Julianne Moore furiosa com Trump depois de este ter banido um livro seu
"Freckleface Strawberry", uma história autobiográfica sobre uma menina ruiva com sardas que não gostava de se ver ao espelho, foi retirada das escolas do Departamento de Defesa norte-americano para ser "analisada".

"Um grande choque", foi assim que a atriz norte-americana Julianne Moore descreveu a sua reação ao descobrir que a Administração Trump censurou um livro infantil que a própria escreveu em 2007. Chama-se Freckleface Strawberry e é o primeiro de uma série de livros sobre uma menina de sete anos chamada, precisamente, Freckleface Strawberry – qualquer coisa como Morango Sardento – que Moore escreveu usando como inspiração a sua própria infância e o facto de ser essa a alcunha que os colegas de escola inventaram para ela. Ou seja, Moore era uma menina ruiva com sardas e não era feliz com isso e o mesmo se passa com a menina do livro que, aos poucos, porém, vai aprendendo a gostar das suas sardas e a apreciar tudo o que faz dela a menina que ela é.
Uma mensagem aparentemente benevolente e de construção do caráter, mas que parece ter causado desconfiança no Departamento de Defesa norte-americano uma vez que Freckleface Strawberry foi incluído numa lista de livros que foram removidos da rede de 160 escolas, pelo mundo inteiro, que são frequentadas por crianças filhas de militares ou de civis que dão apoio a bases militares e que, por isso, estejam deslocados junto com as suas famílias. O jornal britânico The Guardian diz que esta purga de livros das bibliotecas afetará até 67.000 crianças que estudam em escolas do Pentágono – localizadas em sete estados dos EUA e em 11 países.


De acordo com a norte-americana CNN, a agência do Pentágono que está a analisar os livros em questão diz que alguns foram, de facto, removidos mas, para já, só de forma temporária e que, até ao momento, nenhum livro foi banido. O que não significa que não venha a ser. Também não se sabe quanto tempo demorará a análise. O que se sabe é que, durante a semana passada, o Departamento de Defesa distribuiu um memorando informando que ia examinar os livros das bibliotecas das escolas, o que levou a que os alunos não pudessem aceder às suas bibliotecas durante uma semana. No fim desse período, um "pequeno número de itens" foi identificado e mantido para "avaliação adicional", afirmou o documento, em cujos casos "o acesso está limitado ao corpo profissional".
Esta "revisão de conformidade" – é assim que é referida no comunicado – dos materiais de aprendizagem tem como objetivo verificar se estão em conformidade com duas ordens executivas assinadas pelo presidente Donald Trump relacionadas com a "ideologia de género" e a "doutrinação racial".





Na sua conta de Instagram, Julianne Moore diz que está particularmente triste com a situação porque ela própria estudou numa destas escolas do Departamento de Defesa, em Frankfurt, na Alemanha, uma vez que o pai era veterano do Vietname e militar de carreira. A atriz faz ainda o seguinte desabafo: "É revoltante para mim perceber que crianças como eu, que crescem com um dos pais no serviço militar e frequentam uma escola do [Departamento de Defesa], não terão acesso a um livro escrito por alguém cuja experiência de vida é tão semelhante à delas. E não posso deixar de me perguntar o que há de tão controverso neste livro ilustrado para que ele tenha sido banido pelo Governo dos EUA."
Ainda de acordo com o The Guardian, outro livro que fez parte da "revisão de conformidade" é o No Truth Without Ruth, de Kathleen Krull, sobre Ruth Bader Ginsburg, a segunda mulher a ocupar um assento no Supremo Tribunal de Justiça dos EUA. O jornal diz ainda que o memorando enviado pelo Departamento da Defesa às escolas sob a sua jurisdição não se focou apenas nos livros e materiais de aprendizagem, mas que também as instruiu a deixarem de celebrar eventos culturais, como o Mês da História Negra. Em consequência disso, diz o The Guardian, uma escola primária do Departamento de Defesa em Wiesbaden, na Alemanha, retirou da parede um retrato da ex-primeira-dama Michelle Obama.
