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Prazeres

Livro. A história do mundo através das lentes pegajosas e baças do sexo

Se ler o livro "A Mais Breve História do Sexo", ficará a saber, de fonte segura, algo de que já desconfia: a sexualidade sempre foi e sempre será uma complicação dos diabos. E só tende a piorar.

Foto: Getty Images
17 de fevereiro de 2025 às 10:19 Madalena Haderer

Se passou o Dia dos Namorados sozinha, sem direito a jantar romântico, filme fofinho e sexo desenfreado, e, acima de tudo, sem conseguir perceber como é que uma coisa tão – aparentemente – simples e natural quanto arranjar um parceiro é, afinal, um campo minado, saiba que há um livro com todas as respostas que procura. Em A Mais Breve História do Sexo, o autor, David Baker, um australiano com um digníssimo bigode e que foi a primeira pessoa no mundo a doutorar-se em Big History, conta a história do mundo através do sexo. Baker, um escritor perspicaz e divertido, começa nas primeiras uniões microscópicas e vai abrindo caminho até ao Tinder – na prática, por muito tempo que passe, nunca conseguimos sair do pântano. Percorre, connosco pela mão, milhares de milhões de anos e, no fim, desenvolve diversas teorias sobre como será o sexo do futuro.

Foto: DR

Com as suas modestas 364 páginas, este livro é um verdadeiro tratado histórico-científico. Ou seja, não é, propriamente, o guia maroto e divertido que o coelhinho rosa-choque da capa sugere, mas isso não significa que seja um texto académico chato, denso e difícil de seguir. Muito pelo contrário. É um relato animado, espirituoso e simples onde o autor fala despudoradamente – não é por acaso que, logo na introdução, diz esperar que quem esteja a ler o livro "não ruborize com facilidade" – sobre a "ascensão da pila na nossa linhagem ancestral", "crónicas do clitóris", "brincar com a ferramenta errada" e outras pérolas. 

A Mais Breve História do Sexo está dividido em três partes: "Preliminares Evolutivos", "Clímax dos Primatas" e "Resplendor Cultural". E é nesta última parte, que compõe a segunda metade do livro, que as coisas se tornam mais sumarentas. Há espaço para fetiches, promiscuidade, pornografia, prostituição e casamento, mas também para revolução agrária, revolução industrial e freudianismos, com direito a subtítulos tão promissores quanto "Sexo numa espelunca agrária" ou "Corações solitários e mãos calosas" – a propósito, "mãos calejadas" talvez fosse melhor tradução, mas não é por isso que se perde o sentido. 

Foto: DR

Sendo que já não podemos fazer grande coisa pelo passado, vale a pena, talvez, sublinhar algumas das previsões que o autor faz para o futuro do sexo. É que, se está mau agora, segure-se bem… De acordo com David Baker, a população de solteiros parece estar em constante crescimento. "Às taxas atuais, o número de pessoas que nunca encontram um parceiro de longo prazo poderá aumentar para metade ou mesmo para dois terços da população do mundo até 2100, a menos que algo mude." 

O autor aponta ainda para alguns futuros "prováveis" mais extremos. Um deles é aquilo a que chama "supremacia dos solteiros", em que "as pessoas passam a desconfiar da coabitação a longo prazo, fazendo com que a maior parte da população passe grande parte da sua vida sozinha". Isto poderá ocorrer devido a um "aumento da animosidade entre géneros" e "nesse cenário, também é provável que a dependência das pessoas em relação à pornografia online, ao trabalho sexual, aos brinquedos sexuais e talvez às bonecas sexuais e sexbots realistas aumente drasticamente." Um outro futuro, a que Baker deu o nome de "bonança bonobo", consiste num cenário em que "as mulheres teriam cada vez mais relações sexuais com estranhos, independentemente de quão atraentes fossem, e criariam os filhos daí resultantes de uma forma comunitária entre si, dependendo menos dos homens".

"Em suma," conclui o autor, "haverá muito mais sexo promíscuo na sociedade, um grau razoável de falta de sexo, e não muito compromisso". Ou seja, tudo como dantes.

A Mais Breve História do Sexo é um livro publicado pela Ideias de Ler, uma chancela da Porto Editora, está disponível nas livrarias do costume e custa 17,99 euros.

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