As mulheres que mudaram Hollywood
A propósito da estreia de Detroit, o novo filme da premiada Kathryn Bigelow, recordamos as atrizes, realizadoras, argumentistas e estetas que marcaram para sempre a história do cinema.
Muito se tem dito e escrito acerca do polémico Mãe!, de Darren Aronofsky (Nova Iorque, 1969). O realizador de A Vida Não É Um Sonho (2000) e Cisne Negro (2010) é conhecido pelos seus projetos desafiantes, mas este está num outro patamar. A verdade é que o filme deixou o público e até os críticos confusos, sobretudo devido ao seu caráter alegórico e metafórico, passível de originar diferentes interpretações. Depois de ter gerado uma reação ambígua (foi vaiado mas também aplaudido) no 74.º Festival de Veneza, a equipa de filmagens discutiu-o com mais pormenor numa conferência de imprensa do Festival Internacional de Cinema de Toronto. Nela, Aronofsky (que escreveu o argumento em cinco dias) comparou o filme a uma intensa viagem num parque de diversões, em que só devemos embarcar caso queiramos viver algo novo e diferente.
No entanto, na sua estreia americana, o CinemaScore atribuiu-lhe um F, a pior classificação possível e algo muito raro de acontecer. Talvez por ter arrecadado apenas 7,5 milhões de dólares no primeiro fim de semana nos EUA. Nem o facto de ter Jennifer Lawrence como protagonista ajudou… Os críticos não são tão negativos, mas, agora que o filme está a ser recebido no resto do mundo, as opiniões continuam a dividir-se.
Não é fácil falar de Mãe! sem entrar em detalhes sobre o enredo e sem revelar os tão temidos spoilers. Resumidamente, a atriz vencedora de um Óscar (por Guia Para Um Final Feliz) interpreta a mulher de um egocêntrico escritor em crise, vivido pelo espanhol Javier Bardem. A rotina do casal é abruptamente interrompida com a chegada de um homem (Ed Harris) à casa onde vivem. A partir daí, o local torna-se palco de toda uma panóplia de acontecimentos e personagens, que precipitam uma situação de caos incontrolável e arrastam a protagonista para uma espiral paranoica. O argumento não parece fazer muito sentido e nem é para fazer, já que apenas serve um objetivo maior do realizador. E há ainda um outro fator: nenhuma das personagens tem nome. Assim, nesta alegoria claramente religiosa e ambientalista, com evidentes referências à Bíblia, a mãe que intitula o filme (Lawrence) pode ser vista como a Mãe Natureza, o homem (Bardem) como a entidade criadora, a casa como o meio de subsistência e a ação destruidora dos convidados como a falta de cuidado perpetrada pelos seres humanos contra o planeta. Tudo isto com algum terror à mistura. Ambicioso ou não, consensual ou nem por isso, este filme promete ficar na nossa cabeça durante muito tempo.