Candace Bushnell: 'Os homens são muitas vezes uma deceção para as mulheres'
Entrevistámos a autora de ‘O Sexo e a Cidade’ a propósito do seu novo livro. Numa conversa despretensiosa, falámos de assuntos tão díspares como relacionamentos aos 50 anos, o idealismo à volta do homem perfeito e o fenómeno Tinder.

Era quinta-feira e tinha ficado combinado ligar a Candace Bushnell (Glastonbury, EUA, 1958) por FaceTime (aplicação para realizar chamadas de vídeo) às 14h da hora portuguesa. Estávamos, afinal, prestes a falar com a escritora norte-americana que criou O Sexo e a Cidade, um conjunto de histórias que se transformou num culto ao surgir, em primeiro lugar, na sua coluna no jornal semanal New York Observer. Coluna que se transformaria num livro homónimo e depois na série de televisão da HBO eternizada em seis temporadas por Sarah Jessica Parker na personagem de Carrie Bradshaw.
À hora combinada, em Nova Iorque, eram 9h. Candance atende de imediato. "Eu acabei de me levantar esta manhã, acho que não devo parecer muito bem", anuncia bem-disposta e sorridente. Foi uma surpresa ver a autora, que está sempre com uma aparência irrepreensível, apresentar-se sem nenhuma produção – tanto de maquilhagem ou cabelo, como de guarda-roupa. Era como se estivesse a conversar com uma amiga: notamos os seus cabelos por pentear, as roupas confortáveis e uma caneca pousada a seu lado, cujo conteúdo vai bebericando ao longo da conversa. O principal assunto era o seu novo livro, Ainda Há Sexo na Cidade?, que será publicado em Portugal a 17 de setembro pela editora Quinta Essência, mas Candace tem sempre muito mais que contar.

Quando comecei a ler o livro tive a impressão de estar a ler uma autobiografia, mas sei que é um romance.
Estamos a chamá-lo autoficção. Parte é autobiografia, mas é enquadrada num cenário ficcional com personagens fictícias, eu tentei mantê-las simples para que elas pudessem ser qualquer pessoa. Eu não falo da sua cor de cabelo ou nada parecido. Portanto não é um livro de memórias, é um livro sobre a passagem do tempo na meia-idade e como uma pessoa se sente ao passar por isso. Em alguns casos eu estava a escrever o livro enquanto as coisas estavam a acontecer comigo. Por exemplo, o meu pai faleceu, eu conheci o meu namorado [o corretor de imóveis Jim Coleman, que lhe foi apresentado pelo ator Chris Noth, o mr. Big de O Sexo e a Cidade], uma amiga cometeu suicídio [a publicista Jeanine Pepler, que faleceu a 17 de junho de 2018], mas ao mesmo tempo tinha várias histórias sobre mulheres que estavam a passar por coisas similares.


Como se sentiu a escrever este livro após O Sexo e a Cidade (1996) – e os outros sete livros que se seguiram?
Parte é apenas a arte e o ofício de escrever um livro. Quando estava a escrever O Sexo e a Cidade, eu estava a tentar explorar a pergunta: por que é que há tantas mulheres fantásticas nos seus 30 anos e não há muitos homens fantásticos para serem os seus parceiros? Era um tempo e um lugar, Nova Iorque. Com o novo livro, senti-me da mesma maneira. É especificamente sobre uma passagem de tempo que ninguém fala. Não há interesse sobre mulheres acima dos 50 anos. E quando eu estava a escrever O Sexo e a Cidade foram escritas muitas mensagens negativas e houve uma falta de aceitação da mulher solteira, que era muito difamada. Eu estou a olhar para si e aparenta ter o quê, 25 anos?
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Então cresceu numa era em que é muito aceitável ser-se solteira, mas há 25 anos não era assim. Eu olho em volta e vejo tantas, tantas jovens mulheres que têm colhido o benefício da geração de mulheres anterior à delas e que lideraram o caminho para as mulheres serem solteiras, para terem o tipo de sexualidade que quiserem, para terem a liberdade de não casar, de considerarem ter uma vida sem crianças… para as mulheres poderem, de facto, exercer uma carreira, terem o seu próprio dinheiro. Todos esses enormes benefícios são por causa de mulheres da minha idade, que de facto foram percursoras. E você tem muitas, muitas vantagens a mais do eu quando tinha a sua idade. E eu espero que entenda o quão afortunada é. Portanto as mulheres solteiras acima dos 50 anos são novamente um género que não é valorizado pela sociedade.
Acredita nisso?
É a realidade da sociedade patriarcal, que nos diz que o valor das mulheres está na sua aparência e que elas basicamente têm que ser cuidadoras do seu marido, parceiro e crianças. Nós não dizemos às mulheres: "Olhe, quer saber? Você é realmente inteligente. A sociedade valoriza-a pelo seu cérebro, pode sair à noite, ser CEO e também pode desistir de ter crianças e uma família." O que o livro Ainda há Sexo na Cidade? faz é capturar a verdade da manifestação dessas mensagens, em termos de como as mulheres pensam sobre si mesmas e como elas se sentem em relação a si mesmas.

Porém o título sugere uma sequência sobre as aventuras de Carrie e as suas amigas…
Na verdade, eu queria chamá-lo A Loucura da Meia-Idade, mas essas duas palavras são, aparentemente, um balde de água fria. Foi o publicista que teve a ideia do título.
E por que queria chamá-lo A Loucura da Meia-Idade?
Porque é o que eu acho que este livro trata. É sobre esta passagem no tempo por que eu passei e tantas outras amigas minhas passaram. Encontramo-nos em lugares completamente diferentes, lugares em que nunca nos poderíamos imaginar nos nossos 20, 30 ou até nos nossos 40 anos. Para muitas pessoas os 50 anos chegam e boom! Muitas coisas mudam. Muitas mulheres queixam-se de que perderam o charme. E passamos por um período em que não sabemos qual é o seu significado aqui na Terra ou qual é o seu propósito – será que alguém precisa de nós? Eu recordo-me de uma pessoa que conheço há mais de 15 anos, que é casada, tem filhos. Conheci-a quando as crianças tinham uns 15 anos, ela era muito feliz no casamento, ela e o marido pareciam tão próximos, acho que até tinham um negócio juntos, e as crianças era maravilhosas e eles saíam juntos… Ela percebeu que ele começou a agir de maneira estranha, começou a beber muito e ela descobriu que ele estava a ter um caso com a secretária que durava há dez anos.
Dez anos não é bem um caso, mas um segundo relacionamento.
Exatamente! E ela sentiu que a vida dela era uma completa mentira e estava destruída. Ela quis saber qual era o seu sentido e passou um ano, um ano e meio distante… para mim há muita compaixão e empatia neste livro por pessoas que estão a passar pela mesma coisa. Como mulheres, nunca devemos dizer que nada está errado, não devemos continuar sempre em frente e dizer que tudo está ótimo, então eu vejo as pessoas a chegarem a este ponto onde é simplesmente demasiado. Portanto, em parte, é também sobre o quanto precisamos das nossas amigas, novamente, neste período.
As mulheres ainda têm medo ou vergonha de dizer a verdade?
Sim, têm. As mulheres sentem muita pressão, de muitas maneiras, para mentir sobre as suas vidas. E parte disso é porque se as coisas correm mal parece sempre que a culpa é nossa. As mulheres mantêm-se quietas sobre tantas experiências más que tiveram, experiências sexuais, o tratamento que recebem, como estão solitárias e tudo mais. Hoje em dia, com as redes sociais, há ainda mais pressão para parecer que está tudo controlado e que tudo é perfeito. E, às mulheres, é frequentemente dito que um relacionamento vai completá-las ou vai resolver todos os seus problemas e os relacionamentos não fazem isso. Os relacionamentos têm ótimos benefícios, mas eles não resolvem necessariamente problemas. Há uma desconexão.
O primeiro capítulo do livro Ainda Há Sexo na Cidade? fala sobre divórcio. Para si foi muito difícil? [Candace casou-se a 4 de julho de 2002 com o dançarino de ballet Charles Askegard. Divorciaram-se em 2011]
Comparando com muito do que que conheço foi fácil. Eu não tive crianças, nós não tivemos que resolver essas coisas. Mas, sabe, geralmente são as mulheres que dão início ao divórcio nesse período. O casamento torna-se amargo e parece que os homens perdem o entusiamo e interesse e eu acho que há muitas mulheres que acabam por se sentir mortas no seu relacionamento e sentem que se não saírem por volta dos 50 anos depois vai ser tarde demais.

Nunca desejou ser mãe?
Não [muito efusivo]. Isso é interessante, mas eu nunca tive desejo de ter filhos. Quando eu era criança, as pessoas na vizinhança tinham bebés e as pessoas saíam para vê-los e eu não, eu ficava mesmo incomodada e aterrorizada. É verdade. E, hoje em dia, se alguém me vir a pegar num bebé ao colo, provavelmente vai dizer: "Olha, ela é tão boa a segurar um bebé" e quando me apercebo já me estão a pedir para cuidar do bebé. Eu sei, eu cresci numa época diferente, mas eu nunca tive essa vontade de ter crianças. No início dos meus 20 anos, fiquei noiva duas vezes e suponho que se tivesse casado acabaria por ter filhos só porque sim. Mas não aconteceu e talvez tenha sido uma das razões pela qual eu não queria casar-me, o facto de não querer esse estilo de vida. Eu aprecio os momentos doces que eu passo com os meus amigos e os seus filhos, mas esses momentos doces rapidamente se transformam em momentos caóticos, com crianças a arremessar coisas e eu digo: "OK, tenho de ir." [No livro] conto que um ex-namorado ia trazer o seu filho e eu não sabia o que fazer nem como me comportar com a criança. Ainda assim senti-me sua mãe, e isso foi tão estranho, parece que o facto de ter estado perto de uma criança foi o suficiente para fazer essas coisas maternais "entrarem" em mim. Eu não tenho crianças, nunca criaria uma, mas eu estava constantemente preocupada com aquela criança que não era nem a minha! Pergunto se há algo na natureza, que leva a que quando as mulheres ficam perto das crianças exista um estímulo.
Li algures que acredita que o homem "bom" não existe. As mulheres ainda esperam pelo homem ideal?
Talvez seja o homem perfeito que não existe. Às vezes, quando eu olho à minha volta, e quando olho para os homens, penso em todas as coisas que falharam e no abuso das mulheres, no sexismo horrendo –há uma ganância a destruir tantas coisas no planeta e isso deixa-me preocupada. É claro que há homens bons por aí, mas também há muitos homens maus. Relacionamentos heterossexuais tendem a ser bastante sexistas, acho que um pouco menos agora. Mas eu sinto que os homens são pessoas com defeitos e as mulheres, também são pessoas com defeitos, mas talvez menos defeitos – nós gostamos de pensar assim. Os homens muitas vezes acabam por ser uma decepção para as mulheres. Nós construímos na nossa mente a ideia do homem perfeito, e os homens não conseguem estar à altura disso. É como as mulheres que tentam ser perfeitas e pensam que os homens vão ser perfeitos também. O amor é uma emoção, vai e vem como muitas emoções, mas perseverança, gentileza e consistência são as coisas que são de facto são valiosas num relacionamento. Para mim, acrescento bom humor, apenas estar de bom humor.
O mau humor é "contagiante"…
Exatamente! E à medida que envelhecemos as coisas mudam. Eu diria que uma das coisas que são diferentes de namorar agora, nos seus 50 ou 60 anos e namorar com os seus 20, 30 ou 40 anos, é que as mulheres com 50 anos não estão à procura de começar uma família. Não se está à procura de um homem para ser o pai dos nossos filhos, possivelmente até já se tem filhos. Portanto está-se à procura de uma coisa diferente e os relacionamentos não têm de alcançar uma meta e não têm de haver essa pressão de "temos de viver juntos, em dois anos temos de estar noivos, casar e ter filhos." Não há este cronograma, é aí que está a diferença.
Casou-se com um homem mais novo [Charles Askegard tem menos dez anos que Candace]. Quais são os prós e contras de um relacionamento assim?
Eu acho que o ponto positivo foi que ambos éramos muito ativos, isso era ótimo. O negativo… Eu acho que o relacionamento estava maravilhoso até – e isso faz mesmo parte do livro – eu começar a passar pela meia-idade e aconteceu-me o que acontece com muitas pessoas nesse período: a morte de um dos pais. No meu caso, a minha mãe faleceu e isso realmente abalou-me e, provavelmente, eu passei a prestar menos atenção no meu marido. E ele não estava no mesmo plano emocional do que eu – ele tinha 41 e eu tinha 51 – e acabou por ter um caso, apaixonando-se e ficando com esta pessoa [a dançarina de ballet Georgina Pazcoguin]. É possível que se nós tivéssemos passado juntos por este período, talvez nós ainda estivéssemos casados e os nossos interesses estariam mais alinhados. Esta pode ser uma das coisas delicadas que pode acontecer se há diferenças de idade. Mas há uma grande mudança nos relacionamentos de mulheres mais velhas com homens mais novos e eles estão muito mais comuns e estão a entrar na normalidade e, de facto, faz sentido.
Recentemente, decidiu experimentar o Tinder, mas a experiência não resultou muito bem…
Na verdade funcionou muito bem para mim até certo momento. Quando eu escrevi a história [do livro], eu entrevistei muitas mulheres, entre os 20 e os 30 anos e todas estavam no Tinder há meses a marcar encontros, algumas até o faziam há anos. Mas elas eram muito, muito negativas em relação a isso e disseram que sentiam como se namorar online fosse um trabalho e que não iriam encontrar homens à sua altura. E sim, elas podiam encontrar-se com homens, mas sentiam que todos os homens com que se encontravam – eu detesto usar esta palavra – eram uns "falhados". Diziam que os homens não tinham dinheiro, todas davam a entender que eles tinham algum problema de saúde mental, muitos usavam drogas e a lista continuava…
Qual foi, então, a sua experiência?
Eu encontrei um homem muito agradável, muito atraente, tinha barba, fazia parte de uma banda, vivia em Brooklyn, era alto. Quando nos encontrámos, fomos ver uma peça de teatro na baixa da cidade muito cool, passámos um bom momento e ele disse-me que ia comprar bilhetes para uma peça de teatro de Shakespeare e eu disse: "Ótimo!" Trocámos mensagens e combinámos ver-nos. Eu pensei que seria o fim da história de "conheci um homem ótimo no Tinder." Então eu vou a caminho do teatro, estou à espera e ele não aparece. Ele deixou-me pendurada, eu tive que chamar um táxi de volta para casa. O táxi custou-me 50 dólares! Eu gastei 50 ou 60 dólares a tentar a ver esse homem que não apareceu, então eu enviei-lhe uma mensagem: "Será que houve algum mal-entendido nos nossos planos?" – e não obtive logo resposta. No dia seguinte, recebo a resposta: "Oh, eu não sei o que aconteceu, eu desmaiei, tomei umas drogas más, terminei a noite num hospital, eles deram-me um medicamento para dormir"… e eu pensei: "Que raio!" Ele era todas aquelas coisas que aquelas mulheres me haviam descrito. Senti-me desapontada com o Tinder.
Contou ao jornal britânico The Sunday Times que ficou cinco anos sem sexo.
Provavelmente. Talvez não tenha sido tanto tempo, mas provavelmente é verdade. Talvez eu tenha tido sexo uma ou duas vezes nesses cinco anos.
Sente que a sociedade continua a julgar isso?
Esta pressão que a sociedade parece exercer sobre as pessoas para fazerem sexo é interessante. A realidade é que se uma pessoa quiser fazer um certo tipo de sexo sem a componente emocional, isso é possível. Eu, pessoalmente, não quero. Honestamente, não é que me sinta demasiado velha para sexo casual, suponho que talvez nas circunstâncias certas, mas para muitas pessoas existe apenas o ato físico do sexo. Ora, eu não separo isso do componente emocional e não quero.

A Candace acha que ainda vivemos numa sociedade discriminatória em relação à idade?
Absolutamente. Aos meus 20 anos eu achava que as pessoas com 40 anos eram muito velhas, que eu nunca ia chegar aos 50 anos – de alguma maneira um milagre ia acontecer. Todos nós temos preconceitos em relação à idade. No outro dia ouvi falar de um homem com 60 e poucos anos que sofreu um acidente de ski e pensei: "Ah, um homem velho que sofreu uma acidente de ski, quem se importa com isso?", mas depois pensei: "Calma. Esse homem tem a minha idade!" Na verdade, uma das coisas mais difíceis é lutar contra a sua própria discriminação baseada na idade. Há um momento em que temos que ultrapassar as nossas percepções sobre envelhecimento.
No início do livro Ainda Há Sexo na Cidade? fala sobre ir à ginecologista e considerar um tratamento de rejuvenescimento vaginal.
Sim, o tratamento Mona Lisa. [O tratamento de laser tornou-se uma obsessão entre os mais privilegiados em Nova Iorque].
Isso aconteceu, de facto, consigo?
Eu não o fiz, porque primeiro custa três mil dólares e quando eu pesquisei vi que provavelmente funciona com um terço das pacientes – é como todos os lasers. Mas há um lugar em Greenwich, em Connecticut, um centro de rejuvenescimento vaginal. Ouvi algumas histórias de mulheres que lá foram e estavam muito felizes e satisfeitas. Essas coisas podem funcionar.
Falando da sua ida para Connecticut: por que decidiu deixar Nova Iorque?
Isso é outra coisa que acontece com as pessoas nessa passagem da vida. Há um burnout e um sentimento de estar a fazer as mesmas coisas de novo, e de novo – e de novo. E que continuaremos a fazê-las para sempre. E há a multidão, o barulho… E tudo isso, de repente, parece demasiado. Parte dessa passagem da meia-idade leva a que as pessoas vão atrás da natureza, geralmente querem estar perto da água ou dançar, mexer-se. Eu tive aulas de montar a cavalo. E nós não somos muito bons a analisar essas coisas na cultura norte-americana. Mas há outras culturas que têm nomes para as coisas, para cada tipo diferente de passagem. Isso foi algo que me atingiu bastante e eu queria mesmo estar rodeada de natureza. Então eu fui para Connecticut e, de facto, foi ótimo.
O livro vai ser adaptado à televisão pela Paramount. Já se sabe quando?
Nós começámos a trabalhar nisso, estamos a escrever.
Qual a atriz que gostaria que a interpretasse?
A personagem estará nos seus 50 e poucos anos e passará por essa fase da meia-idade. Honestamente, há sempre a ideia de que o autor terá algum controlo nos castings, mas eu não tenho nenhum controlo sobre isso. Há agências de casting e, independentemente das atrizes que forem escolhidas, a emissora e o estúdio têm de aprovar, porque eles também têm as suas próprias agências de casting. É toda uma dança, não se pode simplesmente dizer: "Eu quero fulano e sicrano."
E como foi com Sarah Jessica Parker? Pode-se dizer que a Candace é a Carrie…
Sim, pode. Sabe, Darren Star [o criador da série O Sexo e a Cidade da HBO (1998-2004)] procurou bastante pela atriz. Ele tinha algumas pessoas em mente, até pensou em Kristin Davis para ser a Carrie e ela acabou por ser a Charlotte…
Mas gostou da escolha? Já tinha pensado nela?
Oh, Deus, eu estava muito entusiasmada! Quando o Darren me falou dela eu disse: "Ah, sim, ela é perfeita!" Mas a Sarah não sabia nada do assunto. Por acaso, depois de filmarmos o episódio piloto, ela esqueceu-se [da possibilidade de fazer a série]! Então eu e o Darren tivemos de convencê-la e foi muito divertido. Fomos vê-la numa peça que ela estava a fazer na época, Once Upon a Mattress, depois fomos ter com ela ao camarim, saimos e bebemos cosmopolitans.

Acha que O Sexo e a Cidade estava à frente do seu tempo?
Sim, eu acho. E foi algo que a cultura arrebatou.
Depois do movimento #metoo, você acrescentaria algo na história de O Sexo e a Cidade?
Eu não iria adiante com O Sexo e a Cidade, aquelas personagens são muito maiores que a vida. Não faz sentido para mim tentar dividir o que seria e o que não seria [nos dias de hoje]. A única coisa que posso dizer é que se eu fizesse – e eu talvez ainda venha a fazer algo – recuaria ao início dos anos 1990, aquela que para mim, foi definitivamente a era do #metoo. Então se eu fizesse um trabalho com O Sexo e a Cidade situaria-o antes de a série começar e haveria muitos encontros #metoo. Na verdade, as situações constantes do #metoo são, em certa maneira, a espinha dorsal não vista, não da série, mas do conceito maior de O Sexo e a Cidade. O Sexo e a Cidade é, de certa forma, uma reação a viver numa realidade #metoo, é, num sentido, um resultado disto.
Em O Sexo e a Cidade, que amiga escolheria: Miranda, Charlotte ou Samantha?
Eu não sei, talvez a Miranda ou a Samantha… A Miranda, talvez seja a mais sensata.

E de Ainda Há Sexo na Cidade?: Sassy, Kitty, Queenie, Tilda Tia ou Marilyn?
Talvez Sassy. [risos]
Como é o seu dia a dia?
Quando eu estou a escrever é muito disciplinado. É como ir ao escritório. Levanto-me e trabalho e geralmente escrevo de seguida até às 14h ou 15h. Depois faço um intervalo para fazer exercício, e a seguir, geralmente vou a uma loja comprar comida e começo a cozinhar um jantar elaborado que vai durar quatro horas.
Li que não come até às 16h. É verdade?
Sim, é verdade. O problema é que o almoço é o momento mais produtivo do dia, das 11h às 14h, então eu não quero parar de trabalhar. É por isso que não como.
No novo livro escreve sobre um creme facial russo que custa 15 mil dólares. Pagaria uma quantia dessas por um produto de beleza?
Não. Para mim, essa história é sobre o quão ridículo a disparidade de rendimentos é. Eles queriam 15 mil dólares por um creme facial e eu só conseguia pensar quem pagaria por isso. Era um ótimo creme facial, mas era uma metáfora sobre esta pressão nas mulheres para parecerem mais jovens. E eu vejo esses sítios em todo o lado em Nova Iorque no Upper East Side. É interessante.
Qual é o seu par de sapatos favorito?
Que pergunta difícil! Qualquer um que não aperte o pé.
Mas não tem um que seja o "seu amado"?
Eu tenho um par de Manolos [Manolo Blahnik], provavelmente comprei-os assim que a série começou. Isso aconteceu quando mal havia lojas da Manolo em Londres, era só um atelier, podia-se comprar os sapatos no piso de baixo e eles estavam a fazer os sapatos lá em cima. Eu acho que eu comprei um dos primeiros pares do modelo Hangisi. São em seda azul me ornamentados na parte da frente. São fantásticos e tenho-os há mais de 20 anos.

