Cancro da mama inicial: vigiar ou tratar?

"Demasiada quimioterapia, excesso de radioterapia e um exagero de mastectomias." O alerta da revista Time correu mundo e deixou muitas mulheres cheias de dúvidas. Tire-as aqui.

13 de maio de 2016 às 12:18 Máxima

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O QUE É A VIGILÂNCIA ATIVA

O radiologista José Carlos Marques recorda que no IPO Lisboa não há nenhum caso de pacientes que recusem tratamento imediato "porque não há estatísticas de mulheres que não são tratadas", mas nos EUA o número tem vindo a crescer. Mulheres com um CDIS de baixo risco, sem antecedentes familiares ou risco genético, e que passaram a barreira dos 50 anos, têm um risco quase nulo de vir a desenvolver um cancro, com todas as letras, e, uma vez alertadas para as consequências da cirurgia e da radioterapia, preferem uma abordagem mais cautelosa. Optam, então, pela proposta de Vigilância Ativa: mamografias anuais ou com a frequência que o médico entender e, quando indicado, um tratamento hormonal simultâneo. O que é muito diferente de "não fazer nada", como explica a oncologista e investigadora Shelley Hwang, que acaba de receber uma bolsa de 1,8 milhões de dólares, exatamente para levar a cabo um estudo retrospetivo que irá comparar os resultados de vigilância ativa com os cuidados standard. Há também cinco universidades na Califórnia que estão a colaborar em registos de "esperar-e-vigiar", para mulheres diagnosticadas de CDIS, a fim de obter dados que permitam avaliar o verdadeiro risco de desenvolver cancro metastático, aquele que realmente coloca a mulher em perigo.

NOVOS TESTES PARA SABER A EFICÁCIA DOS TRATAMENTOS 

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Foi recentemente introduzido um teste genómico – o Oncotype DX CDIS® – que ajuda a tomar decisões sobre os tratamentos a efetuar após a cirurgia, dando informação sobre o risco de recorrência como CDIS ou como carcinoma invasivo e ainda sobre o eventual beneficio da radioterapia após a cirurgia.

Este teste é realizado sobre uma amostra de tecido do tumor e analisa um grupo de genes, cujo resultado é dado numa escala de zero a cem (Score de Recorrência). Quanto menor o score, menor o risco de recorrência tanto na forma de CDIS como invasivo. Há grupos que consideram um score menor de 39 como indicador de CDIS com baixo risco de recorrência e com menor benefício da radioterapia e um score maior de 54 indicando CDIS com alto risco de recorrência e maior benefício da radioterapia.

Este score de recorrência deve ser considerado em conjunto com outros fatores como o tamanho, o grau do CDIS, a presença ou ausência de recetores hormonais positivos e a idade da paciente. Na posse destes dados deve então ser tomada a decisão sobre efetuar ou não a radioterapia.

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AS BOAS NOTÍCIAS 

 

As estatísticas estão do lado das mais de 4500 mulheres que são diagnosticadas anualmente com cancro da mama em Portugal. De acordo com os últimos dados recolhidos, Portugal está entre os países com a mortalidade mais baixa (inferior a 20 por cento), o que prevê uma enorme possibilidade de cura quando diagnosticado e tratado de início.

Em outubro de 2015, a revista Time publicou um artigo de fundo onde compilou os testemunhos de várias mulheres diagnosticadas com cancro da mama, mas também de médicos. A decisão de não intervir em estádios iniciais da doença ainda é muito polémica mas, nos Estados Unidos, já vai sendo frequente.
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