Claire de Santa Coloma: “ser artista parecia-me tão fascinante como ser astronauta”
Conversámos com Claire de Santa Coloma, a artista argentina vencedora do Prémio Novos Artistas da Fundação EDP.

Depois de terem sido eleitos seis finalistas ao Prémio Novos Artistas da Fundação EDP, no passado dia 19 de setembro, Claire de Santa Coloma foi eleita a vencedora do prémio, que consiste em 20 mil euros, destinados a apoiar o trabalho da artista. O júri, constituído por Eduardo Batarda (artista), Penelope Curtis (diretora do Museu Gulbenkian), Bill Fontana (artista), João Mourão (codiretor da Kunsthalle Lissabon) e presidido por Pedro Gadanho (diretor do Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia), visitou a exposição com a equipa curatorial de seleção, Ana Anacleto, Filipa Oliveira e João Silvério, e com os artistas Ana Cardoso, Bernardo Correia, João Gabriel, Ana Guedes, Igor Jesus e Claire de Santa Coloma. Ana Guedes recebe a Menção Honrosa pela sua originalidade e pela sua capacidade em conjugar som, espacialidade e narrativa crítica.

Segundo a argumentação do júri, "Claire de Santa Coloma revela uma invulgar independência (…) o seu trabalho, rico em choques e sobreposições entre o que é óbvio e o que é subtil, entre o evocativo, o icónico e o funcional, entre o banal e o descritivo, ou entre o artesanal e o simbólico, suscita perplexidades e linhas de inquirição plenamente contemporâneas, e nada deixa fechado em relação ao seu próprio futuro." Fomos saber mais sobre o percurso da artista argentina.
Em pequena sonhava em ser artista?
Sim. Ser artista parecia-me tão fascinante como ser astronauta. Comecei a fazer esculturas aos nove anos.

Como descreve o seu fascínio pela arte contemporânea e como nasceu?
Não sei se posso falar de fascínio, mas sim de um processo natural que me liga ao contemporâneo. Gosto de arte. Posso emocionar-me com obras de Lorenzo Lotto, bem como com uma obra de Gordon Matta Clark ou com as fotografias de Cindy Sherman.
Quais são as maiores influências argentinas presentes na sua obra?

A vastidão da paisagem, a sua rudeza e sensação de imensidade, o contacto com o solo, os labores do campo, o artesanato ligado ao vestuário para cavalos, os livros de Julio Cortázar.
O que representa a instalação que apresentou no âmbito deste concurso e em que se inspirou para a criar?
A minha instalação é uma composição. O conceito por trás deste trabalho surgiu da ideia de que vivemos rodeados de composições e que talvez poderíamos escolher os elementos que nos rodeiam. Esta composição de esculturas foi pensada como um espaço de convivência entre as obras (sem hierarquias nem destaques), um espaço que se pode penetrar e experienciar. Trata-se de uma reflexão sobre a nossa relação com as obras de arte e, mais especificamente, com a escultura. Há uma voluntária referência a Brancusi e ao seu ateliê porque acho que este artista marcou um momento-chave na nossa relação com as obras de arte. Há também referências ao mobiliário e aos modos tradicionais de mostrar escultura.

Quais eram as suas expectativas em relação a este prémio?
A maior expectativa era a oportunidade de mostrar um trabalho que tem uma certa complexidade e fazê-lo num museu foi ainda mais estimulante.
Que inspirações artísticas encontra em Portugal?

A maior inspiração talvez sejam as conversas com os meus colegas artistas. Mas também a dança contemporânea (gosto especialmente do trabalho de Marlene Monteiro Freitas e de Tânia Carvalho). Aqui em Portugal tive maneira de conhecer mais o trabalho de artistas contemporâneos que respeito muito, entre os quais Leonor Antunes, João Penalva, Ângela Ferreira, Armanda Duarte, Mattia Denisse, Francisco Tropa, Belén Uriel, Fernando Lanhas, Alberto Carneiro, Edgar Pires, Ramiro Guerreiro, Salomé Lamas, Pedro Barateiro, Helena Almeida.
Já estão pensados projetos para o futuro?
Neste momento, sou artista residente no Complexo dos Coruchéus, no âmbito de Lisboa, Capital Ibero-americana de Cultura 2017. A 17 de novembro inaugura a minha exposição individual na Galeria 3+1 Arte Contemporânea, em Lisboa, e no mesmo mês, no dia 29, na Galeria Municipal do Porto, inaugura uma coletiva com as obras que a coleção António Cachola encomendou a 10 novos artistas para comemorar os 10 anos. Estou também a preparar um projeto para apresentar no próximo ano na Appleton Square, em Lisboa.

A exposição com os trabalhos dos seis finalistas está patente na Central até 9 de outubro de 2017.

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