Muitos especialistas recomendam aos casais a sua prática mesmo quando a libido diminuiu ou quase desapareceu. Para reiniciar a atividade sexual e surpreender-se.
Se há prazer sem desejo, afigura-se sensato convidar as pessoas a fazer amor mesmo quando não sentem vontade? A tese controversa encontra seguidores e opositores calorosos, como é habitual nestas coisas. Os primeiros aconselham-no com uma ressalva: “Fazer [sexo] mesmo sem apetecer se isso não for sentido pela pessoa com uma violação.” E isto já justifica o que para muitos é uma ousadia, para outros, uma perfeita loucura.
Quando Mafalda S., uma jovem no auge da idade adulta, escutou este conselho vindo da especialista que a acompanhava, também ficou surpreendida. “Foi muito mais do que isso, fiquei chocada!”, conta. “Tinha acabado de fazer 31 anos, estava casada há um, não tinha vontade de ter sexo com o meu marido e ela vinha-me dizer para forçar a situação?”, recorda. Depois do primeiro impacto, a reflexão e a aceitação de que era preciso fazer algo, por mais estranho que lhe parecesse. O diálogo com o parceiro sobre o assunto, desta vez longe do consultório da especialista, também lhe trouxe mais tranquilidade e juntos decidiram seguir a sugestão da terapeuta que vinha acompanhada de regras práticas muito precisas para espevitar o desejo. Tudo junto, mais as sessões semanais, e ao fim de algum tempo Mafalda estava a superar a sua inibição.
O desejo é o princípio de tudo, onde tudo começa. Também podemos chamar ‘interesse’ ao desejo. De acordo com Patrícia Pascoal, psicóloga e terapeuta sexual, membro da Direção da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, há mesmo tendência a substituir o termo. O desejo é normalmente definido “como a motivação, o impulso para procurar e envolver-se em atividades sexuais”, observa, esclarecendo que habitualmente os homens referem “níveis mais altos deste tipo de desejo”. Já o desejo feminino “é mais variável e complexo”. Esclarece que “quando excitadas sexualmente, as mulheres apresentam níveis tão altos de desejo quanto os homens”, mas neste caso trata-se do “desejo de dar continuidade e não do desejo de iniciar a atividade sexual”.
De qualquer forma, o desejo feminino, independentemente de ser de um ou de outro tipo, parece ser mais “afetado por factores do contexto – como por exemplo a qualidade da relação em que estão e a inibição/desinibição sexual” – do que o desejo masculino. A terapeuta sexual explica que, deste modo, mesmo que haja prazer, “e este está geralmente associado ao orgasmo, o interesse das mulheres pode ser afetado por outros fatores e aparecer diminuído”. O que também pode acontecer aos homens.
O desejo e o prazer vivem associados, é um facto, mas são diferentes. Tanto assim que é possível haver prazer sem desejo. “Isto porque o desejo por vezes aparece quando há procura e estimulação”, diz Patrícia Pascoal, esclarecendo que nestes casos trata-se de um desejo que surge como “resposta à atividade ou iniciativa do outro”.
Por outro lado, também pode haver prazer sem orgasmo. “Mesmo que não se atinja o orgasmo, há a experiência da excitação associada ao prazer”, comenta Patrícia Pascoal, lembrando que o “prazer não é um botão” que se acione. De qualquer forma, concorda que o prazer continua a ser um fator importante na satisfação sexual. Tanto assim que as relações sexuais sem orgasmo associam-se a menor interesse sexual.
O desejo nasce de “forma estimulada por fantasia e desejo em fase inicial da atividade sexual”, explica Renata Chaleira, psicóloga clínica com especialidade em Sexualidade Humana. Trata-se de uma “experiência de sensações muito específicas que levam o indivíduo a iniciar ou responder a uma estimulação sexual”. Na mulher, quando o desejo acontece, há uma lubrificação vaginal e aumento da mama, as faces ficam coradas, dando-se ao mesmo tempo um aumento da tensão arterial e dos batimentos cardíacos. Eles também coram, embora este sinal esteja mais associado a elas, a tensão arterial e os batimentos cardíacos também se alteram, enquanto há um aumento da tumescência peniana e subida dos testículos.
A inibição e desconhecimento do próprio corpo, a inibição sexual e a preocupação com a competência sexual durante a atividade sexual, a falta de diálogo com o/a parceira e a preocupação da autovalorização do desempenho após a atividade sexual são algumas das causas associadas às dificuldades no campo do desejo e da excitação, segundo Patrícia Pascoal. E atingem de igual modo mulheres e homens de todas as idades. Alguns dos pedidos que chegam à consulta de Sexologia da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, inaugurada no princípio deste ano, e que se encontra aberta a toda a comunidade, estão relacionados com estas problemáticas, ainda de acordo com a terapeuta.
A ausência ou diminuição do desejo também podem ficar a dever-se a outros fatores como alterações orgânicas, depressão e medicação. Mas, segundo Renata Chaleira, as mais comuns são “a depressão, a dificuldade em verbalizar os desejos e fantasias com o parceiro, a inibição do desejo sexual e a anorgasmia, disfunção sexual em que as mulheres não conseguem atingir o orgasmo”, um problema que diz afetar 15 por cento da população feminina.
Sem dúvida que o stress do dia a dia não só como resultado do estilo de vida que levamos mas também devido à crise económica que vivemos e que torna o presente tão precário, os problemas pessoais e profissionais são mais alguns ‘inimigos’ de peso do desejo. Mas também do prazer sexual, na medida em que constituem “obstáculos que inibem o início da resposta sexual”, conforme explica Renata Chaleira. Mas como parte tão importante da nossa vida que é, é preciso ter coragem de pedir ajuda para resolver, sem medo e sem pudor.
À pergunta se as mulheres devem ter sexo sem desejo, uma vez que mesmo assim é possível ter prazer e até atingir o orgasmo, é perentória: “Desde que não exista dor durante o coito poderá sempre existir relações. Muitas vezes inicia-se uma relação sem desejo e, com a estimulação do parceiro, este é aumentado.”
Quando os estudos também são claros relativamente ao facto de quanto menos sexo se praticar “menos estimulação erógena existe, pelo que menos desejo tende a haver”, por vezes há que ir mais longe, sair da rotina, ousar, ser criativo nas formas de reatar o interesse sexual. As mulheres podem treinar o desejo e o prazer, “vendo filmes e lendo literatura erótica e pornográfica e estimulando-se a nível masturbatório, quer sozinha quer com o companheiro”, observa Renata Chaleira, esclarecendo que os brinquedos sexuais e as fantasias também podem contribuir para uma melhor sexualidade, para espevitar e otimizar o desejo e o prazer sexuais.
PODEMOS REPETIR?
• A esmagadora maioria das mulheres não pensa em sexo com a mesma frequência que os homens e também não está pronta para a atividade sexual com a mesma assiduidade.
• Em contrapartida, “durante a fase de resolução, elas podem ser capazes de responder a uma estimulação adicional quase imediata, o que não deve ser confundido com o mito dos orgasmos múltiplos”, diz Renata Chaleira.
• Durante esta mesma etapa, os homens “encontram-se fisiologicamente refratários a nova ereção e orgasmo durante um período de tempo variável”.
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Dá-se em cinco fases, de acordo com a sexóloga Renata Chaleira, que nos explica quais são e o que se passa em cada uma delas:
• Desejo: é uma fase constituída por fantasias sexuais e desejo de envolvimento em atividade sexual.
• Excitação: a sensação subjetiva de prazer sexual faz-se acompanhar por modificações fisiológicas.
• Planalto: é a fase máxima de excitação sexual que antecede o orgasmo.
• Orgasmo: etapa que consiste num pico máximo de prazer sexual, acompanhado de libertação da tensão sexual e da contração rítmica dos músculos do períneo e dos órgãos reprodutores.
• Resolução: fase caracterizada pela sensação generalizada de relaxamento e bem-estar.
tendência a substituir o termo. O desejo é normalmente definido “como a motivação, o impulso para procurar e envolver-se em atividades sexuais”, observa, esclarecendo que habitualmente os homens referem “níveis mais altos deste tipo de desejo”. Já o desejo feminino “é mais variável e complexo”. Esclarece que “quando excitadas sexualmente, as mulheres apresentam níveis tão altos de desejo quanto os homens”, mas neste caso trata-se do “desejo de dar continuidade e não do desejo de iniciar a atividade sexual”.