Check-In Música: Um concerto por dia
Todas as novidades de mundo da música para o mês de agosto.

NORTE/SUL
Agosto ainda é mês de festivais. Para quem gostar de percorrer o país embalado pelos melhores sons, as paragens agora fazem-se mais longe das grandes cidades. Mesmo que longe do sucesso (e do encanto) de tempos passados, o Meo Sudoeste continua a ser um dos destinos de peregrinação dos festivaleiros. Entre os dias 6 e 10 de agosto, a Herdade da Casa Branca, na Zambujeira do Mar, recebe nomes como Seu Jorge, Ellie Goulding ou Jamie Cullum. Entre os dias 20 e 23 é a vez da Praia Fluvial do Tabuão se encher de sons, com o Festival de Paredes Coura a receber bandas como Franz Ferdinand, Cut Copy ou James Blake.
DISCURSO DIRETOCapicua é uma das muitas vozes nacionais que se vão ouvir no Bons Sons, o maior festival de música portuguesa, marcado para os dias 14 a 17 de agosto, em Cem Soldos, Tomar. Conversámos com ela sobre o álbum que vai levar ao palco.
- Verão é tempo de concertos. Como é que vai ser levar a Sereia Louca para a estrada? O seu canto é diferente quando escutado ao vivo?A principal diferença é para melhor! Isto porque ao vivo tudo tem mais emoção e as palavras saem com mais intensidade. Cria-se um momento especial e, entre a plateia e o palco, dá-se a troca! Ora isso em disco não é possível!
- Há o mesmo espaço, o mesmo tempo para entender a palavra?Claro que ouvir um disco de rap em casa ajuda a que se entendam todas as palavras e se captem todas as nuances, mas, como disse, ao vivo ganha-se em emoção e isso acaba por compensar os eventuais erros ou desacertos que possam acontecer! A piada do concerto ao vivo é a certeza de que estamos a viver um momento único e os pequenos erros fazem parte da imprevisibilidade do palco, para o bem e para o mal! Mas tenho a certeza de que, no essencial, quem vê o concerto acaba por sentir que percebe quase tudo e sente muito mais!
- Parece-me um disco muito feminino, cheio de memórias e de afetos.Sim. É de facto um disco feminino, mas é-o com toda a luz e toda a sombra. Ou seja, eu não queria fazer um disco que mitificasse as mulheres ou que contribuísse para a tendência de hipersexualizar o feminino, como costuma acontecer na música pop em geral. Eu queria contar as histórias das mulheres comuns, mostrá-las como elas são! É muito libertador (e quase revolucionário) afirmar a mulher como fruto da realidade porque existe uma expectativa enorme para que sejamos sempre perfeitinhas e agradáveis. Além disso, é importante afirmar a diversidade feminina porque, na verdade, somos muito diferentes entre nós e temos o direito a afirmar isso orgulhosamente.
- Disse, em entrevistas, que o álbum tinha uma agenda feminista. Como é que ela se cumpre?Cumpre-se pelo conteúdo e pela atitude! As minhas preocupações sociais e políticas estão patentes nas minhas letras e isso é assumido. Além disso, só o facto de ser mulher e de pegar (literal e figurativamente) no microfone para dar a minha opinião, expondo-me à crítica, num meio competitivo como o hip-hop, já é em si um statement, se tivermos em conta que na nossa cultura não se socializam as mulheres para conquistar o espaço público. Assim sendo, nem que seja pelo exemplo, a minha postura pode ser inspiradora e catalisar pequenas mudanças.
- O hip-hop ainda é território maioritariamente masculino?O hip-hop, o rock, o reggae, a política, o desporto, a chefia das grandes empresas e todas as esferas em que se exige um conjunto de características pouco estimuladas na educação das mulheres. Não é um problema do hip-hop, são vários problemas causados por milhares de anos de patriarcado.
- A Capicua é indissociável do Porto?Cresci no Porto e, nesse sentido, muitas das minhas referências culturais estão ligadas a esta cidade. Até na minha linguagem, no meu sotaque, se percebe a importância do Porto. Mas enquanto inspiração para a escrita, posso mencionar muitas coisas além da cidade... As minhas memórias, os livros, os filmes, as conversas, o mundo em que vivemos, as vidas de quem me rodeia, etc. As fontes são infinitas!
