Injeções de emagrecimento. O que sabemos sobre elas
No último ano, uma série de medicamentos injetáveis para emagrecimento têm dominado o mercado. Exploramos como estes medicamentos funcionam, o impacto que têm tido na cultura popular e as controvérsias que os rodeiam.

Ozempic, Wegovy, Mounjaro e Zepbound são exemplos de medicamentos que pertencem a uma classe terapêutica conhecida como agonistas de GLP-1, uma hormona que o corpo produz naturalmente e que retarda o esvaziamento gástrico, prolongando a sensação de saciedade. Estes fármacos, desenvolvidos originalmente para tratar a diabetes tipo 2, regulando os níveis de glicose, imitam a ação desta hormona revelando um efeito adicional: a capacidade de reduzir a sensação de fome e o desejo por alimentos, resultando numa significativa perda de peso para muitos pacientes. Quando administrados por injeção, substâncias como a semaglutida (Ozempic) e a tirzepatida (Mounjaro) amplificam esta sensação de plenitude, ajudando a controlar a ingestão calórica e a facilitar a perda de peso em combinação com uma dieta equilibrada.
Contudo, estes agonistas de GLP-1 não estão isentos de efeitos adversos, como náuseas, vómitos e diarreia. Além disso, devido ao seu tamanho molecular reduzido, estas proteínas são rapidamente decompostas no trato digestivo, o que torna a administração oral um desafio técnico. Apesar da empresa farmacêutica Novo Nordisk ter lançado o Rybelsus, uma versão oral da semaglutida para diabetes, as injeções semanais permanecem a forma de administração mais eficaz para o controlo do peso. A Novo não foi a única avançar com um comprimido, a Lemme, empresa de suplementos vitamínicos e botânicos de Kourtney Kardashian Barker, desenvolveu a sua formulação de GLP-1, prometendo uma redução de peso com a sua ingestão - ato que gerou controversia nas redes sociais.

A popularidade das injeções de emagrecimento trouxe consigo um fenómeno cultural que remonta aos anos 90: a obsessão pela magreza extrema. Enquanto naquela época a magreza era promovida por revistas de Moda e pela indústria do entretenimento, hoje, com a ajuda da ciência, os padrões corporais extremos parecem mais acessíveis. Várias celebridades foram alvo de especulação, sendo acusadas de recorrerem a estas injeções para manter figuras magras e definidas, trazendo de volta um ideal de corpo "magro a qualquer custo".
Essa obsessão renovada pela magreza levanta questões sobre saúde mental, padrões de beleza irrealistas e as consequências para o público, especialmente para os jovens que acompanham figuras públicas nas redes sociais. Com a "cultura da magreza" a retomar força, preocupa especialistas que o uso das injeções GLP-1 se torne uma norma social, promovendo um estigma em torno do corpo saudável e diversificado. A pressão por um corpo magro pode levar muitos indivíduos a optarem por estas injeções sem um verdadeiro quadro clínico de obesidade, expondo-os a efeitos secundários desnecessários e perigosos.
Dado o aumento da procura por estes medicamentos, as farmacêuticas têm apostado no desenvolvimento de novas versões, incluindo formulações orais. Uma recente aposta da empresa farmacêutica Novo Nordisk, por exemplo, é o medicamento experimental Amycretin, que numa fase inicial mostrou uma perda de peso superior à do Wegovy. Este fármaco, tal como o Wegovy e o Ozempic, atua sobre o GLP-1 e, adicionalmente, sobre a amilina, outra hormona reguladora da fome, sugerindo que estes desenvolvimentos podem vir a oferecer alternativas ainda mais eficazes e de administração mais simples.

Para além do Amycretin, a empresa farmacêutica Eli Lilly está também a testar novas moléculas, como a orforglipron e a retatrutide, que poderão vir a representar a próxima geração de terapias para a perda de peso. A questão da acessibilidade e da conveniência de administração são, no entanto, aspetos centrais no desenvolvimento. Embora as injeções semanais sejam amplamente aceites, a introdução de um comprimido diário poderia expandir o mercado e permitir que mais pessoas aderissem ao tratamento sem os custos e desafios logísticos das injeções, que, além de serem mais caras, requerem refrigeração.
Apesar dos avanços farmacêuticos e dos benefícios terapêuticos comprovados, o uso destas injeções levanta um debate ético. O alargamento da prescrição para pessoas que não apresentam um quadro de obesidade clínica, mas que desejam perder peso por razões estéticas, suscita preocupações. Além disso, as redes sociais desempenham um papel considerável neste fenómeno. A divulgação de "corpos perfeitos" associada a supostas "fórmulas mágicas" de emagrecimento influencia um vasto público, e há receios de que estas terapias sejam vistas como uma solução simples para problemas complexos de saúde. Ao mesmo tempo, o impacto a longo prazo do uso prolongado de agonistas GLP-1 ainda não é completamente compreendido, e novos estudos sobre a segurança a longo prazo são essenciais para garantir que estes medicamentos não introduzem riscos adicionais para o organismo.
As injeções de emagrecimento como a Ozempic, a Wegovy e a Mounjaro representam uma verdadeira revolução na medicina de combate à obesidade, mas o seu uso indiscriminado reflete um problema de saúde pública que transcende o tratamento médico. Estas terapias têm potencial para mudar vidas quando utilizadas em contextos clínicos apropriados; no entanto, o seu impacto cultural e os riscos associados ao uso com fins estéticos exigem uma discussão mais profunda.

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