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Já para a cama!

A relação de um casal com a sua cama pode ser vista como um ponto de partida ou até como uma metáfora para o resto da sua vida em comum. A Máxima falou com Maria José da Silveira Núncio a propósito do lançamento do livro O meu lado da cama. 

Já para a cama!
Já para a cama!
26 de agosto de 2014 às 16:23 Máxima

A professora universitária e mediadora familiar partilhou connosco um pouco da sua experiência profissional e também alguns conselhos.

 

Qual a importância real do “fator cama” na vida afetiva do casal?

 

O fator “cama” ou mais exatamente as vivências sexuais do casal são importantes, enquanto fator de satisfação e realização dos indivíduos, na relação a dois. Todavia, é importante que exista realismo e que as pessoas estejam conscientes de que a satisfação no plano sexual está relacionada com outras dimensões e circunstâncias, quer da vida a dois, quer da vida de cada um dos elementos do casal.

Passada a fase inicial de uma relação (deslumbramento, novidade, paixão...), é natural que a “chama” se apague um pouco e que o conforto e as rotinas levem a melhor. Como é que os casais podem aumentar a sua satisfação a nível sexual, redescobrir o prazer de estar juntos e valorizar a sua vida enquanto casal?

 

A sexualidade do casal vai evoluindo, como evoluem, também, as outras dimensões da relação. A paixão do início da relação tende, com demasiada frequência, a criar visões ilusórias, tanto a respeito do nosso parceiro, quanto a respeito das vivências a dois, onde costuma pontuar uma relação sexual apaixonada e plenamente gratificante, em boa medida ligada aos fatores de “novidade” e de “descoberta”. Naturalmente, há que estar consciente de que este empolgamento acaba, inevitavelmente, por esmorecer e as próprias rotinas do quotidiano fazem com que a gratificação percebida comece a ser menor. Todavia, o importante é que isto seja encarado como absolutamente normal e que seja falado (e vivido) sem dramas pelo casal. E, depois, há que saber encontrar, juntos e abertamente, novas formas de “atualizar” o prazer.

 

Segundo o seu livro, com o nascimento de uma criança, é frequente que a relação a dois se ressinta e que haja uma transformação natural do quotidiano. Como é que os casais podem contornar isso?

 

O nascimento de um filho sendo, geralmente, um momento de enorme felicidade para o casal é também um dos acontecimentos que, comprovadamente, causam maior tensão nos indivíduos. Do ponto de vista individual, há a perceção de um acréscimo de responsabilidades e de um novo compromisso, distinto de tudo o que foi experimentado antes da parentalidade. Do ponto de vista da relação do casal, há, obrigatoriamente, uma reorganização dos tempos, das rotinas e dos hábitos e há como que um recentrar de atenções que deixam de se orientar apenas para o parceiro e se reorientam para o bebé. É frequente que haja, em simultâneo, uma menor disponibilidade para a sexualidade que é fruto de uma combinação de fatores em que se contam, além dos já mencionados, o cansaço e o stress. É ainda frequente que um dos elementos, mais comummente o homem, se sinta como que “preterido”, em relação ao bebé, nos afetos da sua companheira. É por isso recomendável que pai e mãe partilhem os tempos e as tarefas de cuidado ao bebé, para evitar que se forme essa espécie de “círculo impenetrável” entre o bebé e a mãe, do qual o pai se sente excluído. Por outro lado, é fundamental que o casal se esforce para manter viva a sua identidade conjugal, além da sua nova identidade de pais, e isto passa, em boa medida, pela reserva de momentos para serem vividos a dois, deixando a criança com familiares ou amigos. Reservar fins de semana e uns dias de férias a dois é essencial para a qualidade da relação e é também benéfico para as crianças que vão aprendendo a socializar num núcleo mais alargado e vão, progressivamente, construindo a sua capacidade de autonomia.

 

Até que ponto é que uma criança pode/deve partilhar o quarto e a cama dos pais?

 

Embora exista, atualmente, alguma controvérsia em torno desta questão, eu considero que não é benéfico que os filhos partilhem o quarto dos pais, na medida em que, para o desenvolvimento das crianças, é importante que se estabeleçam limites e regras e, neste ponto, a delimitação de espaços dentro da casa é também uma dimensão importante, que ajuda as crianças a desenvolverem noções essenciais e estruturantes de intimidade e privacidade. Por outro lado, para os pais, a reserva do espaço quarto é, igualmente, uma forma de preservação da tal identidade de casal.

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 É importante para o casal expandir a sua vida sexual para fora da cama (ou do quarto)?

 

É importante que o casal se realize plenamente na sua vida sexual e que fale, abertamente e sem culpas ou receios, sobre as suas fantasias e expectativas. Se estas passarem por expandir a vida sexual para outros espaços “menos convencionais”, pois que o façam. No entanto, sublinho que nesta matéria não há fórmulas. Tudo depende da vontade e, nesse sentido, nada deve ser visto como uma “obrigação”, nem devem existir “prescrições” universais nesta matéria.

 

Se por um lado a maturidade de uma relação leva a mais intimidade, mais conhecimento e mais satisfação sexual, por outro, o envelhecimento e a própria modificação dos corpos podem levar a um maior constrangimento ou mesmo falta de desejo?

 

Claro que a nossa vida sexual não é igual aos trinta anos e aos cinquenta, e as grandes frustrações ocorrem quando as pessoas não são capazes de se consciencializar deste facto. Costumo dizer que se ganha em intimidade e se perde em empolgamento, mas isso é um processo normal. A questão é que vivemos em sociedades que nos impõem modelos hipersexualizados, sociedades muito erotizadas e hedonistas em que o mito da eterna juventude se liga ao da eterna paixão. Perante isto, tendemos a colocar as expectativas, também em matéria da vida sexual, demasiado altas, eu diria irrealistas, e, daí, a frequente perceção de insatisfação. Aprender a “normalizar” a mudança nos contornos da relação a dois, aprender a entendê-la como inevitável, é fundamental para a valorização do nosso parceiro, para a nossa própria valorização e, sobretudo, para a valorização da relação que, juntos, construímos.

 

Conversar na cama é bom e recomenda-se?

 

Conversar na cama é bom para descontrair, para nos “encontrarmos” com o outro, connosco próprios e com a nossa relação. Isto significa que não devemos levar para a cama as situações potencialmente tensas e perturbadoras, quer elas respeitem à nossa vida profissional, quer se relacionem com a vida a dois ou com a vida familiar. Essas situações devem ser resolvidas antes de deitar ou, na impossibilidade de as resolver, devem ser “adiadas” para a manhã seguinte. Conversar na cama, sim, mas apenas sobre assuntos prazenteiros e sobre planos de futuros felizes.

 

A distribuição de tarefas entre os membros de um casal parece cada vez mais equilibrada. Acha que isso se reflete em disposição para o sexo?

 

A sobrecarga e o cansaço de um dos elementos do casal é um dos fatores mais apontados como causa da diminuição do desejo sexual e da própria atividade sexual do casal. A partilha de tarefas, além de reforçar a comunhão e a identidade do casal, permite atenuar a dimensão de esforço que, habitualmente, leva a uma sobrecarga das mulheres. Por isso, eu costumo dizer que se o prazer deve ser a dois, o trabalho deve sê-lo também.

 

Sendo mediadora familiar, quais são os motivos que mais levam os casais a procurá-la? A vida sexual é um dos fatores mais determinantes?

 

É um fator importante, ainda que, muitas vezes, latente e não verbalizado. O que se passa é que, no casal, ainda há muitos tabus quando o assunto é a sexualidade. Há receios e preconceitos que, sendo absolutamente normais, devem ser ultrapassados pelo próprio casal, dentro do casal. Quando isso não consegue ser feito, acumulam-se tensões e instala-se uma conflitualidade que alastra aos outros domínios da vida a dois. Nesta matéria, o segredo é não haver segredos e falar de forma franca e desinibida, dando a conhecer ao outro eventuais fatores de insatisfação e revelando-lhe fantasias e anseios.

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