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Museu do Design e da Moda volta a abrir portas na Rua Augusta

Conserva, na arquitetura, as marcas de um tempo em que a baixa de Lisboa era o centro financeiro da cidade, mas o que aqui se guarda não é dinheiro, mas objetos de beleza e desejo. Que têm muitas histórias para contar. Falamos do Museu do Design e da Moda - MUDE - que reabriu ao público, depois de oito anos de obras.

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Mude
06 de agosto de 2024 às 16:43 Maria João Martins

A espessura da porta da caixa-forte não deixa dúvidas sobre o que aconteceu durante décadas no número 24 da Rua Augusta: Neste lugar, em centenas de gavetas protegidas dos olhares de quem passava lá fora, guardavam-se tesouros. Dinheiro, e títulos, claro, mas também joias raras e relógios tão preciosos que, dir-se-ia, serviam mais para desafiar o tempo do que para o contar. De certo modo, o espírito do lugar mantém-se, uma vez que este edifício já não acolhe um banco, mas um museu - o Museu do Design e da Moda, onde continuam a guardar-se tesouros, já não para os ocultar de eventuais olhares cobiçosos, mas para os partilhar com o público visitante.

Depois de oito anos de atribuladas obras de requalificação, o MUDE reabriu ao público no final de julho, mas sendo ainda o mesmo que encerrou provisoriamente em 2016, é também um espaço renovado. Bárbara Coutinho, a diretora (já o era na fase anterior) explica à Máxima: "É um museu que se desenvolve em continuidade desde 2009, quando abrimos pela primeira vez, mas que também conheceu uma grande e profunda transformação."

Foto: @Mude

Por ora (e até setembro) os holofotes incidem sobre o próprio espaço, na aparência quase despojado de objetos. "Edifício em Exposição" permite ao visitante conhecer a arquitetura, evolução e as várias intervenções realizadas na perspetiva do design. Como nos diz Inês Correia, responsável pela conservação das coleções: "É uma exposição peculiar porque o que está em exposição é o próprio museu, apesar de haver algumas peças distribuídas pelos próprios pisos."

O protagonismo, há que dizê-lo, é devido. Antiga sede do Banco Nacional Ultramarino, o edifício não só testemunha uma época em que a Baixa de Lisboa era o coração financeiro do país, como ainda nos permite ver, em detalhes sabiamente conservados, a riqueza da intervenção assinada pelo Arquiteto Cristino da Silva, em meados do século XX. Como escreve Bárbara Coutinho na obra MUDE - Transformações na Perspetiva do Design: "Cristino da Silva concebe os detalhes com beleza e requinte, pensando de forma integrada em todos os elementos arquitetónicos, peças de mobiliário, luminária e obras de pintura e escultura especialmente criadas para este local por artistas portugueses, como Guilherme Camarinha (1912-1994), Jaime Martins Osório (1899-1970) e Tavela de Sousa (1913-1998)."

Foto: @Mude

Respeitando a fisionomia pombalina da construção, Cristino da Silva, que assinou outros projetos importantes como o Teatro Capitólio, o pórtico do Parque Mayer, em Lisboa, ou boa parte das obras da Cidade Universitária de Coimbra, soube conferir um cunho de modernidade ao edifício, compatível com o ritmo já acelerado de uma grande instituição bancária na segunda metade do século XX. 

Este museu renovado soma às cerca 12 mil peças que constavam do seu inventário, mais um milhar de objetos de Design de todo o tipo, entre os quais há que destacar a colecção do antigo Teatro da Cornucópia, que cessou atividade em 2016. A partir de setembro, os visitantes poderão ver a exposição de longa duração no piso 3, com peças do acervo do Museu, seguindo-se inaugurações graduais de exposições temporárias, de temáticas diversas, nos pisos 1, 2 e 4.

Foto: @Mude

Uma das grandes novidades deste MUDE é a abertura de uma área de reservas visitáveis, que dará particular destaque ao Design gráfico e à Joalharia. Para Inês Correia, esta é uma zona particularmente interessante, uma vez que permite "ao público não só compreender melhor o trabalho invisível que se faz nos museus, como permite fazer uma abordagem das coleções em paralelo. O que é muito importante quando há um acervo tão extenso como o do MUDE." Bárbara Coutinho enfatiza a interatividade do processo: "Esta é uma tendência que tem vindo a ser marcante em muitos museus internacionais: Permitir que o público tenha acesso a zonas reservadas do museu. Há meses que temos vindo a trabalhar para que isso aconteça, para que haja uma interação maior com o público de várias idades."

Foto: @Mude

Num mundo em que a digitalização domina cada vez mais o quotidiano e a criatividade, Bárbara Coutinho espera também que a experiência no museu "permita às novas gerações perceber como se faziam as coisas antes da digitalização e como se passou de uma coisa à outra, o que se ganhou e se perdeu. Qual era a relação entre o pensamento e a mão, no ato criativo analógico?"

Mas porque estes milhares de peças depositadas no MUDE são tão preciosos como frágeis, entre as intervenções realizadas ao longo destes últimos anos, destaca-se o reforço estrutural, que garante capacidade anti-sísmica e a valorização dos materiais pré-existentes, nomeadamente tijolo, betão e pedra, bem como das diferentes técnicas de construção aplicadas. Segundo a Câmara Municipal de Lisboa o objetivo foi "transformar o edifício num testemunho vivo de design, arquitetura e engenharia". Também por causa disso, as galerias para as exposições não vão ter quaisquer divisórias ou revestimentos e os interiores vão ser alterados a cada nova exposição. 

Foto: @Mude

Grande sucesso de público está a ter já a biblioteca, no primeiro piso, vocacionada, como não podia deixar de ser, para o Design e para a Moda. Para os próximos meses está anunciada já a abertura da loja do Museu (no piso térreo) e de um restaurante no terraço, cuja vista sobre a Baixa e o Tejo é de cortar a respiração.

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