Guadalupe Nettel vence prémio Jan Michalski 2025
No seu livro "A Filha Única", a escritora mexicana aborda uma das questões femininas mais íntimas e universais: ter ou não ter filhos. É um romance profundo e cheio de sabedoria que fala de maternidade, da sua negação ou aceitação, das dúvidas, incertezas e até dos sentimentos de culpa que a rodeiam.
Foi com o livro A Filha Única que a escritora mexicana Guadalupe Nettel acaba de conquistar o prémio de literatura da Fundação Jan Michalski, um dos galardões internacionais mais prestigiados dedicados à ficção contemporânea. O romance, que já tinha chegado à final do Booker Prize em 2023 – certamente o prémio anual mais aguardado pelo público, suplantado apenas pelo Nobel –, volta assim confirmar o impacto global de uma autora que tem vindo a destacar-se pela forma como escreve, sem filtros nem melodramas, sobre as tensões e ambiguidades da vida moderna – sobretudo as que recaem sobre as mulheres. Com mais este prémio, Nettel confirma não apenas o momento de força da literatura escrita por mulheres, mas também o alcance universal de histórias que abordam decisões íntimas com coragem, nuance e inteligência.
No livro, Nettel mergulha numa das questões mais íntimas e universais: ter ou não ter filhos. A Filha Única conta a história de Alina que fica a saber, aos oito meses de gestação, que a sua filha não irá sobreviver ao parto. A jovem mulher e o companheiro embarcam então num processo doloroso, e ao mesmo tempo surpreendente, de aceitação e luto. Esse último mês de gestação transforma-se, para eles, numa estranha oportunidade de conhecerem aquela filha a quem tanto lhes custa renunciar. Laura, grande amiga de Alina e narradora da história, fala-nos do conflito deste casal enquanto reflete sobre o amor e a sua lógica por vezes incompreensível, mas também sobre as estratégias que os seres humanos inventam para superar a frustração. Simultaneamente, Laura conta também a história da sua vizinha Doris, mãe solteira de um menino encantador com problemas de comportamento.
Escrito com uma simplicidade apenas aparente, A Filha Única é um romance profundo e cheio de sabedoria que nos fala de maternidade, da sua negação ou aceitação, das dúvidas, incertezas e até dos sentimentos de culpa que a rodeiam, das alegrias e angústias que a acompanham. É também um romance sobre três mulheres – Laura, Alina, Doris – e dos laços de amizade e amor que estabelecem entre elas. Foi esta abordagem, simultaneamente racional e emocional, que conquistou os leitores e, agora, também o júri do prémio, que inclui nomes como Gonçalo M. Tavares e Jonathan Coe.
Na declaração oficial, o júri sublinha que a autora “explora a ambivalência materna e as contradições que moldam as experiências das mulheres com a sensibilidade de uma cirurgiã”, descrevendo A Filha Única como um romance que pensa a maternidade “para além das restrições sociais impostas aos corpos femininos”.
A atribuição do prémio reforça a ascensão da autora como uma das vozes mais estimulantes da literatura latino-americana atual. Nascida na Cidade do México em 1973, Guadalupe Nettel divide a escrita com o cargo de diretora da Revista de la Universidad de México e colabora regularmente com publicações internacionais como Granta, The White Review, El País, The New York Times, The Passenger, La Repubblica e La Stampa. A sua obra, traduzida em mais de vinte línguas, tem sido adaptada ao teatro e ao cinema, e é conhecida pela forma meticulosa como desmonta temas ligados à identidade, à família e à autonomia pessoal – sempre com personagens que habitam as zonas cinzentas entre o desejo e o dever.
A Filha Única foi lançado em Portugal em Abril deste ano pela D. Quixote, uma chancela do grupo LeYa. Custa 17,70 euros e está disponível nas livrarias do costume.
Carla Pais vence o Prémio LeYa 2025
Com o seu romance original "A Sombra das Árvores no Inverno", a autora é a segunda mulher a vencer este prémio que conta já com 14 edições.
A verdadeira história de Griselda, a mãe que matou dois filhos, contada em livro
“Naquele Dia” – assim se chama o livro –, 14 de dezembro de 1984, Griselda matou os dois filhos de três e quatro anos. Flavia, a filha de seis anos, sobreviveu. A escritora Laura Alcoba reconstitui esta história 30 anos depois. Um relato que é de uma tristeza profunda, mas também de uma grande beleza.
Sugestão de livro. Uma “Sandwich” de areia, lágrimas e flutuações hormonais
O hilariante e muito realista relato de umas férias em família do ponto de vista da pobre mãe, que vive ensanduichada entre filhos jovens adultos e pais velhotes e doentes – enquanto tenta sobreviver à menopausa sem fazer implodir o casamento.
Quem é Samantha Harvey, a vencedora do Booker Prize deste ano?
Foi com o livro "Orbital", o seu quinto romance, que esta autora britânica venceu o galardão literário mais prestigioso do Reino Unido. Este ano, a shortlist de candidatos era quase totalmente composta por mulheres, algo que, na história do prémio, ocorreu apenas em 2019.