Christine Lagarde: “Quando as mulheres contribuem mais, a economia melhora.”
O coffee table mais recente da Assouline reúne testemunhos imperdíveis de 100 figuras femininas que marcaram a atualidade em busca de um mundo mais justo.

Em Janeiro de 1991, a revista Máxima publicou uma entrevista exclusiva feita por Joanne Serling (do jornal Los Angeles Times) a Naomi Wolf, a autora de The Beauty Myth (1990). Hoje considerada umas das obras fundamentais do movimento feminista, nela Wolf descrevia o "beauty myth" (mito da beleza) como um ideal inatingível de perfeição física que encurralava a mulher moderna num ciclo infindo de insegurança e até ódio próprio numa tentativa de suprir a definição impossível que a sociedade criou de uma super mulher sem defeitos, cujo objetivo absoluto era o de agradar a quem a rodeava, especialmente ao sexo oposto.
Na entrevista, Wolf mencionava o medo que as mulheres sentiam em questionar o sistema patriarcal que as rodeava, de pedir o que é seu por direito, sem temer que isso comprometesse as suas relações afetivas com o parceiro. "Somos educadas no temor dos conflitos. Enquanto jovens, não nos deixam ser competitivas e por isso nunca aprendemos a debater a fundo as nossas diferenças. (...) Temos de aprender a gostar de discutir e a compreender que o conflito não ameaça a intimidade.".

Hoje, no que muitos consideram a era do pós-feminismo, este é um conselho que ainda se aplica à mulher de 2020: nunca desistir da igualdade de género nem daqueles que são os nossos direitos fundamentais.
Assim sendo, aconselhamos a que não perca de vista o livro da aclamada editora Assouline, intitulado Vital Voices: 100 Women Using Their Power to Empower. Editado por Elyse Nelson (com um prefácio da vencedora do Prémio Nacional do Poeta da Juventude, Amanda Gorman e ilustrações de Gayle Kabaker) a obra pretende celebrar 100 líderes globais que estão a redefinir o conceito de poder, desde as incontornáveis Ruth Bader Ginsburg ou Malala Yousafzai, a outras personalidades não tão conhecidas no nosso país como a ativista climática mexicano-chilena Xiye Bastica ou Oby Ezekwesili, a antiga Ministra da Educação nigeriana.
O livro é o produto final de uma exposição que decorreu no John F. Kennedy Center for the Performing Arts, na capital norte-americana de Washington D.C., durante o passado mês de março, na qual Kabaker apresentou o retrato de cada uma das 100 mulheres escolhidas (aos quais poderá ter acesso na edição).

Nele, cada líder partilha histórias pessoais, lições e ideias que nos mostram o impacto da liderança feminina, assim como a sua necessidade atual por todo o mundo. Embora cada caso seja distinto, claro, estes testemunhos são reunidos com o objetivo de retratar o poder transformativo do poder feminino que atravessa todos setores económicos, gerações e culturas.
Esta iniciativa chega num ano que tem exposto a importância crítica de uma liderança justa a todos os níveis, daí a importância de realçar a coragem destas mulheres. "A crise global mostrou-nos que as soluções que procuramos já existem, muitas vezes atributos de líderes femininas como as que aparecem nesta obra", escreve a autora Alyse Nelson.
"Vital Voices" é também o nome da organização sem fins lucrativos presidiada por Nelson, cujo objetivo é precisamente investir em mulheres que enfrentem alguns dos maiores desafios mundiais.

Entre estes 100 testemunhos preciosos, é de destacar o da juíza Ruth Bader Ginsburg, recentemente falecida e reconhecida mundialmente pelos seus esforços pela igualdade de género no trabalho, assim como por uma legislação mais justa: "As mulheres pertencem a todos os lugares onde estão a ser tomadas decisões... as mulheres não deviam ser exceção".
Do outro lado do Atlântico, a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, garante no seu testemunho que "é um imperativo moral, assim como económico, que se assegure que todas as mulheres tenham a oportunidade de alcançar o seu potencial". Lagarde acrescenta ainda que "a prova disso é simples: Quando as mulheres contribuem mais, a economia melhora. Quando as mulheres se dão bem, a sociedade melhora".
No que toca às causas sociais, igualmente difícil de ignorar entre a lista de nomes é o de Tarana Burke, a fundadora do célebre movimento #metoo contra o assédio e agressão sexual. "A minha visão para o movimento "Me Too" faz parte de uma visão coletiva de um mundo livre da violência sexual. Acredito que podemos construir esse mundo. Ponto final", remata.

Um livro com lições valiosas de mulheres pioneiras, já disponível à venda e para a acompanhar sempre. Como escreveu a ativista saudita Manal Al-Sharif, "Sê tu própria sem pedir permissão. O mundo vai sempre querer que sejas outra pessoa. Desaponta-o."
