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Prazeres

As tradições de Natal de Gracinha Viterbo

As muitas facetas de Gracinha Viterbo conduzem a um Natal que mistura tradição e criatividade. E, numa época de partilha e inspiração, a decoradora leva-nos à boleia pelos rituais da sua quadra festiva.

24 de dezembro de 2019 às 08:00 Carolina Carvalho

A ideia inicial de uma curta e rápida entrevista era apenas ter a opinião de uma reconhecida criativa de interiores sobre as decorações e tradições de Natal. Mas as respostas de Gracinha Viterbo são o reflexo de gostos pessoais e rituais familiares muito próprios. Aproveitamos a partilha e entramos no sue universo.

No que toca à decoração da época natalícia, quais acha que são as tradições tipicamente portuguesas?

Sou uma menina rebelde no que toca a tradições. Por mais que sempre tenha ficado emocionada com decorações natalícias tradicionais, dignas de uma descrição completa de um livro de crianças de Sophia de Mello Breyner, sempre recorri à criatividade em minha casa, no que toca a decorações natalícias, e tentei inventar as nossas próprias tradições. Como faço sempre "intemporal, artesanal mas com um twist atual".

Das tradições portuguesas gosto muito de pinheiros naturais, costumo ter mais que um - desde um conjunto de miniaturas na sala de jantar, a um grande com ramos, não certinhos mas selvagens, que ocupem espaço. Gosto da poesia dos pinheiros imperfeitos, luzes pequenas em tom quente de velas acesas, grinaldas - também tradicionais, mas prefiro selvagens e naturais misturadas com penas de faisão, musgo, romãs, e algumas "ervas de pampas", eucalipto selvagem, pinhas e alguns toques rebeldes como um ou dois tubos de néon de cores fortes aqui e ali. Em minha casa as tradições nunca se seguem à risca... A minha árvore de Natal não tem decoração tradicional, é, desde há 15 anos, cheia de fotografias e vai crescendo cada ano com as melhores memórias desse ano, desde que o meu primeiro filho nasceu.

Mas voltando às tradições… Na minha loja - Cabinet of Curiosities - vendo acessórios tão típicos como soldadinhos de chumbo e acessórios lindos de vidro, pintados na fábrica mais antiga no mundo de acessórios de Natal de vidro soprado e pintados à mão, assim como acessórios muito modernos com a cara do David Bowie ou cassetes dos anos 80. Misturas improváveis mas, como acredito em identidades únicas, procuro não só praticar o que acredito como tê-lo disponível no meu Cabinet para quem pense como eu.

Para mim a tradição do Natal é sobretudo o sentimento de união e partilha, seja com que identidade for e nisso, nós portugueses, sempre fomos, ainda somos e espero que sempre seremos, ligados à ideia central de família seja ela de sangue ou de amigos, entreajuda, união e partilha. O que se mantém sempre no Natal português.

Há novos elementos de outras culturas ou países que tenham sido incorporados nas tradições natalícias portuguesas da atualidade?

As grinaldas à porta, cada vez mais atenção e gosto nas flores e plantas natalícias, as decorações mais selvagens e naturais com misturas improváveis de eucalipto selvagem, penas, e folhas secas. Menos clássicas, mas tanto poéticas e mágicas como a época assim pede.

E quanto a tradições da quadra que se perderam. Há alguma que identifique, em especial?

Para mim a mais bonita que se perdeu é a dos grupos de pessoas e crianças que batiam à porta e cantavam canções de Natal de casa em casa... ainda há, mas muito pouco. O Natal mais do que decorações e presentes é sobre a união, as gargalhadas, a partilha de memórias e o calor da família seja ela de sangue ou de amigos. Ouvir esses grupos a bater à porta e a cantar sempre me encheu o coração com uma magia que só o Natal traz.

Diga-nos uma tradição de Natal que herdou da sua família e mantém hoje com os seus filhos?

O pequeno almoço de Natal! Um dos momentos altos da nossa família que herdei da minha infância. Tenho quatro filhos e aquela manhã de [dia] 25 é mágica. Depois de andar a saltar de família em família no dia 24, o que é animado e divertido, mas cansativo numa família numerosa, aquela manhã é só nossa. A ansiedade de irem ver se Pai Natal passou, deixa-lhes sempre mensagens especiais e faz da manhã ainda mais mágica. Ao pequeno almoço estalamos "crackers" e pomos as coroas de papel na cabeça. O pequeno almoço são panquecas, waffles e tudo o que eles gostam... e  é o último dia do "elf on the shelf", uma tradição americana que herdamos da nossa estadia em Singapura. Trata-se de um duende do Pai Natal que aparece no dia 1 de dezembro e que todos os dias, quando acordam, fez uma asneira divertida (ver #elfontheshelf). Se tocarem nele perde a magia e não volta, no dia 25 de manhã despede-se deles até o ano seguinte.

E agora mais como mãe de família (com quatro filhos) do que como decoradora, o que é para si absolutamente indispensável numa casa em época de Natal?

Música natalícia sempre a tocar, gargalhadas, lareira acesa e sempre casa cheia de família e amigos, cheiro a bolachas e coisas a serem preparadas na cozinha (pelos meus filhos quando chego a casa) e a nossa árvore cheia de memórias (fotografias especiais da nossa vida em família desde há 15 anos) é um dos recantos mais especiais que temos. Já está enorme para caberem as fotografias e acaba sempre por se rodear de pessoas a falar das memórias que lá estão. Imagino-me velhinha com o meu marido e com uma árvore gigante com todas as memórias que criámos ao longo dos anos, um dia... daqui a uns bons anos!

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