Culturas

Os livros incontornáveis do mês

Quais os livros a não perder ao longo do mês de setembro? Siga o nosso roteiro cultural.

18 de setembro de 2019 Rita Lúcio Martins

Pura magia

Quando dois universos marcados pelos ideais de sonho e beleza se cruzam num ponto de equilíbrio nascem peças que reinventam a estética e arriscam a eternidade. É disso que nos dá conta este Ballerina – Fashion’s Modern Muse (Abrams). Assinado por Patricia Mears, Laura Jacobs, Jane Pritchard, Rosemary Harden e Joel Lobenthal (todos eles especialistas em moda e/ou bailado), é um livro ilustrado que analisa a forma nem sempre óbvia como o ballet clássico e as bailarinas em geral influenciam o mundo da moda, da alta-costura ao pronto-a-vestir. De resto, basta espreitar o portefólio de criadores como Balmain, Balenciaga, Schiaparelli, Dior ou Yves Saint Laurent para perceber que a elegância do ballet clássico sempre foi uma inspiração na criação de tendências e peças que ficaram para a história da Moda. Folhear as páginas desse livro é experimentar essa dança entre disciplinas mas também cair de amores por um guarda-roupa pleno de feminilidade.

Na linha da frente

Nos seus países de origem chamam-lhes sahafiyat. Assim se designam em árabe as jornalistas do sexo feminino. São elas, dezanove delas, as autoras de Our Women on the Ground (Penguin), uma importante antologia que traz uma perspetiva atual e privilegiada da realidade de vários países árabes e do Médio Oriente. Editado por Zahra Hankir e com um prefácio de Christian Amanpour – a correspondente-chefe internacional da CNN –, o livro traduz, na primeira pessoa, as dificuldades de exercer a profissão no feminino a partir de locais onde o conflito representa, muitas vezes, risco de vida. É, ainda, um passaporte para realidades plenas de nuances sociais, mas também de violência e situações limite. Das ruas do Cairo, marcadas pelo assédio iminente, às estradas do Iémen, pontuadas pelo enorme fosso entre géneros (e pela impossibilidade, para uma mulher, de viajar desacompanhada de um homem), as autoras fazem ouvir as suas vozes, transformando dificuldades em vantagens e fazendo do jornalismo um exercício de resistência e verdade que importa não perder de vista.    

Sol na Cabeça, de Geovani Martins (Companhia das Letras)

"Fiquei chapado." A reação de Chico Buarque, impressa logo na capa do livro, funciona como se de um aviso se tratasse. Volta-se a primeira página e descobre-se, encartado, um longo glossário, que antecipa uma linguagem própria num universo particular, o do Rio de Janeiro das favelas. É aí que se desenrolam as histórias-limite contadas por esta jovem e já aplaudida voz da literatura brasileira. Nascido na favela carioca, Geovani capta a luz e a sombra dos dias vividos entre a energia de um mergulho e a adrenalina de uma rusga, contando a vida dos chamados ‘Invisíveis da Cidade Maravilhosa’.

Jorge Amado, Uma Biografia, de Joselia Aguiar (Dom Quixote)

Nome incontornável da literatura brasileira, o escritor Jorge Amado (Bahia, 1912-2001) é ele próprio uma personagem rica e cativante. Recorrendo a manuscritos inéditos, documentos de família, cartas, além de várias e demoradas entrevistas, a autora traça aqui o percurso de um homem sempre apaixonado, tanto do ponto de vista pessoal como artístico ou até político.

My Seditious Heart, de Arundhati Roy (Penguin)

Ainda sem tradução nacional, mas já alvo dos mais rasgados elogios, o novo livro da escritora indiana, em rigor, não é novo. Na verdade, alguns dos textos têm mais de 20 anos, mas mantêm uma atualidade surpreendente. Sempre destemida, Arundhati analisa temas como o imperialismo ou a política internacional dos Estados Unidos, mas é na disparidade social e nos imensos contrastes da sua Índia natal que encontra a matéria-prima para um livro onde mescla os factos com a análise lúcida e inconformada.

Mother Ship, de Francesa Segal (Vintage)

Distinguida com o Costa First Novel Award, em 2012, pelo romance de estreia The Innocents, a britânica Francesa Segal está de volta com um livro-diário onde relata as emoções em torno do nascimento prematuro das suas gémeas, em outubro de 2015. Num registo intimista e avassalador, emaranhado de desespero e esperança, dá conta das incidências dos 56 dias em que as suas filhas estiveram internadas na unidade neonatal de um hospital britânico, criando um livro-testemunho carregado de emoção (com final feliz).

Ballerina – Fashion’s Modern Muse (Abrams).
1 de 6 Ballerina – Fashion’s Modern Muse (Abrams).
Our Women on the Ground (Penguin)
2 de 6 Our Women on the Ground (Penguin)
Sol na Cabeça, de Geovani Martins (Companhia das Letras)
3 de 6 Sol na Cabeça, de Geovani Martins (Companhia das Letras)
Jorge Amado, Uma Biografia, de Joselia Aguiar (Dom Quixote)
4 de 6 Jorge Amado, Uma Biografia, de Joselia Aguiar (Dom Quixote)
My Seditious Heart, de Arundhati Roy (Penguin)
5 de 6 My Seditious Heart, de Arundhati Roy (Penguin)
Mother Ship, de Francesa Segal (Vintage)
6 de 6 Mother Ship, de Francesa Segal (Vintage)
Saiba mais
Livros, Cultura, Roteiro, Patricia Mears, Penguin, Jorge Amado, Geovani Martins, Arundhati Roy, Segal, literatura, artes, cultura e entretenimento
Leia também
As Mais Lidas