Refúgio de Família

 É na região de Catuçaba, Brasil, que os designers carregam baterias. Este cenário tropical inspirou o seu último projeto: uma obra paisagista em bambu, meio catedral, meio cabana, que se ergue no parque de uma fazenda de charme. Uma imersão fora de portas.

Refúgio de Família
26 de junho de 2014 às 06:30 Máxima

As suas criações respiram Brasil, o das florestas tropicais e das favelas, onde tudo se recupera e transforma. Referenciados na Europa nos anos 90 graças à empresa italiana de mobiliário e decoração Edra, o seu estilo – um misto de recuperação, tradições artesanais e produção industrial – tornou-se o emblema do Brasil contemporâneo.

 

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Sediados em São Paulo, os dois irmãos cresceram em Brotas, uma região de imensas extensões verdes onde os cowboys latinos ainda vivem da criação de gado. Dessas paisagens selvagens guardaram uma ligação visceral à natureza, uma marca que se lê em cada etapa dos seus projetos. Quando o seu vizinho e amigo Emmanuel Rengade lhes pediu que imaginassem uma obra ao ar livre na sua fazenda transformada em hotel de charme intimista, Humberto e Fernando Campana responderam presente. Mas na condição de não utilizarem outros recursos a não ser os oferecidos pela natureza. Uma oportunidade para descobrir, através do olhar destes humanistas do design, este pequeno recanto paradisíaco.

 

- São conhecidos pelas vossas criações de mobiliário e objetos. Como nasceu este projeto de catedral em bambu?

Este projeto permitiu-nos reivindicar a nossa necessidade de natureza e insistir na obrigação de a respeitar, de a preservar. Trabalhamos em São Paulo, e a falta de espaços verdes nos meios urbanos é um tema que nos diz muito. Sempre que podemos, refugiamo-nos em Brotas, a alguns quilómetros de Catuçaba. É a nossa terra natal, uma zona do Brasil muito verde, ornamentada por 38 cascatas. Quando éramos miúdos, o nosso passatempo preferido era construir cabanas. Ao imaginar esta instalação para o Emmanuel Rengade [proprietário do hotel], optámos por esse mesmo princípio de jogo de construção a partir de elementos vegetais. Foi uma maneira de nos religarmos com as sensações da infância.

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- O vosso trabalho parte sempre do interesse que têm pelos materiais. Neste caso, escolheram o bambu.

O bambu é inerente ao Brasil. Encontramo-lo à beira das estradas, entrançado em sebes, e os guerreiros utilizavam-no para fazer arcos e flechas. Além disso, tem algo de universal. Para os asiáticos, é um material protetor; no Japão, é largamente utilizado na arquitetura, nomeadamente em Quioto. Com as suas centenas de variedades e a sua grande flexibilidade, é um material apaixonante. Para a nossa obra, trabalhámo-lo em forma de arco, como uma catedral.

 

- Que simbolismo devemos ver aqui?

Ela é levada a crescer com o tempo. O seu papel é oferecer um refúgio. No exterior, tudo é amplitude: amplitude do verde, da paisagem, do céu, dos ventos… No interior, é o recolhimento, uma possibilidade de viver em conexão com a nossa alma, no silêncio… Com as nossas vidas a cem à hora, são necessários lugares para nos reencontrarmos a sós connosco.

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- Trabalhar com um material vivo e orgânico é bastante inédito para os designers...

Humberto – Eu adoro a arte paisagista. Embora sejamos designers, considero-me também um jardineiro. Na minha casa em São Paulo, sou eu que me ocupo do jardim! O nosso pai era engenheiro agrónomo e fomos sempre embalados por nomes de plantas. Há estudos sobre o tecido social que demonstram o papel essencial da natureza na autoestima. O ambiente deve fazer parte do nosso futuro sociocultural. A nossa última coleção de mobiliário e espelhos, apresentada por uma galeria parisiense, presta homenagem ao oceano (6 mil quilómetros de costa), que inspirou a nossa paleta de azuis.

Fernando – É uma maneira de traduzir um outro aspeto da nossa identidade brasileira. Ao humanizar o design, esperamos ter um impacto positivo nas ligações do processo de produção.

 

- Estamos no registo da arte ou do design?

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Pouco importa. O que conta para nós é criar emoção na função e associar sempre o legado do nosso artesanato aos nossos projetos. Artistas ou designers, somos sobretudo investigadores e testemunhas da nossa época.

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