Arte em modo de celebração
Este mês destacamos momentos de celebração na área das artes. Os 50 anos do Museu Gulbenkian, a recuperação de uma obra de Rembrandt ao vivo e o poder das mulheres em fotografia nos 50 anos de carreira do fotógrafo Alfredo Cunha.

A agenda anual da Fundação Gulbenkian é uma celebração da cultura em diversas áreas e, talvez por isso, tenha passado discretamente o 50.º aniversário do Museu Gulbenkian neste outono. Com uma coleção de cerca de seis mil obras de arte que ajudam a contar a história do mundo, desde o Antigo Egito até às primeiras décadas do século XX, esse espaço é incontornável no roteiro cultural de Lisboa, sendo reconhecido internacionalmente. A exposição Art on Display: Formas de expor 1949-69 assinala a data marcante e tem curadoria da diretora do museu, Penelope Curtis. A historiadora britânica deixou a direção da Tate Britain e trocou Londres por Lisboa para assumir a direção do Museu Gulbenkian, no outono de 2015. À Máxima, Penelope Curtis traçou um retrato do papel da instituição no passado, no presente e no futuro da sociedade portuguesa.
Nos 50 anos do Museu Gulbenkian que balanço faz do trabalho desta instituição e do seu papel, em Portugal?

O Museu celebrou o seu 50.º aniversário neste outono. Embora tenha aberto em 1969, foi planeado desde o momento em que a Fundação começou, em 1956. Isto significa que é mais uma construção da década de 1950 do que de 1969 e talvez isto explique a sua longevidade. O que eu queria explorar na investigação que fiz e na exposição que fizemos [Art on Display: Formas de expor 1949-69] é a natureza do seu design e começar a perceber melhor porque é que os visitantes gostam tanto de cá vir. Isto foi também, para mim, um forte incentivo para aceitar este trabalho [de diretora do Museu Gulbenkian].
O que a fez, então, decidir dirigir o Museu Gulbenkian?
A Fundação é muito mais do que o Museu. Mas era o Museu o que mais preocupava o próprio Gulbenkian e foi, provavelmente, porque ele quis manter a coleção toda junta que ela nunca foi para Londres ou para Washington, como ele chegou a desejar. Portugal beneficiou muitíssimo do facto de a Fundação ter a sua base aqui e isto tem significado que é necessário e sensível atualizar o Museu e torná-lo relevante para hoje. Além disso, como foi pouco alterado ao longo dos anos, adquiriu o papel de cápsula do tempo, o que torna ainda mais difícil mudar. Introduzir novas tecnologias, por exemplo, não é fácil num ambiente que foi construído para um mundo mais simples, contudo mais físico. Como estrangeira, eu noto que os portugueses querem ver a Fundação mudar, assim como que se mantenha sempre a mesma. Isto é um enigma para mim!

Qual gostaria que fosse o seu legado no Museu Gulbenkian para o futuro?
Eu considero que tive um papel nesta transição do Museu para o século XXI como um espaço que reconhece o seu contexto mais vasto num mundo em mudança. Esta foi, de facto, a mensagem clara da equipa original e eu espero que sejamos vistos, agora, como estando, mais uma vez, mais disponíveis para a questão de tornar a arte mais acessível e mais relevante para o público em geral e para os desfavorecidos da sociedade em particular. Reunir as duas coleções foi, para mim, uma licença para ter artistas vivos a responderem à coleção do fundador e à sua própria posição enquanto figura transnacional.
A arte de expor está em constante mutação. Hoje, além das exposições tradicionais de belas-artes, também há conteúdos e formas de expor que são muito influenciados pela tecnologia. Como vê os próximos 50 anos do museu?

Cinquenta anos não é muito tempo de existência para um museu e, no entanto, o [Museu] Gulbenkian faz parecer que esteve sempre lá. Está muito bem integrado no seu contexto. Para mim, a questão em causa não é introduzir ou não novas tecnologias, mas sim focarmo-nos no conteúdo que está no "coração" das coleções, o qual não precisa ser acerca do luxo e das elites, mas também sobre o dia a dia e outras questões mais amplas, para comunicarmos com um leque mais vasto de pessoas. O museu é jovem, mas consegue parecer antigo. Temos procurado formas de tocarmos temas difíceis, incluindo o colonialismo, a migração e a identidade e a Coleção é maravilhosamente útil. A junção da coleção moderna com a antiga dá-nos licença para colocar novas questões e para, continuamente, sermos parte do mundo contemporâneo.
Art on Display: Formas de expor 1949-69
Onde? Galeria principal da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
Quando? Até 2 de março de 2020
Ao vivo e a cores
O Rijksmuseum, em Amesterdão, é palco de um projeto especial, ao qual chamou Operação Night Watch e que consiste no restauro do quadro The Night Watch [A Ronda da Noite], de Rembrandt, datado de 1642, e cujo processo está aberto ao público. O restauro, que começou a 8 de julho e que vai decorrer até data a determinar, é o maior projeto de investigação e de conservação desta obra e conta com três fases: a preparação, a pesquisa para avaliar o estado da obra e, por fim, o restauro. O trabalho está a ser feito dentro de uma câmara de vidro na galeria do museu e o público pode assistir do lado de fora, assim como pode acompanhar tudo no site do museu.
No feminino
O fotógrafo português Alfredo Cunha celebra 50 anos de carreira com uma retrospetiva de mais de 60 fotografias de mulheres, de diferentes idades e culturas, captadas em 20 países. A exposição O Tempo das Mulheres está patente no Museu de Lisboa – Torreão Poente (na Praça do Comércio) até 31 de janeiro de 2020. As imagens do fotógrafo são acompanhadas por textos de Maria Antónia Palla e nesta exposição consta apenas uma seleção do conteúdo de um livro com o mesmo nome da editora Tinta da China e que foi lançado em novembro.
