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Prazeres

A arte de produzir um vinho autêntico, de guarda e sustentável em Lisboa

Na Quinta da Boa Esperança, em Torres Vedras, conhecemos a enóloga Paula Fernandes e o seu trabalho de sucesso.

06 de junho de 2018 às 16:00 Aline Fernandez

Nas terras da Zibreira, no concelho de Torres Vedras, região vitivinícola de Lisboa, encontra-se a Quinta da Boa Esperança, uma empresa familiar com consciência ambiental bastante marcada. A sustentabilidade, aliás, envolve todo o processo da produção do vinho, desde a apanha da uva, realizada na quinta há mais de cem anos em vindima manual, até ao consumidor final - esses são os principais pilares do projeto, criado no final de 2014.

Voltar às raízes, através dos métodos artesanais de produção com vinhas sustentáveis, foi um dos objetivos dos proprietários Eva Moura Guedes e Artur Gama aquando da aquisição da quinta e durante a proteção integrada e preventiva dos 10,5 hectares de vinhas velhas de 15 anos que já existiam no terreno. Atualmente há vinhas novas e velhas, numa área total de 8,7 hectares em produção, 9,7 hectares plantados e, a curto prazo, mais 1,5 hectares de produção. "Escolhemos a quinta pelas vinhas, não pela casa", justificou Eva ao pontuar que a Natureza sempre teve forte presença nas decisões do casal. O próprio símbolo da Quinta da Boa Esperança, também presente nos rótulos dos vinhos, é baseado no desenho do Homem Verde. Eva mostrou-me o símbolo talhado no antigo móvel da família. "Nós brincávamos às casinhas aqui em baixo e recordo-me dessa imagem sempre", explica, já que o rosto do homem rodeado por folhas fica subtilmente na parte de baixo do armário de madeira escura. Foi nesta mesma sala que conheci Paula Fernandes, a enóloga residente da Quinta da Boa Esperança desde o início do projeto.

O percurso de Paula passa por várias adegas como a José Maria da Fonseca, em Setúbal, e a Sociedade Agrícola Dona Joana, no Alto Alentejo. Ela também fez parte da coordenação e é coautora do Catálogo Nacional de Variedadese, em 2009, a sua tese de mestrado sobre os Comportamentos das castas Touriga Nacional e Syrah em diferentes terroirs, desde o Minho ao Baixo Alentejo valeu-lhe várias distinções, entre elas a nomeação do Melhor Trabalho do Ano pela Associação Portuguesa de Enologia e o Prémio da Confraria do Dão.

Em muito pouco tempo, com a Quinta da Boa Esperança, o seu trabalho já valeu 13 distinções (até ao momento) aos vinhos da empresa. "Há uma grande diferença entre a vindima manual e a vindima mecânica. O bago chega intacto à adega ou já chega completamente feito, com alguma oxidação, portanto conseguimos trabalhar muito melhor. O vinho utiliza menos produtos enológicos com o cacho inteiro do que com a uva vindimada à máquina. É como na culinária, não é? Se temos um bom produto não necessitamos de fazer grandes temperos e aplicar grandes especiarias", explica-se humildemente.

Em um ano e meio, a produção desses vinhos portugueses já chega ao Reino Unido, Irlanda, Dinamarca, Bélgica, Holanda, Líbano, China e Estados Unidos. A aceitação do público interno e externo é muito positiva. "Os prémios também representam um bocadinho isso, principalmente os internacionais, porque creio que são um pouco mais imparciais, são pessoas que não conhecem a empresa, não estão no meio, portanto isso é bom para nos dar uma indicação do que é do agrado do público em geral", pondera a enóloga.

Destaque no meio de homens

"Eu confesso que nunca tive a vida dificultada por ser mulher. Nunca senti essa dificuldade, tenho colegas minhas de profissão que sim. Eu, felizmente, desde que comecei a trabalhar no Catálogo Nacional de Variedades, o grupo de trabalho era todo composto por homens, eram investigadores da Estação Vitivinícola Nacional, os meus ex-coordenadores do trabalho da tese de mestrado, o meu orientador... Portanto, sempre trabalhei num mundo muito masculino e felizmente nunca senti nenhuma pressão por ser mulher. Sempre me trataram muito por igual, também trabalhava como eles. Se era preciso ir recolher dados à meia-noite, ia recolher dados à meia-noite como todos. Se era preciso também carregar uma caixa de uvas, carregava uma caixa de uvas. Se calhar, por aí, nunca me coloquei na posição de ‘mulher’ e de ter uma composição mais feminina. Sem perder a minha feminilidade, sempre fiz o que os homens faziam. Obviamente que, na adega, dá muito jeito ter um homem forte para um trabalho mais pesado, quando são precisas umas mãos extras e mais resistentes", brinca Paula e completa: "Lá está, homens e mulheres podem trabalhar em qualquer área em conjunto. No meu caso, é um caso de sucesso."

A diferença ao criar vinhos de guarda e sustentáveis

"Eu também estou a par dos custos. Eu e o departamento financeiro falamos muito e sei o custo da mão-de-obra. A mão-de-obra não é mal paga nessas áreas, existe às vezes o conceito de que a mão-de-obra é muito mal paga na agricultura, mas como estamos a falar de prestadores de serviço, ou seja, não são funcionários nossos, são de empresas que nós contratamos, essas pessoas têm de ter seguro associado, têm de pagar também impostos, então portanto também cobram valores bastante significativos por cada elemento. Mas também não podemos passar sem eles, são pessoas fundamentais da relação e, quando vemos que há vinhos muito, muito baratos no mercado, a mão-de-obra está muito reduzida, portanto muito mais industrializada e teremos também um produto muito mais industrializado. Só a nível de packaging, rolha, garrafa e rótulo fica, em média – os nossos são um bocadinho mais caros –, um euro, €1,20 a €1,50. Portanto, o que estará dentro da garrafa?", questiona Paula Fernandes sobre a prática de preços de alguns vinhos no mercado.

Na Quinta da Boa Esperança são produzidos os vinhos Colheita Tinto, Syrah, Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Rosé, Colheita Branco, Fernão Pires, Arinto, Sauvignon Blanc e Reserva Branco. "Obviamente que os vinhos têm muito a ver com o nosso perfil gustativo. De brancos, o meu preferido é o Alvarinho, é um vinho mais sério, menos aromático, com mais frescura e mais acidez, é o meu preferido. No caso dos tintos monovarietais, o que eu estou a gostar mais de momento é o Touriga Nacional", partilha Paula.

O equilíbrio da feliz coexistência do homem com a Natureza traduz-se no Quinta da Boa Esperança, um vinho autêntico, de rigor, que transporta na excelência a experiência antiga para os dias de hoje. E o melhor: com a história de sucesso de uma mulher no comando.

A enóloga Paula Fernandes trabalha na Quinta da Boa Esperança
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A enóloga Paula Fernandes trabalha na Quinta da Boa Esperança
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A enóloga Paula Fernandes trabalha na Quinta da Boa Esperança
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A Quinta da Boa Esperança
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A Quinta da Boa Esperança
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Os proprietários da Quinta da Boa Esperança: Artur Gama e Eva Moura Guedes
6 de 10 / Os proprietários da Quinta da Boa Esperança: Artur Gama e Eva Moura Guedes
Alicante Bouschet 2015, €14,90, Quinta da Boa Esperança
7 de 10 / Alicante Bouschet 2015, €14,90, Quinta da Boa Esperança
Syrah 2015, €14,90, Quinta da Boa Esperança
8 de 10 / Syrah 2015, €14,90, Quinta da Boa Esperança
Sauvignon Blanc 2015, €11,20, Quinta da Boa Esperança
9 de 10 / Sauvignon Blanc 2015, €11,20, Quinta da Boa Esperança
Reserva Branco 2015, €17, Quinta da Boa Esperança
10 de 10 / Reserva Branco 2015, €17, Quinta da Boa Esperança
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