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Museu do Tesouro Real e Leitão & Irmão dão longa vida às joias da Coroa

O museu e os antigos joalheiros da Coroa uniram-se para criar uma coleção de joias inspirada em peças históricas da monarquia portuguesa. A Máxima fez uma visita guiada ao espaço e ficou a saber tudo sobre a coleção antiga, e sobre a moderna – que qualquer visitante pode agora levar para casa.

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Programa da Máxima – Museu do Tesouro Real x Leitão & Irmão
18 de abril de 2025 às 08:00 Madalena Haderer

Há uns anos, numa visita a Paris com paragem em quase todos os sítios obrigatórios – convém sempre deixar alguma coisa por fazer, para espicaçar a vontade de voltar –, à saída da Sainte-Chapelle esta jornalista passou, com expectativas muito baixas, pela loja de recordações. Ao contrário do esperado, o stock não consistia apenas de postais, ímanes para o frigorífico e separadores de livros. Havia também uma pequena seleção de joias e foi assim que uns brincos de prata com pendentes em forma de flor-de-lis vieram parar a Cascais. Nada contra os ímanes. Também trouxe uma gárgula que vigia a cozinha do alto da campânula do exaustor, mas há qualquer coisa de mágico, de eterno, numa jóia que outros objetos não podem oferecer. Essa era uma falha do Museu do Tesouro Real, no Palácio Nacional da Ajuda. Falha que acaba de ser colmatada através da parceria entre o museu e a joalharia Leitão & Irmão, joalheiros da Coroa portuguesa.

Foto: DR

Agora, quem visitar este museu, pode levar para casa uma coroa – ou várias – e um rinoceronte. Falamos da nova Royal Collection, desenvolvida pela Leitão & Irmão em colaboração com o Museu Tesouro Real, inspirada nalgumas das peças mais emblemáticas presentes no museu: o Cofre da Cidadania, a Coroa Real Portuguesa e o grande Diamante em bruto de 35,80 ct. A coleção consiste em aneis, fios, brincos e botões de punho, em prata, ouro ou platina, com diamantes, e com o motivo da coroa incorporado. E depois, a peça mais icónica, mais histórica e que calha a ser também a mais cara (custa 3 mil euros): um rinoceronte em prata, igual aos quatro que suportam o Cofre da Cidadania, oferecido pelas colónias africanas ao príncipe real D. Luís Filipe, em 1907 – e que pode ser visto na coleção do Museu do Tesouro Real. Os rinocerontes de então, tal como os de agora, são todos da autoria da Leitão & Irmão. O molde dos pesados mamíferos africanos andou perdido anos a fio, mas, tendo sido descoberto recentemente, viu-se estrela da companhia nesta nova coleção revivalista.

Foto: DR

Nuno Vale, diretor executivo do Museu do Tesouro Real, explica que "sempre foi um objetivo, desde a abertura do museu, ter uma coleção de joias criada pela Leitão & Irmão, os joalheiros da Coroa, para que as pessoas que nos visitam possam levar um pouco do museu com elas para casa". Um museu que, de resto, tem muito com que maravilhar os visitantes. O diretor executivo dá alguns exemplos: "Mais de mil peças, mais de 22 mil peças preciosas, a coroa real, a mais imponente baixela em prata do século XVIII ao estilo francês, que existe no mundo, uma das maiores pepitas de ouro do mundo, com cerca de 20 quilos. Temos aqui uma grande coleção que é rara e de grande qualidade ao nível mundial."

Foto: DR

Jorge Leitão, da joalharia Leitão & irmão, está de acordo com o diretor sobre a relevância do museu e acrescenta o seguinte: "É um privilégio para o país ter as peças que a monarquia foi colecionando a partir do terramoto todas expostas no mesmo local. A casa Leitão foi joalheira da Coroa, o título foi atribuído pelo rei D. Luís e portanto, nada mais natural do que, junto com o Museu do Tesouro Real, fazermos uma coleção que junte esses dois mundos." Sobre a inspiração das as peças que foram criadas, Leitão refere, naturalmente, a coroa, que é, ao mesmo tempo, símbolo da monarquia e do museu.

Foto: DR

Mas vale a pena, acima de tudo, fazer uma visita a este museu. Um espaço recente, que só abriu em 2022. Antes disso, "e desde o final da monarquia, em 1910," conforme conta Nuno Vale, "as joias da Coroa estavam guardadas num cofre, em Lisboa", longe dos olhares de quem hoje as pode apreciar livremente. Aqui descobrirá, por exemplo, que todas as joias da Coroa que existiam em 1755 se perderam com o terramoto – umas soterradas, outras roubadas. Tudo o que encontramos no museu é, portanto, posterior a essa data. O próprio Palácio da Ajuda é posterior a essa data, tendo sido construído, às pressas, para albergar a família real na sequência do terramoto, primeiro, de madeira – ficou conhecido como a Real Barraca – e depois, como o vemos hoje: imponente, mas incompleto. De resto, o Museu do Tesouro Real fica numa ala moderna, construída recentemente para completar o palácio, cujos planos iniciais eram muito diferentes e de uma grandiosidade digna de Versalhes: para além de ter quase o dobro do tamanho que tem, era suposto ter uma escadaria até ao rio, ladeada por luxuriantes jardins. Um projeto difícil de imaginar quando hoje se desce a Calçada da Ajuda.

Foto: DR

Regressemos ao museu. A jóias da Coroa estão guardadas num enorme cofre com três andares, sem que nos ocorra que estamos, de facto, dentro de um cofre. "O edifício de mais alta segurança do país, com paredes de com dois metros de espessura e portas que pesam cinco toneladas e são abertas e fechadas todos os dias", conforme explica Nuno Vale. A Máxima teve a sorte de contar com o diretor executivo do museu como guia e, portanto, sugere também que marque uma visita guiada, não com ele, naturalmente, mas com um dos muito guias – faça-o contactando o Serviço Educativo do museu. Uma coisa é olhar para joias e para as legendas que as acompanham, outra coisa muito diferente é ter alguém a apontar-lhe uma caixa de rapé em ouro e prata, cravejada a diamantes e esmeraldas ao mesmo tempo que lhe diz, como nos disse Nuno Vale, o seguinte: "Depois do terramoto de 1755, Portugal ficou a ser visto como o coitadinho pelas outras casas reais europeias. Tinha-nos acontecido aquela desgraça, ficámos sem nada, o rei a viver num palácio de madeira. Para contrariar essa imagem, o rei D. José I pegou num punhado de diamantes e esmeraldas e pediu ao rei de França que mandasse o seu joalheiro fazer-lhe uma caixa de rapé. Como quem diz, temos tantas pedras preciosas, que podemos dispensar estas. E a caixa ficou tão bonita que, diz-se, a amante do rei, Madame Pompadour, quis uma também para si".

Foto: DR

O espólio está dividido em 11 coleções: Ouro e Diamantes do Brasil, Moedas e Medalhas da Coroa, Joias, Ordens Honoríficas, Insígnias Régias, Prata de Aparato da Coroa, Coleções Particulares, Ofertas Diplomáticas, Capela Real, Mesa Real, e Viagens do Tesouro. É nas Ordens Honoríficas, por exemplo, que está uma das peças mais impressionantes da coleção. "A Ordem do Tosão de Ouro é uma peça icónica, absolutamente magnífica, com 1741 diamantes, muitos deles de grande dimensão, alguns deles bastante raros, uma safira azul enorme, rubis, ouro e prata – um trabalho de joalharia nacional de um talento absolutamente fabuloso é, realmente, uma peça emblemática do museu", sublinha Nuno Vale acrescentando que era usada pelo rei, pendurada ao pescoço por um fita de veludo encarnado.

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Pela mão de Nuno Vale, ficamos também a saber que a coleção de joias mais sumptuosa pertence – ou pertenceu – à nossa glamorosa rainha italiana, D. Maria Pia, que casou com o rei D. Luís I e deu à luz o rei D. Carlos. É perante o brilho destas joias que o visitante – principalmente se for uma mulher – tende a ficar sem fôlego. Há peças de Fabergé, muitas peças de joalheiros italianos, umas encomendadas pelas rainha, outras oferecidas pelo seu pai, rei Vitor Manuel II, mas também muitas preciosidades saídas das mãos de joalheiros portugueses, como é o caso do diadema com estrelas em diamante, ouro e prata. As estrelas estavam montadas em cima de pequenas molas para que, a cada passo da rainha, tremessem e refletissem a luz. Nuno Vale acrescentou que, "quando a rainha usava a peça, fazia questão de saber de que lado estava o sol para que, ao entrar no espaço a luz incidisse imediatamente nas estrelas tremeluzentes". Um espetáculo sublime, mas que começou a deixar o povo agastado com os gastos, razão pela qual vemos também uma imagem de um quadro de D. Maria Pia, pintado por volta desta altura, em que a monarca aparece com roupa simples, e quase sem joias. A Revolução Francesa, afinal, ainda estava fresca na memória de todos.

Foto: DR

Como não podia deixar de ser, no museu encontramos também uma zona totalmente dedicada às peças Leitão & Irmão, onde podemos ver a única réplica que existe do Título de Joalheiros da Coroa Portuguesa, atribuído a esta casa em 1887, por D. Luís I. Jorge Leitão, apontando para o título, diz, meio a sério, meio a brincar: "Já não existe monarquia, mas nós nunca fomos destituídos, portanto, continuamos a ser joalheiros da Coroa."

Foto: DR

Mais à frente, diante do Cofre da Cidadania, temos o privilégio de assistir a uma conversa entre Nuno Vale e Jorge Leitão, ou seja, o guardião do cofre e o descendente de quem o construiu, com a jornalista a fazer-se cor de parede de museu. O diretor executivo, que ainda não teve oportunidade de estar em contacto direto com a peça, quer saber se o cofre abre. E abre, de facto. Depois pergunta que tipo de tratamento era feito ao marfim que está incluído na peça. Jorge Leitão entusiasma-se. "Os dentes vinham inteiros e depois eram cortados lá na oficina." Fazem ambos uma pausa para sublinhar que já não se pode usar marfim, pelas razões que se sabem, e concordando que assim seja. Jorge Leitão continua: "O marfim tem de ser cortado no sentido do veio do dente. Caso contrário, com a passagem do tempo, começa a rachar. E o que vemos ali são quatro peças impecáveis, como se tivessem sido ali colocadas hoje. Um trabalho francamente esplêndido. Do melhor que se fazia em qualquer parte do mundo."

Foto: DR

E ali estão, na base do cofre, os rinocerontes que suportam o seu peso, junto com o molde que permitiu as réplicas que hoje qualquer pessoa pode levar para casa. A coleção completa das joias feitas pela Leitão & Irmão para o museu estarão ali em exposição até dia 27 de abril. A partir dessa altura, continuarão disponíveis para compra tanto na loja do Museu do Tesouro Real, como na joalharia.

Onde? Museu do Tesouro Real, Palácio Nacional da Ajuda, Calçada da Ajuda, Lisboa Horário? De 1 de outubro a 30 de abril, todos os dias das 10h às 18h; de 1 de maio a 30 de setembro, todos os dias das 10h às 19h Preço? Um bilhete de adulto custa 11 euros. Um bilhete de família, para quatro pessoas, custa 35 euros. Há descontos para crianças, jovens e séniores. um bilhete com visita guiada pública (mediante disponibilidade) custa 13 euros Marcações para visitas orientadas privadas? Telefone: 210 312 814 ou email: servicoeducativo@tesouroreal.com 

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