Isabel Abreu: "Aos 46 e ao ver-me na tela, tenho muito, muito orgulho do que transporto com a idade."
"Primeira Pessoa do Plural" é o novo filme de Sandro Aguilar, em mostra no Festival de Cinema de Roterdão, com Isabel Abreu e Albano Jerónimo.
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05 de fevereiro de 2025 às 14:31 Rita Silva Avelar
A sinopse do novo filme de Sandro Aguilar, no qual Isabel Abreu e Albano Jerónimo são um casal de protagonistas, com Eduardo Aguilar no papel de filho, deixa um enigma no ar. De que trata o filme? É perda? É inquietação? É a dura travessia do deserto que um casal atravessa em determinada fase das suas vidas? Mas há efeitos psicotrópicos pelo meio, e espaço para um ambiente permanente de suspense.
"A escapadela tropical de um casal para o seu 20º aniversário dá uma reviravolta inquietante quando os efeitos secundários da vacina provocam sintomas estranhos" lê-se, na descrição de Primeira Pessoa do Plural. "Enquanto se preparam para deixar o filho para trás, desenvolve-se uma atmosfera sinistra que ameaça as suas relações". Entrevistámos Isabel Abreu, que de momento está nos Países Baixos para estreia internacional do filme no Festival de Cinema de Roterdão.
Depois, o resto acaba por ser preencher e encher com muitas coisas que vejo, leio, escuto e sinto. Foi um processo extremamente feliz. Ainda por cima começámos fora de Portugal, em Itália, foi um processo muito feliz, em estado de graça, em que tivemos sete semanas quase, diria, de um mundo paralelo, de um universo paralelo.
Foto: DR
Quando se está tanto tempo fora do país profissionalmente, como manter rotinas fora do trabalho? O que mais gosta de fazer quando não está a trabalhar?
Quando não estou a trabalhar, muitas vezes estou a tentar descansar, a aproveitar para descansar entre trabalhos, porque às vezes não é assim tão fácil andar de um lado para o outro e visitar museus, estar com amigos ou amigas que estejam nessa cidade, estar com os atores e as atrizes que estão comigo, com os técnicos que estão comigo, almoçar. Depois, tento encontrar as pequenas coisas que me dão prazer ou que me são necessárias. Por exemplo, uma das coisas que eu tento encontrar sempre é onde é que há o melhor pho para comer (aliás, eu falei disso numa pequena rubrica que tive convosco), porque é algo que me dá imenso prazer e que me faz qualquer coisa como lembrança de casa, e talvez de infância.
Foto: DR
Como foi trabalhar com o Sandro? Foi a primeira vez que rodou um filme com ele?
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Em muitas das vezes, sinto que adivinho o que o Sandro quer, e ele adivinha um caminho para onde eu posso ir. Somos muito claros no que gostamos e no que não gostamos. Eu acho que sei bem também o que é que ele não gosta. Ou seja, eu sou uma boa espectadora, também, dos filmes do Sandro, porque ele deixa-nos sempre uma margem que nos obriga a pensar, a refletir e a criarmos as nossas próprias histórias. Sim, sou uma belíssima espectadora dos filmes dele.
Foto: DR
Como se sai emocionalmente de uma experiência tão intensa como dar vida a um personagem?
Foto: DR
Como sente a idade na pele, na sua profissão? O que a faz sentir-se bonita?
Sinto-me mais construída, ou reconstruída, ou existente, quase, agora aos 46, do que sentia aos 18. Acho que se me pedissem para voltar atrás, eu não queria. E não é por uma questão de tempo, porque eu gostava de viver muitos anos. É mesmo porque eu gosto muito de mim com a idade que tenho. E mesmo agora, quando falei dos filmes do Sandro, de ter começado com 20 anos e de agora estar com 46 e ver-me na tela, tenho muito, muito orgulho do que transporto com a idade. Como eu costumo dizer, a brincar, transporto uma série de coisas que para cinema são fundamentais, porque ficam nos olhos. E, portanto, mesmo em silêncio, com a idade, passa-se muita coisa. Não tenho problema nenhum com o envelhecimento. Sei que há determinadas coisas que são mais difíceis de fazer, mas ao mesmo tempo, por dentro, não sinto a idade que tenho. O que é interessante. Sinceramente, o que me faz sentir mais bonita é a capacidade de me me rir e de me espantar com coisas. Acho que as gargalhadas, o riso e as complicidades são as coisas que me fazem sentir melhor e mais bonita.