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“Preciso que os homens tenham mais medo.” A economista que fez contas à vida e trocou o marido por uma mulher

As mulheres ficam com a fatia de leão do trabalho doméstico e da gestão familiar, ao mesmo tempo que investem nas suas carreiras. Se uma pessoa pode ter ao seu lado alguém com estas capacidades, para quê escolher um homem? Quando o seu casamento heterossexual chegou ao fim, Corinne Low escolheu uma mulher.

Corrine Low é autora de livros sobre a gestão de finanças pessoais no feminino
Corrine Low é autora de livros sobre a gestão de finanças pessoais no feminino Foto: @corinnelowphd
03 de outubro de 2025 às 16:55 Madalena Haderer

A conclusão faz arregalar os olhos. E, no entanto, não é nada que a maioria das mulheres não tenha já pensado e desabafado com os seus botões. A economista Corinne Low, depois de se divorciar, fez aquilo que faz melhor – contas, análises e prospeções – e chegou à conclusão de que a sua melhor hipótese de ter mais um bebé e viver uma vida feliz e igualitária residia em desistir dos homens e começar a procurar relações com mulheres. E foi exactamente isso que fez. Convém sublinhar que Low não descobriu que era lésbica, nem sequer bissexual. O que aconteceu foi que, analisando os dados à sua disposição e, tendo concluído que outra mulher seria a escolha mais lógica em termos de proactividade, divisão de tarefas, gestão familiar e manutenção doméstica, ponderou que se todas as outras peças encaixavam, o amor e o erotismo não seriam, propriamente, os aspectos mais difíceis de atingir. Uma mulher romântica? Nem por isso. Realista? É bem possível.

De acordo com o jornal britânico The Times, foi depois de se ter divorciado, em 2017, que a professora associada de economia empresarial e políticas públicas na escola de negócios Wharton, então com 38 anos, começou a ponderar que regressar ao mundo dos encontros amorosos, em busca de novo marido, não era o melhor caminho a seguir.  “Sair com mulheres foi uma decisão eficiente”, conta Corinne ao The Times, acrescentando ainda que “não tinha tempo para fazer a triagem [dos homens]. Precisava de tirar outra amostra da distribuição, como dizem os economistas, da forma mais produtiva possível.” Essa “amostra” chama-se Sondra Woodruff, tem 44 anos e é a sua actual mulher, com quem tem uma filha de quatro meses, para além do filho do primeiro casamento, que tem agora oito anos.

Low conta que, durante o seu primeiro casamento, as tarefas domésticas e de gestão da família – organizar almoços e jantares com amigos e parentes, recordar aniversários, comprar prendas, marcas consultas, decorar a casa, planear as férias, etc. – recaíam maioritariamente sobre ela, apesar de, em dados momentos, ser também ela a pessoa que ganhava mais dinheiro. Isso empurrou a economista para aquilo a que ela chama “uma crise de meia idade”, em que, profundamente frustrada, desistiu do casamento. Mudou-se para uma zona mais barata, contratou uma ama, passou a ir de bicicleta para o trabalho. Estava pronta para que a sua vida de mãe solteira se tornasse mais difícil – ainda que menos exasperante –, mas, para seu grande espanto, tornou-se mais fácil. Será, talvez, justo dizer que em vez de um filho, Corinne tinha dois.

No final do mês passado, Low publicou o seu segundo livro, Femonomics: What Data Tells Us About Women’s Lives and Getting the Most Out of Yours (qualquer coisa como “Feminoeconomia: O que os Dados Revelam sobre a Vida das Mulheres e Como Tirar o Máximo Partido da Sua”, ainda sem edição portuguesa), onde conta a sua história, apelando a que as mulheres comuns pensem como economistas e assumam o controlo. “Muitas vezes,” diz Low, “as mulheres acabam com um funcionário júnior a quem têm de gerir, em vez de um co-CEO do lar”. A economista explica ainda ao jornal britânico que as mulheres deviam ser mais seletivas em relação a características masculinas que acrescentem mais-valias às suas vidas partilhadas a longo prazo, como saber cuidar da própria roupa, investir tempo na casa, tomar a iniciativa de organizar viagens, saber cozinhar. A maioria das mulheres, porém, anda a “entrevistar” candidatos para a posição de namorado – ser giro, divertido, bem falante… –, quando deviam estar a fazer as perguntas certas para identificar um parceiro que saiba deitar mãos à obra e aligeirar o fardo dos dias difíceis, sem que seja preciso pedir.

De acordo com a perspetiva económica de Low, se as mulheres começassem a privilegiar esse tipo de homens, a fasquia subiria, criando pressão competitiva no mercado do casamento. A economista explica o seu ponto de vista ao The Times de forma particularmente incisiva: “Preciso que os homens tenham mais medo. Preciso que pensem: ‘Se eu não aprender a assumir-me como um marido e parceiro digno, vou acabar sozinho’. Precisamos de consequências reais, de verdadeira pressão competitiva, para corrigir este desequilíbrio.”

Pode não ser uma visão romantizada da vida, mas não deixa de ser excitante.

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