Taras e Fantasias

É um mistério antigo. Até porque envolve a mais velha profissão do mundo. Afinal, porque é que os homens vão às pu...? 

Taras e Fantasias
05 de fevereiro de 2014 às 07:00 Máxima

Bettina Flitner, fotógrafa e realizadora germânica, passou dez dias a fotografar clientes num bordel de Estugarda, o Paradise. Conversou com homens entre os 21 e os 73 anos, que se deixaram retratar sentados na cama, somente com uma toalha à volta da cintura, e ouviu justificações tão variadas como os próprios inquiridos: louros e morenos, velhos e novos, magros e gordos, taxistas, empresários ou mecânicos, carecas, asiáticos, etc., etc., etc. Foi precisamente um cliente asiático que deu uma das respostas mais curiosas à eterna questão que intriga psicólogos, alimenta sexólogos e atormenta mulheres (sobretudo as dos homens que procuram sexo pago). Eis as palavras de Dung, 28 anos, gerente-júnior de um restaurante: “Num bordel, o ambiente é mais fluido. Não há mentiras nem ilusões. Posso falar sinceramente. Gosto de mulheres de cabelos negros e olhos castanhos. Mas que não sejam asiáticas. Não gosto nada de asiáticas.”

O sexo não tem de ser coerente, lógico ou democrático. Pode ser racista, preconceituoso e superficial. Este asiático não gosta de ter sexo com asiáticas, ponto. E porque haveria de gostar? Ele não diz mas podem existir motivos de ordem cultural por detrás dessa aversão (por exemplo: as asiáticas são sexualmente acrobáticas mas pouco calorosas); ou tratar-se apenas de uma questão estética (ele não gosta do corpo de uma asiática como não suporta sapatos de verniz); e porque não uma simples manifestação de fartura? – não suporta asiáticas, tal como já não aguenta mais arroz chau-chau.

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Homens contra mulheres

Eles Um estudo do Journal of Sex Research diz que os homens fantasiam mais do que as mulheres, com mais pessoas ao mesmo tempo e envolvendo mais estranhos(as).

Elas Uma pesquisa da revista norte-americana Woman’s Day afirma que 76% das mulheres casadas têm fantasias sexuais com outros homens.     

Eles Mais rápidas, mais explícitas e mais visuais. Segundo um artigo da Psychology Today, nas fantasias masculinas, o sexo acontece de forma mais rápida do que nas fantasias femininas (mais uma derrota para os preliminares). E tudo é visualizado com bastante pormenor.   

Elas Uma investigação de Isabel Freire, que culminou na publicação do livro Fantasias Eróticas: Segredos das Mulheres Portuguesas, revela que as principais fantasias das mulheres portuguesas são: sexo em grupo, sexo a três ou orgias.      

Eles Um artigo do jornal inglês The Telegraph sugere que os pensamentos menos positivos nas fantasias masculinas envolvem uma relação homossexual (ou seja, conscientemente, o homem ainda revela temor em lidar com essa fantasia).               

Elas As mulheres têm mais fantasias sexuais durante o período fértil e com mais homens (com tanta fantasia, pode ser que algo aconteça na realidade. Mais uma vez, a preservação da espécie a dominar o comportamento feminino).

É inegável: os homens não encaram o sexo como as mulheres. Conseguem entender o desejo como uma necessidade fisiológica, comandada por pouca racionalidade e menos emoção ainda. Pelo menos no sentido do envolvimento continuado.

As mulheres – coitadas de nós – têm uma dificuldade tremenda em separar o sexo do resto. Podem até embarcar em encontros casuais, sexo louco de uma só noite, mas, no dia seguinte, nove em cada dez vão esperar pelo milagre da chamada telefónica.

A ciência já explicou. A sociologia, a antropologia e a vida do dia a dia cansam-se de repetir que a máquina masculina funciona de forma distinta da feminina. Começando no cérebro. Sim, as fantasias deles são diferentes. E quando chega a hora de as concretizar, quanto maior for a transgressão, melhor.

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Depois de quase uma década como acompanhante de luxo, a brasileira Rebecca Dakin abriu um negócio curioso: dá aulas e conselhos para as mulheres evitarem a traição. Ela sabe do que fala: durante anos, ouviu e dormiu com centenas de homens que viam nela uma fuga ao sexo baunilha (sim, ela usa a expressão popularizada pelo best-seller As 50 Sombras de Grey para designar o sexo convencional, também apelidado por muitos brasileiros como de ‘papai e mamãe’).

“O principal motivo para os homens procurarem algo fora do relacionamento é a insatisfação. Se eles vêm ter connosco é porque não têm sexo suficiente ou suficientemente bom com as mulheres”, disse Rebecca ao jornal britânico The Sun.

Em conversa com uma repórter do jornal i, Weina, transexual que trabalha na zona do Conde Redondo, em Lisboa, confirma essa ideia masculina de que ter sexo fora de casa implica pedir tudo o que se quiser – e sem vergonha. “Já fui obrigada a masturbar um homem. Grande, musculado, giro. Um homem daqueles tinha a mulher que queria, mas a pancada dele era obrigar-me”, contou.

À pergunta “o que procuram os homens que recorrem à prostituição” ela respondeu sem rodeios: “Tudo o que imaginar de nojento, eles pedem. Imagine um filme pornográfico: é tudo o que eles têm na cabeça.”

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Muitos psicólogos especializados em jovens garantem que a perceção da vida sexual como um filme pornográfico está a dar cabo das primeiras relações de rapazes e raparigas. Eles veem demasiados filmes, vídeos e afins, mas têm pouco contacto com a realidade (a única forma de arredarem as tontices que têm na cabeça). Elas tentam aproximar-se das fantasias masculinas, agindo como as mulheres que aparecem nesses vídeos e acabando, muitas vezes, por violentar a sua própria natureza.

“Acredito que a pornografia pode ser muito útil aos adultos. Foi usada com bastante sucesso na educação sexual, mas, ultimamente, tem sido muito má para as pessoas”, escreveu Michael Castle, jornalista especializado em relações e sexualidade, num artigo para a Psychology Today. Na sua lista de mitos promovidos pelo cinema pornográfico, dedica um parágrafo às mulheres, recordando como, nesse contexto, todas parecem ser depravadas.

Mais: por verem certas performances pouco realistas, sublinha, “muitos homens ficam a pensar que são menos bem-sucedidos”, o que acaba por afectar realmente o seu desempenho. “Eles não conseguem compreender que tudo aquilo é fantasia.”

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Quanto mais estranha a fantasia, mais dificuldade o homem parece ter em realizá-la com alguém próximo: a amiga, a mulher, a namorada, alguém que alimenta expectativas a seu respeito e que, em princípio, pode condenar os seus ‘desvios’ ao padrão. “Há homens que saem com prostitutas porque querem mais sexo ou sexo com alguém diferente do parceiro habitual. Outros estão sós. E alguns só têm dificuldades de relacionamento. Ou uma timidez incontrolável. Mas muitos limitam-se a encarar esses encontros como a única forma de realizarem as suas fantasias”, diz Michael Castle.

“Preciso de muito sexo. Excita-me ter mulheres novas. Também vou a clubes de swing, mas aí há tipas mais velhas e mais feias. Às vezes contrato acompanhantes. Qual é o meu tipo de mulher? Gosto de negras e de mulatas. Sem silicone nem botox nos lábios. Também não gosto quando elas parecem demasiado profissionais. Prefiro raparigas que não vivem só disto. A última vez que procurei uma prostituta foi a semana passada. Ela disse que eu lhe tinha dado o melhor sexo de sempre. Custou 50 euros; o normal. Aqui, a relação qualidade/preço é boa.” Declarações de Guenther, 55 anos, dono de um pub, divorciado e pai de um filho.

Quem é a senhora do bordel

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Bettina Flitner é uma realizadora e fotógrafa alemã. Estudou na Academia de Cinema e Televisão germânica, em Berlim, e trabalhou como editora de imagem na WDR (estação germânica televisão). Os seus filmes foram várias vezes premiados e o seu trabalho fotográfico, de cariz muito autodidata, é alvo de elogios um pouco por todo o mundo. Desde 1990 que se dedica, sobretudo, à fotografia. A maioria dos seus projetos combina imagem com texto e procura refletir sobre questões culturais ou sociais. Deu nas vistas com a série Imagens da Terra de Ninguém, que retratava cidadãos de ambos os lados da cidade, durante a queda do Muro de Berlim. A série John é composta por 18 fotografias de homens dos 23 aos 71 anos e foi feita num bordel de Estugarda, durante dez dias. Pretende responder à mítica questão: porque é que os homens pagam para ter sexo?

Nas fantasias masculinas, o risco é sempre uma parte do prazer. “Uma das motivações por detrás deste negócio é essa mesma: o risco”, diz Martin Monto, sociólogo da Universidade de Portland. “A natureza ilícita do negócio contribui para excitá-los mais”, sublinha.

Um estudo sueco de 2006, sobre os motivos que levam os homens a procurarem sexo pago, encontrou cinco categorias-tipo entre os clientes: os que vão atraídos pela ‘síndrome da prostituta’ ­(e que muito apreciam essa ‘sujidade’ inerente ao negócio), os que não têm coragem de pedir certo tipo de sexo às namoradas ou mulheres, os que encaram o sexo como um produto – pagam e podem ter tudo o que quiserem, sem vergonha nem reclamação – e os solitários (porque se sentem velhos, porque são tímidos ou simplesmente por acharem que não conseguem ter companhia de outra forma). Finalmente, existe ainda o tipo de cliente que encara a prostituição como a sina de qualquer macho. Este género de indivíduo não consegue conceber a existência de um seu semelhante que não goste de despedidas de solteiro em bares de striptease, por exemplo.

As mulheres são mais discretas, digamos (há quem prefira chamar-lhes mais sonsas). Um estudo do site espanhol Terra revelou que mais de 70% têm fantasias enquanto fazem sexo com o namorado ou o marido. O problema começa quando o objeto da sua imaginação não coincide com o indivíduo que está ao seu lado – ou em cima ou em baixo, o que for.

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Para quem pensa que são todas conservadoras, aqui fica um dado curioso: as meninas têm mais sonhos homossexuais do que os meninos.

A sua principal fantasia é ter sexo ‘extravagante’ – como os homens, sim senhor, mas há uma diferença: elas sonham tanto como eles, mas concretizam menos; e procuram satisfazer este anseio em sítios um pouco diferentes dos bordéis.

O mesmo estudo revela ainda que 20% das mulheres (uma em cada cinco, portanto) sonha ter sexo com um estranho, 19% deseja ser forçada a fazê-lo com um conhecido ou desconhecido (fetiche muito comum entre as inquiridas mais jovens), 18% imagina-se na cama com mais de uma pessoa do sexo oposto, 11% com alguém do mesmo sexo e 3% – contra todos os estereótipos femininos – confessou que adorava obrigar um homem a satisfazê-la sexualmente.

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