Na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto foi distribuído, pelos alunos mais velhos, um "manual" onde, entre muitas outras coisas, se lê "o caloiro é incondicionalmente servil, obediente e resignado", "não é um ser racional", "não goza de qualquer direito". E continua: "A espécie não goza de qualquer direito, salvo o da existência (até por vezes questionável)", "Deve ser sempre moderado no uso da palavra (zurra, grunhe, bale e relincha só quando lhe é dada permissão", "Não é permitido pensar, opinar, gesticular, buzinar, abanar as orelhas ou pôr-se em equilíbrio nas patas anteriores".
O Manual de Sobrevivência do Caloiro foi distribuído pela faculdade e o deputado do Bloco de Esquerda (BE) Luís Monteiro já denunciou o seu teor. A direção da faculdade diz ser impossível que este tenha sido distribuído dentro das suas instalações. Nos últimos anos, principalmente depois de alguns casos como o que resultou na morte de seis alunos da Universidade Lusófona, no Meco, as praxes académicas abusivas voltaram a preocupar a sociedade portuguesa. No entanto, o deputado do BE considera que depois de alguns casos como esse os alunos alteraram a sua metodologia e agora está menos pública e são menos visíveis os abusos que acontecem na praxe, como se pode ler num artigo hoje publicado pelo jornal Público.
Este "manual" foi distribuído a todos os alunos – e não apenas àqueles que aceitam ser praxados. Para Luís Monteiro, isso mostra que faltam ainda mecanismos de apoio aos novos alunos e mecanismos que controlem os abusos na praxe. O diretor da FCUP, António Fernandes da Silva, explicou que as atividades ligadas à praxe académica foram proibidas, dentro da faculdade, há sete anos e, por isso, o documento não pode ter sido entregue nas instalações da FCUP.
No ano letivo passado, o Ministério da Ciência e Ensino Superior recebeu nove queixas de atos violentos em praxes académicas através do endereço eletrónico (praxesabusivas@dges.mctes.pt) e do número de telefone (21 312 61 11) que foi criado há três anos com a finalidade de denunciar e intervir perante queixas de atos violentos ou coercivos durante a praxe.