Catarina Beato: “Se [ele/ela] não te quer, tu não [o/a] queres. Parem de romantizar isso de conquistar".
Conversámos com a coach e criadora de conteúdos digitais, mãe de Gonçalo, Afonso, Maria Luiza e Mariana, sobre relacionamentos amorosos e sobre maternidade e dos desafios que os dois envolvem, juntos.
Foto: D.R06 de junho de 2023 às 07:00 Rita Silva Avelar
Como se começou a interessar pela análise dos relacionamentos amorosos, por assim dizer?
Eu sempre escrevi sobre amor. Na verdade eu cresci a ouvir o "Amor de Perdição" pela voz doce do meu avô. Vivi as minhas histórias de amor (umas mais felizes, outras mais dramáticas). Aos 37 anos quando conheci o Pedro [marido] e percebi que era diferente, queria mesmo que funcionasse, queria fazer diferente. O Pedro merece o mundo, mas fiz terapia e estudei muito porque eu mereço o mundo e isso incluía o Pedro. Aos 37 anos quando casei decidi estudar sobre relacionamentos para consumo próprio. Durante o confinamento a vida deu-me um pontapé feio que me fez olhar para as relações saudáveis de forma muito urgente. E foi assim que, muito a medo no início, levei a minha experiência e estudo aos outros.
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Sempre falou abertamente de relações, amor, maternidade. Viver, viver realmente, dá uma perspetiva de coaching diferente?
As minhas histórias dão-me experiência mas, acima de tudo, dão-me abertura. Há muitas emoções a que posso chegar porque já lá estive. Mas também há muitas vidas completamente diferentes da minha. O maior desafio como coach é deixar ir os meus valores e ser capaz de orientar pessoas diferentes de mim. Tenho limites face aos processos que acompanho mas não posso querer que as pessoas tenham os meus limites. A perspetiva diferente vem do facto de viver de forma muito honesta e isso ajuda-me a chegar às outras pessoas.
Quais são os maiores dilemas dos casais de hoje?
De forma muito generalista diria: pouca consciência de quem são (como indivíduos), expectativas desajustadas como casal (e nisto o nascimento de um filho é dramático) e questões de comunicação (que são transversais a outras áreas da nossa vida).
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Foto: D.R
A maternidade/paternidade pode ser um caos para os relacionamentos amorosos? Como definir limites e traçar objetivos em comum, para pais de primeira viagem, por exemplo?
O nascimento de um filho (venha ele da barriga, do amor, ou de relações anteriores) é um elemento que muda completamente a equação do casal. Primeiro que tudo é preciso ter essa consciência: a relação vai mudar. É preciso conversar sobre as necessidades e limites de cada um. É urgente viver com responsabilidades verdadeiramente partilhadas. E isso dá trabalho num primeiro momento, mas evita que uma das partes (quase sempre a mãe) fique exausta. É preciso conversar! É preciso pôr os vários pontos num papel, fazer um horário, trocar ficheiros de Excel.
E é preciso pararmos de vibrar nas feridas e fazer muita terapia. Os filhos trazem gatilhos. Eu fico alterada quando ouço chorar e foi preciso tratar isso em mim para que a minha energia não ficasse drenada. Pessoas sem energia não podem amar!
Quais são os piores inimigos de um relacionamento? Os sinais tóxicos.
Não acredito em red flags universais. Eu tenho de conhecer as minhas necessidades e limites, ser livre para viver em coerência com isso e dar espaço ao outro para fazer igual. Conhece os teus limites e não deixes (mesmo) que sejam ultrapassados. Os limites permitem flexibilidade mas não permitem permissividade.
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O que é para ti "respeito"? Faz essa lista e não permitas que ninguém pise essas regras em nome de uma relação. Lembra-te que, sem limites, não existes. E esquece lá isso de seres "exigente demais". Há por aí um match de "exigências".
Quais são as regras básicas de um bom relacionamento? O que funciona para uns pode não funcionar para outros, ou há determinadas bases?
Há três pontos que posso tornar universais:
Se não te quer, tu não queres. Parem de romantizar isso de "conquistar". Queremos investir em quem recebe o que temos para dar. Podemos esperar, podemos acertar o queremos, mas insistir em quem não nos quer não é teimosia, é necessidade de terapia.
Se estás com alguém com esperança que a pessoa mude, estás na relação errada. Se queres que a relação mude, a responsabilidade também é tua.
Sem limites, não existes.
Catarina Beato conta com 91 mil seguidores no Instagram.
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Foto: D.R
Em casais que se amam mas não conseguem viver juntos, há esperança para eles?
Com as casas ao preço a que estão, é desafiante! (risos). Os casais não têm de viver juntos, nem dormir na mesma cama, nem fazer sexo x vezes por semana, nem ter ou não ter filhos. Os casais têm que ser mais felizes na relação que fora dela. E a forma como são felizes é a sua fórmula mágica. Larguem o que é suposto e procurem a vossa.
Qual é o seu maior ensinamento, neste domínio? Um que tenha aprendido e passe sempre…
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A minha eterna frase "a vida resolve-se sozinha". Significa apenas que temos tanta ideia que controlamos todas as decisões que nem observamos que a vida já nos deu todos os dados.
E nisto das relações: "sem limites não existes" - temos de ter muita consciência de quem somos. Essa responsabilidade é nossa.
O que podem esperar os casais que procuram acompanhamento com a Catarina?
Trabalho, perguntas difíceis, abanões, autoconhecimento, consciência, gargalhadas e lágrimas. Se esperam que diga "tens razão" ou "a culpa é toda do outro" não vale a pena. Há uns anos prometi a alguém muito, muito, muito importante que nunca lhe permitiria ter menos do que merecia, e falhei. Estou cá para compensar e levar isso a todas as pessoas com que trabalho: terem exatamente aquilo que merecem, serem felizes.