Cati Freitas apresenta novo álbum ‘Estrangeira’
O evento terá lugar em Belém, Lisboa, este sábado.

A cantora portuguesa Cati Freitas apresentará o seu novo álbum Estrangeira num showcase especial em Belém, Lisboa, este sábado, dia 15 de dezembro, às 11h. A sessão acontece no âmbito do lançamento de um novo projeto da Associação Corações Com Coroa: a criação de uma nova ala da maternidade do Hospital Nacional Simão Mendes, em Bissau, na Guiné-Bissau, destinada aos serviços de obstetrícia e ginecologia.
A iniciativa conta com o apoio da cantora. Cati desafiou 15 artistas plásticos a inspirarem-se nos seus novos temas e a criarem 11 obras – uma para cada canção do seu novo disco –, nas quais 10% do valor das vendas serão revertidas para a associação.

Sentámo-nos com a cantora e compositora natural de Braga para saber o processo de criação por detrás do retrato sentimental expresso pelas suas músicas. Do elogio ao amor, em Meu Amor, da afirmação da dor da perda, em Memória, até sobre a fé, em Falo com Deus.
Qual foi o desafio de fazer um novo disco e onze canções novas?
Para mim foi o ponto fulcral desta mudança em relação ao primeiro disco [o aclamado Dentro (2013)]. Este disco é maioritariamente autoral e escolher canções e revisitar canções é muito desafiante, nós também acabamos por ter que trazer essas canções para o nosso universo íntimo. Mas daí a tentar descrever sentimentos é um trabalho muito desafiante e eu quase nunca me sinto à altura para escrever um sentimento, porque eu acho que os sentimentos são os grandes tesouros dos homens. Então descrever um sentimento é uma coisa muito delicada e tentar ser mais fiel a este sentimento é o grande desafio, eu acho, para mim enquanto autora. É estar a sentir uma sensação e conseguir descrever em palavras esta sensação sem ser desleal, sem não ser fiel a esta sensação. Então foi um exercício que acabou por ser mais profundo em relação ao meu exercício de intérprete. Apesar da interpretação, que vem mais a frente, é preciso irmos buscar lá na alma o que nós queremos dizer. Enquanto a interpretação já vem de algo que já está feito com o qual nós nos identificamos ou não.

Qual é a sua relação com Braga? Porque você foi à cidade para se inspirar.
Eu nasci e vivo em Braga. Lá está, minha relação com a cidade de Lisboa também é próxima, porque eu tinha casa em Lisboa, nomeadamente em Sintra. E tinha outros projetos musicais no Porto antes de ter lançado o meu primeiro disco. Passou um ciclo de 10 anos que eu precisava fechar, então acabei por ficar um bocadinho mais de tempo em casa. Para além da agitação exterior, eu senti que eu estar em casa, no meu terraço, voltada para a Natureza acabou por me chamar para a minha própria Natureza e para essa clareza que eu queria contar. Foi uma preparação para o que viria a ser este novo disco. Portanto Braga foi o epicentro deste trabalho, não do ponto de vista geográfico, mas também do estado emocional do que estar na minha casa me proporcionou.
Se pudesse indicar sítios em Braga que são especiais que um visitante não pode deixar de ir ou fazer, quais seriam?

Eu acho que era muito interessante passarem pelo Bom Jesus, deitarem-se na relva do lago para observar o céu e ouvir as quedas d’água que por lá têm. Comer uns brownies na Livraria Centésima Página que são deliciosos, onde eu vou muito e lá tem cafeteria, vendem discos, têm exposições de peças, quadros, pinturas, trabalhos artesanais…é muito bonito. Dar uma volta pela Avenida da Liberdade e ir ver um concerto ao Teatro Circo de Braga, que é um dos teatros mais lindos que eu conheço.
Quais pessoas você nomearia que, sem elas ao lado, esse disco, talvez, não saía?
Tiago Costa, meu amigo arranjador e parceiro da produção deste disco. O Tiago é o meu tradutor. Eu não sei escrever música, então eu acabo por ter uma relação, antes das músicas começarem a tomarem forma. Eu gravo mensagens de 10 minutos a falar todo o contexto, a ideia sonora que eu tenho para elas, quais os instrumentos que eu imagino, qual a sensação que eu quero que elas transmitam depois nos arranjos. E para isso é preciso uma cumplicidade muito grande, neste caso, com o Tiago, para que tudo depois seja traduzido na forma como é traduzido. E depois, claro, os músicos que fizeram parte acabam também a ter um peso muito importante, porque foram músicos que, para além da sensibilidade trouxeram também essa universalidade no som, que era aquilo que eu pretendia para além da elegância também. Mas sem dúvida, o Tiago é o meu grande parceiro.
Como é ser "estrangeira" em Portugal?
Isso vem da sensação que eu tive no primeiro disco. Como o meu primeiro disco eu fui gravar para o Brasil, com músicos brasileiros, tive muitos compositores de fora também brasileiros e não só, eu senti que a forma que o disco aqui foi comunicado acabou por dar ênfase a essas influências, onde eu gravei, com quem eu gravei. Parece que tudo se tornou maior do que eu mesma, do que o cariz emocional do disco e com o facto de eu ser portuguesa. Eu cheguei a ouvir em conversas de bastidores, de agências e de editoras "isso não é música portuguesa", e então eu não conseguia compreender porquê diziam que não era música portuguesa aquilo que eu fazia. Apesar de ser de facto um disco onde se reflete muito as minhas influências, deste quadrantes geográficos, o que é normal, porque era o meu primeiro disco. Eu estava tentando encontrar-me no meio de todas aquelas sonoridades que tinham-me despertado o gosto pela música e pela arte. Então eu senti que me senti uma estrangeira dentro do meu próprio país, porque eu queria ir para a prateleira da música portuguesa, e havia – até hoje – uma grande dificuldade de catalogar a minha música. "Isto é jazz, isto é world music…" Isto é música portuguesa. Então o que eu já consegui com este disco é estar na prateleira de música portuguesa, que era o que me interessava. Mas eu acho que até senti-me estrangeira do ponto de vista subjetivo, por isso até que eu senti uma grande necessidade de me fazer vir mais à tona neste segundo disco. De tirar a atenção de onde eu gravei, com quem eu gravei para dizer esta é a Cati que está aqui.
Tem alguma música que toque mais o seu coração neste segundo disco?
É mesmo muito difícil responder a isto…Mas eu diria que…uma é mesmo difícil. A História do Silêncio é uma música que eu gosto muito, que eu acho que, lá está, tem aquele cariz muito sentimental e que parte desse desejo que nós vamos sentindo que, às vezes, nós estamos a viver uns com os outros, a viver com as pessoas que nós amamos e, por vezes, com o ruído da vida e com as rotinas da vida nós vamos parando de perceber a história do silêncio que cada um está querendo contar dentro de si. Então eu senti que eu consegui transmitir isto através da música, como quem chama aquela pessoa para si, "olha, não nos percamos uns dos outros, porque há tanto para viver. Vamos continuar a escutar a história do silêncio que cada um conta e tem". Então, a História do Silêncio é muito importante… e a Falo com Deus. Também, acaba por ter uma relevância, porque é a minha ligação com o divino. De facto, este disco tem esse cariz espiritual, quase que meditativo, mas não religioso. Depois a Memória também, que é uma canção para a minha avó.
Como era a sua relação com a sua avó?
Era uma relação de amor muito profunda. E como eu não vivi igual. Minha avó era uma pessoa muito carismática, era quase uma figura pública onde ela vivia. Era uma pessoa que me transmitia para além de uma certa nostalgia que ela tinha. Ela transmitia uma força do viver, um sentido de humor, uma garra, uma coragem e, nunca me esqueço, que ela sempre me disse: "filha, na vida nós precisamos sempre de sorrir. Então nunca te esqueças de sorrir". Eu sinto que a minha avó me protegeu imenso na infância, acho nunca ninguém me protegeu tanto como a minha avó, nunca ninguém me fez sentir tão amada quanto a minha avó me fez sentir. É claro que a minha mãe vai dizer "e eu, filha?". Vai ficar com ciúmes…
Showcase de Apresentação do Novo Álbum de Cati Freitas,‘Estrangeira’
Sábado, 15 de dezembro | 11h
Corações Com Coroa Café
R. da Junqueira nº 295/7 Belém, Lisboa – entrada pela Biblioteca de Belém.
