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Casper Clausen, dos Efterklang, faz música para estarmos juntos

Conversámos com o músico dinamarquês sobre o novo disco dos Efterklang, a experiência de ter crescido numa ilha e o tempo vagaroso de Lisboa.

Foto: Vitor Mota
17 de setembro de 2019 às 07:00 Rita Silva Avelar

CasperClausenn nasceu numa das mais de cem ilhas dinamarquesas, a Als, e foi lá que viveu até aos 18 anos, quando se mudou para Copenhaga. Viveu seis anos em Berlim e, depois de ponderar um destino no sul da Europa, Lisboa foi a casa que escolheu. A viver na capital portuguesa desde 2016, mais precisamente no Bairro Alto, o artista dinamarquês, membro fundador das bandasEfterklangg e Liiima, tem um estúdio de música em Cacilhas. "Vesti esta roupa para vocês", diz-nos, sorridente, assim que chega à praça das Flores, o ponto de encontro para esta entrevista. Está vestido com um conjunto azulão, de calções e camisa, ummatchh (de facto) perfeito para a sessão que se segue à nossa conversa, com os azulejos portugueses em pano de fundo. Depois do sucesso do primeiro disco, Tripper, lançado em 2004 (que não passou despercebido à crítica de revistas  de música como aPitchforkk ou aRollingg Stones) os Efterklang deixaram bem claro que não seriam uma banda previsível e rotulada a géneros musicais. Após sete anos em radio silence, desde o disco Piramida (em 2012), é a vez de revelarem o novo disco Altid Sammen, que significa "sempre juntos". Com data marcada para revelação do disco a 20, a 23 atuam naLAVV - Lisboa Ao Vivo (avenida Infante D. Henrique, Armazém 3), e no dia seguinte seguem para o palco do Hard Club, no Porto.

Quais são as memórias mais nítidas de uma infância passada numa ilha?

Recordo a sensação de viver numa ilha, de estar perto do oceano, das florestas e das árvores. Paisagensplanas…… Eu cresci na cidade principal da ilha, em Sønderborg. Cresci numa comunidade pequena, com igrejas e supermercados, pequenas escolas. Aos 16 anos, ou se escolhe a escola elementar, ou o liceu. Nós os três Clausenn,RasmussStolbergg eMadss Brauer, o trio que compõe osEfterklangg] fomos para o liceu, altura em que começamos a banda que se tornaria nosEfterklangg. Éramos uns miúdos que gostavam de tocar música.

Que artistas vos inspiraram, na altura?

Começámos pelo grunge, com Nirvana,PearllJam…… Mas muitos artistas são inspirados por bandas muito específicas – não é o nosso caso. À medida que vamos crescendo vamos descobrindo novas músicas. Crescemos no fim dos anos noventa, uma época em que ainternett ainda não tinha chegado, e quando se queria descobrir música ainda era preciso ir a uma loja de discos e escolher. Por volta de 2000, quando nos mudámos para Copenhaga e eu tinha 18 anos, foi como acontecesse uma explosão de influências na nossa mente. Descobrimos a "oldneww music". Por isso, para mim, osEfterklangg começaram aí.

Nasceram na viragem do século. Os anos 2000 foram anos difíceis para as novas bandas?

A verdade é que nunca tivemos aquele sentimento chamado a "grande festa dos anos noventa", com todos aqueles acordos discográficos e todo aqueledinheiro…… Chegamos no fim. Foi mais um período em que as pessoas começavam a falar na morte anunciada dosCD’ss, começaram a chegar os downloads, não haviastreamingg mas já existam plataformas como o iTunes. E começaram a existir lojas web a venderCD’ss muito mais baratos que os preços praticados nas lojas de discos. Esta era a realidade da altura, que fez descer os preços o mais baixo possível. Mas a verdade é que nós também nunca vendemos loucuras de discos, vendemos o suficiente para ter uma vida normal e viajar por aí. O que para mim expressa com maior evidência a chegada desta nova geração é a velocidade que a música se espalha pelo mundo, de forma muito, muito mais rápida.

É fascinante ou assustador?

É fascinante, mas é preciso encontrar a melhor forma de encarar essa realidade.

Como é que foram construindo a vossa sonoridade?

Quando nos mudamos para Copenhaga (em 2002 ou 2003) passámos três anos à descoberta, antes do lançamento do nosso EP. Comprámos o nosso pequeno estúdio, um computador – no qual começámos a experimentar produzir música. Isso mudaria a forma de vermos as coisas, começámos a ouvir bandas diferentes, aqueles que tinham uma sonoridade estranha, como a sinfónica industrial, mas que também usavam instrumentos clássicos, metais ou electrónica.

Viajam muito, enquanto banda? E quanto dessas experiências vos inspiram?

A viagem pode ser tão literal quanto o nosso último álbum, Piramida, que nasce de uma viagem a uma ilha [no arquipélago Svalbard, no oceano Ártico, entre a Noruega continental e oPóloo Norte] que fizemos juntos. Ao mesmo tempo, uma viagem pode ser apenas algo que se decide fazer juntos. Para nós, foi uma viagem colectiva.

É justo dizer que essa ideia decolectivoo é bem ilustrada neste disco Altid Sammid?

Sim,altiddsammidd significa "sempre juntos".  É sobre nós estarmos juntos, outra vez, depois de muitos anos e sobre encontrar a força disso, de certa maneira, e juntar as peças. Nesse sentido é possível fazê-lo com osEfterklangg mas também de humano para humano. Quando se cria um espaço em conjunto, esse espaço torna-se sagrado, há um grande poder e significado nessecolectivoo.

Como é que se proporcionou criá-lo?

OMadss veio visitar-me e começámos a compor as primeiras músicas em Cacilhas. Quatro das músicas começaram aqui. O que aconteceu foi que, no início, compusemos músicas muito simples, que pudéssemos tocar (sem usar tanto o computador). Depois, quisemos trazer novos artistas para essa simplicidade, então gravámos em vários estúdios com outros artistas, como na Islândia, onde tivemos um pianista com um coro.

A modelo HelenaChristensenn surge no vídeo do primeirosinglee - Vi er uendelig. Porquê?

Procurávamos uma espécie de duplo para mim, alguém que pudesse ser uma espécie de cúmplice. A Helena é um ícone, com quem crescemos, nos anos noventa, e pensámos quãocooll seria perguntar-lhe. Perguntámos-lhe. E aconteceu que ela acabou por gostar das nossas músicas, e acabou por ser uma experiência divertida. Divertimo-nos de verdade. Com a Helena, o mais interessante é que ela sabe mesmo estar à frente de uma câmara. Aprendi muito com isso.

Qual foi o concerto mais inusitado de sempre?

Efterklangg não é uma banda que leve propriamente as pessoas a desmaiar num cenário apocalíptico. Mas isso aconteceu há uns anos no Festival deRoskildee [um dos três maiores festivais de músicapopp na Europa]. Tocámos num dos vários palcos do festival, um que tinha um círculo até onde as pessoas podiamsubir…… o aconteceu foi que as pessoas começaram a ficar lá presas, sem conseguirem sair, com o calor começaram a desmaiar ainda antes de o concertocomeçar…… foi algo nunca antes visto! 

Como apreciador de música, é fácil ficar preso a um registo que se goste ou a tendência é sempre para querer descobrir mais?

Vejo isso mais em amigos de infância. Às vezes quando me encontro com eles reparo que continuam a ouvir as mesmas bandas que ouvíamos no liceu. Devido à minha profissão estou sempre atento a tudo, nunca estou de costas voltadas para isso: posso estar a ouvir um miúdo pianista prodígio ou uma nova músicapopp brilhante. Nunca penso em géneros, e acho sempre difícil classificar osEfterklangg como um único género.

Vive em Lisboa. Como é que veio cá parar?

Na altura queria mudar-me para o sul da Europa. Vivi seis anos em Berlim, e senti que Lisboa tinha alguma coisa de especial. Ao mesmo tempo tinha um amigo que me estava constantemente a dizer que tinha de vir para cá e encontrar uma casa. Quando cheguei pela primeira vez passei um mês aqui, regressei a Berlim e pensei: porque não? Gostei da luz desta cidade, é algo que melhora o meu raciocínio (risos). Acho que também me identifiquei com o estilo de vida, que tem imensas culturas diferentes. Tem cores e sons diferentes.

Quais são as maiores diferenças entre o estar e viver nórdico e o latino?

Agora vejo essas diferenças com mais frequência, porque viajo muito para Copenhaga. Em Copenhaga, a mentalidade é muito minimalista. Por exemplo: não se decora em demasia, usa-se apenas o que é necessário. A qualidade é muito valorizada, porque também se tem mais dinheiro. O que eu vejo em Portugal e que aprecio muito é que as pessoas conseguem fluir. Os escandinavos são muito exacto, vão do ponto A ao ponto B, aqui as pessoas têm sempre um momento para uma pausa, para beber café ou fazer outra coisa qualquer. Outra dasconcepçõess totalmente erradas é a de que o "norte" trabalha mais que o "sul" [da Europa]. Aqui as pessoas só organizam o dia de uma maneira diferente. A tendência do minimalismo, por exemplo, pode tornar-se uma espécie de polícia da moda, porque toda a gente quer ser diferente mas acabam todos por parecer iguais (em Copenhaga)… e aqui nunca encontro isso. Chamam-lhe a tendêncianormcoree – toda a gente tem um boné e parece que comprou as roupas no supermercado (risos). Sinto que aqui é tudo mais colorido e que o tempo passa mais devagar.

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