“Agridoce”. O trauma do luto e de um relacionamento com um homem mais velho
No seu romance de estreia, Hattie Williams, conta a história dolorosa e cativante de Charlie, uma jovem que perdeu a mãe aos 16 anos e que, anos depois, tem um caso de amor destrutivo com um escritor famoso, muito mais velho, e que era o autor preferido da mãe. Um livro que tanto ajuda a curar feridas antigas, caso existam, como serve de alerta.

A capa de Agridoce, primeira obra de ficção da escritora britânica Hattie Williams, declara que o livro cairá que nem ginjas no colo dos fãs de Coco Mellors e Sally Rooney. E isso diz muito, principalmente no que toca a Rooney, que foi considerada a voz (literária) feminina que melhor transmitia a vida da geração Millennial, com personagens na casa dos 20 e 30 anos, vivendo o início da vida adulta em cidades europeias, com empregos precários, habitação incerta e forte consciência política. Os seus diálogos captam na perfeição o som das conversas e a troca digital de mensagens desta faixa etária, e iluminam os seus medos e ansiedades. É também isto que Hattie nos traz: uma protagonista, Charlie, de 23 anos, que sofreu um enorme trauma aos 16 anos – com a morte súbita da mãe, de quem era muito próxima. Não tem amigos dignos desse nome até que vai viver para Londres e começa a trabalhar na indústria editorial. Cresceu numa família de classe média baixa, mas isso não a impede de formar estreitos laços de amizade com Ophelia e Eddy, que viveram infâncias muito mais abonadas. A família de Ophelia, de resto, tem um chalet na Suíça e um apartamento em Londres para onde Eddy e Charlie se mudam, pagando rendas simbólicas.
Durante as primeiras 60 páginas desta história, a vontade de desistir do livro foi constante. Para uma pessoa de 40 anos, as conversas destas personagens soam pueris, tolas, com falta de visão e, muito sinceramente, cansativas. Mas tudo muda quando, no decorrer do seu trabalho como assistente de publicidade numa editora de renome – e esta é a grande trama do livro –, Charlie conhece e apaixona-se por Richard Aveling, um famosíssimo escritor, vencedor do Booker Prize, um homem misterioso e atraente (só que casado e profundamente egoísta) de 56 anos. Os dois mantêm uma relação ilícita que tem tudo para correr mal, de todas as maneiras, ao mesmo tempo – mas só para um dos lados, o lado mais fraco que é, obviamente, o de Charlie.

Para adicionar textura emocional a este caso tórrido, Richard Aveling era o escritor favorito da mãe de Charlie que, desde pequena, partilhava com ela os livros do autor, bem como recortes de jornais e entrevistas. Aveling, com todos os seus defeitos e potencial calamitoso na vida de Charlie, personifica uma espécie de ligação entre ela e a sua mãe – e é difícil fugir a isso. É daqui em diante que este livro revela o seu potencial de cura, para quem tenha passado por um episódio semelhante, ou tenha visto alguém próximo protagonizar uma história do género. Agridoce é o livro perfeito para uma mãe (ou tia, ou professora) oferecer a uma filha – principalmente uma que esteja consciente do poder magnético (e demolidor) que um homem mais velho pode ter na vida de uma jovem sensível, frágil e vulnerável, acabada de chegar à idade adulta.
Acompanhamos, por exemplo, o momento pungente em que Charlie vai ao apartamento de Richard e se torna evidente que terão o seu primeiro contacto sexual. Algo que Charlie preferia adiar (talvez indefinidamente) porque, na verdade, boa parte do encantamento que sente é intelectual e emocional – fruto da aura da mãe que paira por cima de tudo aquilo. Não obstante, Charlie acaba por render-se aos avanços de Richard, porque é isso que ele quer e ela não o quer desiludir nem quer perder o que tem com ele.
Mais tarde, Charlie há-de partilhar com Richard que a sua primeira vez foi abusiva. Também algo que acabou por acontecer à revelia da sua vontade e desejo, mas, por motivos que no momento pareceram lógicos, acabou por ceder. Ou, pelo menos, não disse que queria parar – se teria sido possível fazê-lo, é toda uma outra questão retórica. Curiosamente, porém, Richard diz-lhe que o que ela está a relatar é uma violação. E Charlie, que vê vários paralelismos entre esse encontro da adolescência e a sua primeira relação sexual com o autor, fica perturbada e zanga-se com ele, que, sem saber, está a macular o relacionamento dos dois com aquele reparo.
Agridoce é uma exploração inquietante de uma relação baseada em desequilíbrios de poder e do isolamento e confusão mental e emocional que esta causa. É uma obra inteligente, convincente e muito bem escrita, que ajuda a desenvolver compaixão e compreensão por alguém que tenha protagonizado uma história semelhante na vida real. A obsessão de Charlie torna-se frustrante e incompreensível aos olhos dos seus amigos que tentam tudo ao seu alcance para a tirarem daquele buraco que se vai agigantando – embora, por vezes, desistam demasiado rápido –, e essa frustração dos amigos e da família é algo de comum e verdadeiro.
A autora, Hattie Williams tem 41 anos, nasceu e vive em Londres e desistiu da escola na adolescência para fazer uma carreira na música. Fez digressões pela Europa, gravou três álbuns e trabalhou como compositora. Quando tinha 20 e poucos anos, deu por si a trabalhar no sector editorial por acaso – um trabalho administrativo temporário que se transformou numa carreira de 12 anos e contribuiu para que Agridoce, a sua primeira obra de ficção, esteja agora na prateleira das livrarias. Valerá, certamente, a pena descobrir que mais Hattie escreverá nos próximos anos.

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