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Não levantaríamos a questão, caso o livro Everything You Know About Art Is Wrong (Tudo o que sabe sobre arte está errado),deMatt Brown, publicado em setembro de 2017, não abordasse diretamente o tema. O livro percorre a história de obras de arte marcantes ao longo das décadas, como exibições pouco usuais e em muito controversas: The Fountain (A Fonte), de Marcel Duchamp, um urinol exibido ao contrário assinado com "R.Mutt, 1917" (na altura o seu pseudónimo), é uma das obras que serve de exemplo. Na forma, é simples, no conceito, complexo. Naquela época, ao submeter esta obra de arte à galeria, Duchamp desafiava as várias noções de arte ao mesmo tempo que nos fazia refletir sobre um objeto de uso diário de uma outra perspetiva.
A verdade é que apesar de um mero objeto, A Fonte marcou uma viragem no pensamento artístico e é hoje considerada uma das mais importantes obras do século XX. Ainda assim, o original não se vê há mais de um século. Podemos ver uma réplica no Tate Modern, em Londres, outra no Museu de Arte Moderna de São Francisco, outra no Centro Pompidou, em Paris, e, tal como estas, mais 12 pelo mundo inteiro. Réplicas. Ao original ninguém sabe o que aconteceu: só existe uma fotografia a provar que, de facto, existiu e esteve exposto. Apesar de gostarmos de pensar que todas as peças de arte são únicas, com a abordagem à história, o autor leva-nos a refletir sobre o quão frequentes podem ser as réplicas de obras famosas, mesmo as dos mais conhecidos (e incontestáveis) artistas.
Apesar de tal prática ser comum nos tempos medievais (quando os artistas recriavam cenas bíblicas para vários compradores), continuou no Renascimento e na contemporaneidade. Veja-se o caso da obra Work no. 88, de Martin Creed, uma folha de papel A4 amarrotada, que o próprio autor replicou centenas de vezes nos anos 90. Hoje, um dos exemplares está à venda por mais de 3 mil euros. Quão original será?
Não são só as obras em escultura que são recriadas, também os pintores fazem, muito frequentemente, mais do que uma cópia da mesma obra. No século XV, a obra Madonna and Child (Madonna e a Criança), de Lorenzo Ghiberti, foi replicada mais de 40 vezes e está por todo o mundo, em algumas versões com ligeiras modificações. Mais recentemente, o autor destaca o caso de Sunflowers (Girassóis), os famosos girassóis amarelos de Vincent Van Gogh. A obra original, explica Matt Brown no livro, foi destruída no Japão durante a II Guerra Mundial. Como? Van Gogh fez quatro quadros de Girassóis, no verão de 1888. Dois deles estão nas galerias de arte na Alemanha e na Inglaterra, outro está numa coleção privada e o outro foi queimado em 1945, no mesmo dia em que a bomba atómica arrasava Hiroshima.
Mais tarde, em 1889, o artista fez três novas cópias da famosa obra (estão em Filadélfia, Amesterdão e Tóquio). No total, o quadro tem sete versões diferentes – só seis, no entanto, ainda permanecem. Há quatro versões de The Scream (O Grito), de Edvard Munch (1893); há 250 cópias da obra Water Lilies (Nenúfares), de Claude Monet (apesar de a original ter sido criada em 1897, as outras foram feitas nos anos seguintes), e até a épica obra de Leonardo Da Vinci, a Mona Lisa exposta, hoje, no Louvre, parece ser uma segunda obra do autor, já que a Isleworth Mona (Mona Lisa de Isleworth) parece ter surgido antes e existem provas de que foi parcialmente pintada por Da Vinci. "Gostamos de pensar nas obras criativas como autênticas – criadas pelo artista uma vez e para sempre. Mas há uma surpreendente quantidade de arte que tem mais do que uma forma de existência", conclui Matt Brown, no livro.
Everything You Know About Art Is Wrong, de Matt Brown, €10,03 (Batsford).
1 de 8 /The Fountain (A Fonte), de Marcel Duchamp, um urinol exibido ao contrário assinado com “R.Mutt, 1917” (na altura o seu pseudónimo).
2 de 8 /O caso da obra Work no. 88, de Martin Creed, uma folha de papel A4 amarrotada, que o próprio autor replicou centenas de vezes nos anos 90. Hoje, um dos exemplares está à venda por mais de 3 mil euros.
3 de 8 /No século XV, a obra Madonna and Child (Madonna e a Criança), de Lorenzo Ghiberti, foi replicada mais de 40 vezes e está por todo o mundo, em algumas versões com ligeiras modificações.
4 de 8 /Van Gogh fez quatro quadros de Girassóis, no verão de 1888. Dois deles estão nas galerias de arte na Alemanha e na Inglaterra, outro está numa coleção privada e o outro foi queimado em 1945, no mesmo dia em que a bomba atómica arrasava Hiroshima.
5 de 8 /Há quatro versões de The Scream (O Grito), de Edvard Munch (1893).
6 de 8 /Há 250 cópias da obra Water Lilies (Nenúfares), de Claude Monet (apesar de a original ter sido criada em 1897, as outras foram feitas nos anos seguintes).
7 de 8 /Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci, no Louvre, parece hoje ser uma segunda obra do autor, já que a Isleworth Mona (Mona Lisa de Isleworth) parece ter surgido antes e existem provas de que foi parcialmente pintada por Da Vinci.
8 de 8 /A Isleworth Mona (Mona Lisa de Isleworth) parece ter surgido antes da obra Mona Lisa e existem provas de que foi parcialmente pintada por Da Vinci.
A curadoria literária do Festival Internacional de Cultura está a cargo da escritora Inês Pedrosa. Entrevistámo-la para saber mais sobre os bastidores de toda a programação desta 3ª edição.