Joana Santos: Vontade de vencer

Esta atriz é um caso sério, um nome a prometer e guardar. Precoce no sucesso, sabe o que vale e não cultiva vaidade. Percebe que cultura é sabor de viver e expressão de sensibilidade. Por isso quer aprender o mundo, quer ler e viajar, quer trabalhar o seu ofício e arte.

Joana Santos: Vontade de vencer
27 de fevereiro de 2013 às 09:00 Máxima

Nenhum lugar melhor que o Chiado para o encontro marcado, em hora neutra de movimento, aproveitando uma das raras pausas de trabalho. Lá fora, a transparência da cidade contrasta com o tom obscuro do recanto num hotel onde nos encontramos. Joana é alta e ágil, esguia e despojada no modo de vestir, bem ao gosto da sua geração. Cedo, aos 20 anos, foi modelo e estreou-se como personagem de novela. Aos 26, foi distinguida e premiada como Atriz Revelação 2010. Um Globo de Ouro pelo papel de vilã em horário nobre de televisão é um caso sério de prestígio e responsabilidade, no meio em que se move. Prudente na fala, não se diz deslumbrada. Ao longo da conversa deixa os receios, ganha naturalidade, diz esperanças, conta de si.

Não querendo ser atriz, como se tornou estrela de televisão?

PUB

Comecei com um papel na novela Fala-me de Amor, da TVI. Tinha 19 anos. É verdade que nunca pensei ser atriz. Fui uma aluna média, no 10.º ano, aos 14 anos, tinha de escolher a minha área de formação. Mas era cedo de mais, estava perdida, quis ser mil e uma coisas, arquiteta, arqueóloga. No 12.º ano continuava muito confusa, escolhi ir para Economia às escuras. Sem perceber porque estava infeliz, chumbei. Depois estudei à noite, apaixonei-me por Psicologia. Era modelo desde os 14, tinha entrado num casting para a Elite, fazia editoriais de moda. Mas não me identificava com o trabalho, não tinha o perfil, não tinha paciência. Nos castings havia sempre outras raparigas mais altas e mais magras do que eu. Até que fiz um casting para a TVI e fiquei com um papel. Papel que era exigente e que eu tentei agarrar com unhas e dentes. Fazia uma miúda de 17 anos violada pelo Sinde Filipe, que era o galã. Foi na altura do escândalo Casa Pia, o tema era muito atual.

'Sou muito orgulhosa de não depender de ninguém'

Ser protagonista de uma novela é entregar-se a tempo inteiro à televisão. Como se adaptou?

Não me queixo. Dou-me bem com os atores e com toda a equipa. Estou há sete anos na televisão e sei que para as coisas correrem bem, é importante haver harmonia entre todos. Trabalha-se muito, é preciso ter cabeça para aguentar a exigência, a carga horária. A televisão é uma fábrica e é um negócio. Mas nós, atores, não somos máquinas, trabalhamos com sentimentos. Às vezes, é difícil fazer uma cena com uma carga dramática e depois fazer outra cena a rir. Com isso, ganhamos estaleca.

PUB

Prefere algum tipo de personagem?

Eu era vilã ou heroína, ao princípio o meu medo era não descolar.

Consegue não incorporar a personagem?

Sim. E é bom que a personagem mude. Em Laços de Sangue fiz a vilã Diana. Para esta Júlia de Dancin’ Days, tive um mês de ensaios. Fui em agosto para o Brasil, onde estive seis meses a preparar a personagem que só começaria a fazer em fevereiro. Hoje trabalha-se melhor a personagem.

PUB

O que é mais difícil no trabalho?

As pessoas não pensam que se representa de corpo inteiro. Nos Laços fiz uma miúda de 14 anos, e lá no Rio engordei seis quilos para esta personagem Júlia. Ela começa com 18 anos e reaparece, com 34 sai da prisão, eu precisei de fazer essa passagem. Tenho cara de miúda, tive de aprender uma maneira de andar e de estar mais masculina.

Em Portugal, a novela não é um acontecimento como no Brasil. O que acha?

Mas quando fiz Laços de Sangue ia na rua e vinham homens ter comigo que diziam: “Eu nunca via novelas, vi agora, fiquei agarrado.” Aquela novela moveu uma massa de emoções nas pessoas.

PUB

Ganhou então prémios, prestígio e popularidade, tornou-se protagonista.

Estou ali para fazer um bom papel, ser ou não protagonista não interessa. A popularidade não é importante, acontece porque tem de ser. Sempre tive liberdade de escolha no caminho que sigo. Os meus pais passaram-me bons valores, ensinaram-me a não ser deslumbrada.

Sente maior responsabilidade, sendo figura conhecida?

Não vou por aí. Podia ser mais ativa, considero-me uma pessoa igual às outras, mas sim… é difícil responder. É verdade que nós, os da minha geração, devíamos ser lutadores. É verdade que temos de preocupar-nos mais, não desligar. Não querer saber e deixar as coisas andarem é mau.

PUB

Alguém que admire?

Margarida Carpinteiro [Ester em Dancin’ Days]. Admiro a fragilidade e a força que tem. É uma ótima pessoa, transmite tanta coisa sem precisar de falar. Gostava de envelhecer como ela. O José Carlos Garcia, que é o fundador do Chapitô, onde adoro ir. Sinto admiração pela pessoa que ele é, pela humildade e inteligência que tem. Na minha geração, uma das pessoas que mais admiro é a Joana Pereira da Silva, atriz. Admiro o Albano Jerónimo [Duarte em Laços de Sangue]. Vi-o no Teatro Nacional, a fazer Um Elétrico Chamado Desejo, tem um sentido de humor fantástico, é sério e profissional.

MAIS>


PUB

O seu trabalho não a afasta da realidade?

Da novela, o lado mau é que às vezes nos deixamos levar de mais pelas 12 horas de trabalho e, ao chegar a casa, é preciso decorar mais texto para o dia seguinte. O que leva também a não ter livros, mas guiões na mesa de cabeceira. Sei que não posso só dedicar-me àquilo, senão vou emburrecer. Por isso, decidi parar todas as manhãs para comprar um jornal. A lê-lo é uma hora por dia em que desligo das novelas. Comecei agora a ler Anna Karenina. E trago aqui Bartleby de Herman Melville, que vou ler. Preciso de arranjar estes estímulos para fazer melhor o meu trabalho. Tenho televisão em casa, mas não vejo. Ligo as notícias para me informar sobre o que está a acontecer. Se estou com pessoas que não são do meio, dou por mim a ver que perdi muita coisa de cada vez. Não sou Júlia não sou Diana sou Joana e tenho de me informar.

Sobra-lhe um tempo só para si?

Tenho de aproveitar esta fase da minha vida. Saio com amigos, vamos ao cinema e ao teatro, fazemos jantaradas. Gosto de me divertir. Sou extrovertida, adoro ser palhaço. E também gosto de ficar em casa sozinha, no meu sofá. Não faço desporto nem ginástica.

PUB

'Não faço projetos a longo prazo, vivo um dia de cada vez'

Agora que se fala tanto do Brasil, como foi a sua experiência?

Eu sentia um fascínio pelo Rio de Janeiro, em 2007 a minha primeira grande viagem foi lá. Voltei para a passagem do ano de 2010, queria lá viver. Mas é diferente viver ou passar férias. O Rio é uma cidade frenética e ao mesmo tempo há uma descontração nas pessoas que me faz confusão, tive de me adaptar. A vida lá não é fácil. Ir ao supermercado e jantar fora era impensável, quando lá vivi. Aqui é possível ter casa e carro, comer fora, fazer uma viagem ou outra, lá é impossível. Há muito trabalho na minha área, mas o Rio está caro. A Globo é um mundo, tem cidades cenográficas. Aqui é preciso cortar ruas, lá têm a Avenida de Nossa Senhora de Copacabana dentro do recinto dos estúdios em Jacarepaguá. Já visitei esses estúdios, mas não trabalhei lá, nos dois meses de preparação com a Lais Correia, preparadora de elenco. Ela ajudou-me imenso a preparar a Diana dos Laços, pedia-me para escrever depois de cada trabalho. Ela é a minha mestra, veio cá, foi uma pessoa importante na minha vida.

O que diz sobre a sua condição de mulher?

PUB

Sou muito orgulhosa de não depender de ninguém. Vejo que cada vez mais as mulheres são independentes, sem precisarem dos homens. Gosto de saber que vou jantar com um amigo e posso pagar a parte dele, não há problema nenhum. Às vezes, ele pode ficar constrangido. Mas sem razão. Somos pessoas, não é? Acho que essa separação entre mulheres e homens deixou de fazer sentido.

Que projetos para 2013? Que desejos?

Não faço projetos a longo prazo, vivo um dia de cada vez. Ainda não sei em que mês acabam as gravações da novela. O ano de 2013 não vai ser atribulado para mim, porque ainda tenho contrato de exclusividade com a SIC, mas de qualquer maneira tem de ser um ano de poupança. E claro que não fico indiferente à situação em que o país se encontra, que é assustadora. Todos os dias se fala em novas medidas e nenhuma é a favor do contribuinte. Quando acabar a novela quero descansar, quero fazer formação no país e fora do país. Sendo protagonista, é difícil fazer outras coisas. Quero fazer workshops, quero ter tempo para me cultivar. Quero viajar, não conheço muitos países da Europa e sabe bem fazer aquelas viagens low cost de fim de semana. Gostava de ir à Tailândia e à Austrália.

E como vai de amores?

PUB

Para já não quero casar nem ser mãe, não são prioridades, só tenho 27 anos. Casar na igreja não é um objetivo. Vejo-me junta com uma pessoa e a ser feliz. Se vai ser num futuro próximo ou longínquo, não sei. A vida dá tantas voltas.

 

Fotografia de Pedro Ferreira

Realização de Helena Assédio Maltez

PUB

Assistentes de realização: Joana Lestouquet e Carmen Barber

Assistente de fotografia: Ricardo Lamego

Maquilhagem: Cristina Gomes, assistida por Rita Costa

Cabelos: Helena Vaz Pereira, assistida por Pini, para Griffehairstyle

PUB

A Máxima agradece à OITOEMPONTO todas as facilidades concedidas.

 

1 de 6 / Joana Santos: Vontade de vencer
PUB
2 de 6 / Novela da SIC que ganhou um Emmy
3 de 6 / No papel da vilã Diana
4 de 6 / Atribuído à novela em que participou
PUB
5 de 6 / Júlia, em Dancing Days
6 de 6 / Soutien em renda, Intimissimi. Collants em licra, Calzedonia. Colares vintage em metal, Givenchy, e em metal e resina, Napier, tudo na Rosebud LBV. Anel Golden Stones em ouro amarelo, H. Stern. Anel Cocktail em ouro rosa, jade e ametista, Mimi.
PUB
PUB