável. No entanto, esta redução de gordura vem acompanhada de outras alterações nutricionais que devem ser tidas em conta.
A gordura do leite não é apenas uma questão de calorias. Ela está ligada à textura, ao sabor e até à saciedade proporcionada pela bebida. Como explica Magda Roma, "a gordura do leite proporciona à bebida uma textura cremosa e, pela demora no processo digestivo deste produto, este, o leite gordo, proporciona uma maior saciedade quando comparado com o leite magro." Este efeito pode ser particularmente útil para quem procura controlar o apetite ao longo do dia.
Além disso, há um fator muitas vezes negligenciado: as vitaminas lipossolúveis - como as vitaminas A, D, E e K - precisam de gordura para serem absorvidas adequadamente pelo organismo. Assim, a presença de gordura no leite gordo contribui para uma melhor absorção destes nutrientes. E mais: o próprio processo tecnológico de remoção da gordura, necessário para se obter o leite magro, pode também reduzir significativamente o teor dessas vitaminas, bem como de certos ácidos gordos benéficos. "Esse processo pode fazer com que haja também uma diminuição das vitaminas lipossolúveis, bem como de determinados ácidos gordos.", salienta a nutricionista.
Por outro lado, não se pode ignorar que o leite gordo tem cerca de 3,5% de gordura – parte dela saturada –, enquanto o leite magro não ultrapassa os 0,5%. A gordura saturada, quando consumida em excesso, está associada a um maior risco de doenças cardiovasculares. Neste ponto, o leite magro leva vantagem, especialmente para pessoas com necessidades específicas, como quem procura perder peso ou tem recomendação médica para reduzir a ingestão de gorduras saturadas.
Ainda assim, Magda Roma sublinha um ponto essencial: "Quando pensamos apenas na riqueza nutricional do leite, o leite gordo terá maior constituição nutricional e menor processamento tecnológico, mostrando-se uma melhor opção de escolha." Ou seja, numa comparação meramente nutricional – sem considerar outros factores clínicos ou objetivos individuais –, o leite gordo apresenta-se como mais completo e menos processado.
Mas importa lembrar que nenhuma escolha alimentar deve ser feita isoladamente. O leite, seja ele qual for, é apenas uma pequena peça num puzzle muito maior. Como resume a nutricionista, "uma alimentação dita saudável não requer obrigatoriamente a ingestão de leite mas, sim, uma maior variedade de alimentos nutricionalmente ricos." Vegetais, frutas, leguminosas, frutos secos e sementes são todos exemplos de alimentos que fornecem vitaminas, minerais, proteínas e gorduras de forma equilibrada.