“O máximo que tinha estado sem voar eram três semanas”
Se uns viram as suas vidas estagnadas com a chegada de um vírus que se tornou uma preocupação global, outros chegaram-se à frente com a nobre missão de cuidar. Uma enfermeira, uma piloto, uma chef e uma comissária da PSP contam-nos as suas histórias da pandemia.

Grávida de precisamente 40 semanas à data desta conversa, há oito meses que Diana Gomes da Silva, 36 anos, não voa um dos aviões da Easy Jet, companhia aérea onde é comandante (de Airbus A320) e da qual é embaixadora. Escassos minutos antes lhe ligar através de uma chamada no Skype, Diana Gomes da Silva chegava a casa, após uma caminhada matinal junto ao rio. É um ritual diário, confessa, nestes tempos estranhos. "Estava a ver os aviões a passar e pensava – o que será que ele ou ela [piloto] está a fazer agora? Tenho imensas saudades de voar, mas quando se está à espera de bebé as mulheres não podem."
Nesta profissão, é raro estar-se tanto tempo sem levantar voo, e agora que está quase a ter o seu filho, Diana ainda não consegue visualizar um regresso à nova normalidade. "O máximo que tinha estado sem voar a minha vida inteira tinha sido aquando das férias e não mais que três semanas. [Estes meses] foram difíceis, metade da minha gravidez foi passada na quarentena. Como ninguém estava a voar foi mais fácil, apesar de o meu marido [que também é piloto] ainda ter vestido a farda uns dias, e eu ter pensado que também queria fazer o mesmo [antes do pico da pandemia]."

Nascida em Lisboa, Diana formou-se em piloto de linha aérea e instrutora em Tires, aos 18 anos – na mesma altura em que se licenciou em Comunicação Social pela Universidade Católica. Acabou por entrar na SATA Internacional e começou a voar Airbus. Hoje é uma das mulheres pioneiras na indústria da aviação a nível mundial. Apesar de ter crescido a querer ser astronauta, apaixonada pela astrofísica, estava longe de imaginar que, depois de uma breve experiência como assistente de bordo viria a ser piloto e, mais tarde, tornar-se a primeira mulher e mais nova instrutora de aviação no Médio Oriente, ao fundar uma escola de acrobacia aérea em Abu Dhabi em 2009. Lá, e enquanto trabalhava na companhia aérea Etihad Airways, chegou a formar equipas de pilotos exclusivamente masculinas através desta escola.

A história começou uns anos antes, através de um convite de um amigo, que a levou a experimentar esta modalidade. Rendeu-se à adrenalina, e fez dela mais que um hobbie. "Juntava dinheiro, e ia para os Estados Unidos fazer cursos de acrobacia aérea. Percebi que isso me tornava melhor piloto de linha aérea. Acabei por comprar um avião, e fazer espectáculos e campeonatos de acrobacia área (…) e em 2008, quando eu dizia que achava essencial que os pilotos tivessem formação de acrobacia, a maior parte achava que eu não estava em mim. Agora, tornou-se obrigatório."

Quando a questiono sobre os primeiros pensamentos que teve quando a pandemia paralisou o espaço aéreo, a preocupação estampa-se-lhe no rosto. "Não tinha noção do impacto financeiro que a pandemia ia ter. A minha indústria, infelizmente, é das mais afectadas a nível mundial, com uma previsão de milhões de desempregados – entre 60 a 100 mil de pilotos - uns números terríveis. Estamos a falar de uma área em que há seis meses não existiam pilotos suficientes. Neste momento, há um excedente gigante. Tanto eu como o meu marido, todos os dias temos um colega que nos liga porque ficou desempregado. No Médio Oriente e na Europa está a sentir-se mais."
E se em tempos de confinamento todos sonhávamos com a mínima das viagens, nem que fosse de casa até à praia mais próxima, Diana não poderia estar mais certa ao afirmar que a sua esperança é a de que as pessoas queiram voltar a viajar de avião quando tudo isto passar. "Os estudos dizem que a aviação irá retomar o normal em 2023. Esperam-nos uns anos complicados." Sobre o futuro, e as lições que uma pandemia possa ter trazido à Humanidade, não hesita. "O que é que aprendemos? Acho que aprendemos a dar valor a um abraço, algo que tínhamos como adquirido. Fez-nos dar valor a isso, à família."

“Não podemos desanimar ou aquilo que fazemos perde sentido"
Se uns viram as suas vidas estagnadas com a chegada de um vírus que se tornou uma preocupação global, outros chegaram-se à frente com a nobre missão de cuidar. Uma bombeira, uma enfermeira, uma piloto, uma chef, uma comissária da PSP contam-nos as suas histórias da pandemia.