8 perguntas a Joana Botelho, realizadora de “Coney Island - As primeiras vezes”

Em 8 minutos, somos transportados para Coney Island, a movimentada península em Brooklyn, Nova Iorque, pela voz e argumento de Frederico Batista e realização de Joana Botelho.

Coney Island - As Primeiras Vezes | Trailer.f136.mp4
17 de junho de 2024 às 20:48 Rita Silva Avelar
Foto: DR

Coney Island - As Primeiras Vezes foi o vencedor do Prémio SOPHIA 2024 na categoria Melhor Curta-Metragem de Documentário, e está agora em exibição no Cinema City Alvalade com três sessões diárias a 17, 18 e 19 de junho. Antes, falámos com a realizadora de Sorry Mama, uma curta de 2023, com Mafalda Jara e Alice Coelho; e também atriz, em várias produções nacionais como A Arte da Luz tem 20.000 anos (2014), do pai, João Botelho, O Rio (2014) de António Pinhão Botelho ou A Pedra (2016), de Ana Lúcia Carvalho. Joana estudou cinema e vídeo na Escola Artística António Arroio, passou pela Leopardo filmes e foi assistente de guarda-roupa em duas longas-metragens. Viveu em Londres, para onde se mudou em 2015 e onde permaneceu 5 anos.

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De onde parte da ideia de fazer este exercício sonoro e memorial sobre Coney Island? Que te diz este local, a ti? 

A ideia surgiu depois de ler o livro Just Kids da Patti Smith. Estava em Nova Iorque quando o li. Há um capítulo muito bonito sobre uma ida a Coney Island. Fiquei com vontade de lá ir e imitar o percurso da Patti, desde o Chelsea Hotel até ao fim da linha F. A ideia era fazer um pequeno filme, captei as imagens, mas só anos mais ou tarde cheguei à conclusão do que fazer com elas. Antes disso lembro-me de ouvir falar de Coney Island, em músicas, já tinha visto imagens também. Apesar de já ter estado em Nova Iorque antes nunca me tinha aventurado até lá. O livro deu-me o incentivo que faltava. 

Foto: DR

Há uma narrativa imprevista, criativa e efervescente nesta curta, em apenas 8 minutos, que tem sempre um lado exploratório. Foi essa a tua ideia? E deixar uma reflexão em aberto, também?

O Frederico Batista é o responsável por esta narrativa. Ele pegou num e-mail gigante que lhe escrevi onde eu contava a minha experiência em Coney Island, as minhas dúvidas, ideias, frustrações e a partir daí organizou tudo isto. A ideia das três primeiras vezes é dele! E faz todo o sentido. Ele explorou de certa forma o que ia na minha cabeça. Acho que a reflexão em aberto depende da pessoa que vir o filme. Para mim há uma conclusão apesar de acabar numa pergunta. O Frederico saberia responder a esta pergunta melhor. 

Sobre Patti Smith, que fascínio encontraste naquele retrato? Foi um dos pontos de partida para a curta? 

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Foi realmente o ponto de partida. Se não tivesse lido o livro naquela altura, este filme não existia. Mas sentia me sozinha em Nova Iorque e cheia de vontade de ter as minhas aventuras, o Just Kids fez-me sonhar e fantasiar um pouco, senti-me mais acompanhada durante aquelas páginas.

Porquê uma voz masculina com escolha da narrativa?

A voz é a do Frederico Batista, que escreveu o texto. Cheguei a fazer a experiência de ter uma voz feminina, mas não resultava. Ficava confuso. Não se percebia se era eu ou não a falar. Mas o que me interessava aqui era ter uma separação distinta da visão de fora e do que eu sentia. A voz masculina ajudava a distanciar isso. E fazia sentido ser o Frederico a narrar, o texto era o dele, a visão de fora também. 

Como começaste a pensar esta curta, e quando? 

Esta curta teve vários inícios, o primeiro foi em 2017 quando li o livro e fui a Coney Island, mas as imagens ficaram durante muito tempo paradas numa pasta de computador. Depois com a pandemia decidi voltar a pegar nelas e a querer dar algum sentido. Tinha imagens bonitas que não queria que ficassem perdidas. Nessa altura falei com o Frederico, e foi mais um início. 

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Foto: DR

Como foges do nepotismo - ou nunca pensas muito sobre isto? 

Não sei se fujo. É o que é. Acho que o meu trabalho tem de falar por mim. Portugal é um país tão pequeno e o mundo artístico às vezes tão pouco valorizado, que não sei se as vantagens são assim tantas. Na minha experiência serve mais para conseguir entrar no LUX sem estar na fila, o que é um privilégio. 

Consegues ver aspetos positivos no apoio aos artistas em Portugal? Que te tem trazido o país na arte que queres criar? 

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Nunca ganhei um apoio. Se este filme tivesse sido primeiro uma candidatura não acredito que a tivesse ganho. Mas tenho projetos que quero fazer e existem apoios, mas somos muitos para poucos lugares. Por isso tem sempre de haver um plano b, c, d…se queremos mesmo concluir um projeto. Mas espero um dia conseguir o A.

Tens uma página - que pelo menos até 2021 era mais regular - Stories I Tell. Sentes uma urgência em criar? Vê-se na tua narrativa visual a ânsia de contar histórias. Sempre foste contadora de histórias? 

Criei esse projeto quando estava a viver em Londres. Estava a trabalhar muito em catering e como "waitress" com o sonho de ser atriz. Acho que foi uma necessidade. Queria sentir que continuava a existir criatividade e alguma expressão artística  na minha vida. Apesar de agora perceber que existia muita criatividade nos eventos. Gosto de contar histórias através de filmes e escrita, mas se me pedirem para contar uma durante um jantar bloqueio. 

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