Diana Silva, a produtora vinícola que usa a casta mais mal-amada da Madeira

Num mundo ainda masculinizado, Diana tem dado cartas como a mais jovem produtora de vinhos da Madeira. A sua trilogia de novos vinhos é a prova disso mesmo.

17 de julho de 2019 às 17:59 Rita Silva Avelar

Tem 34 anos, é a mais jovem produtora da Madeira, fala com um entusiasmo contagiante do seu trabalho e não se preocupa em ferir "susceptibilidades" - que é como quem diz quebrar os preconceitos estabelecidos no negócio vinícola. Falamos de Diana Silva, natural do Funchal, uma jovem produtora de vinhos que até há pouco tempo só usava a casta tinta negra (a mais plantada na Madeira e, há quem diga, prima da famosa pinot noir) - agora também usa o verdelho. Apesar de lhe terem dito várias vezes que seria um erro e um capricho fazer vinho privilegiando esta casta, Diana foi em frente. É que esta casta era (arriscamo-nos a dizer que continua a ser) a mais desdenhada do arquipélago. Assim nasceu o Ilha, um vinho DOP da Madeira.

"Isto é A Guerra dos Tronos em vinho, eu estou a conquistar terras [tem ativação de marca de Norte a sul do país]. Tem sido uma constante luta, mas acaba por ser desafiante porque temos conseguido fazer um bom trabalho. Quanto mais falam mais me dá força para continuar", começa por explicar Diana, em jeito de graça, antes de contar o seu percurso. "Estou na área do vinho há 15 anos, quase 16, trabalhei em restauração, gestão comercial, vendas e marketing. Venho de comunicação e turismo no Estoril, depois fiz uma pós-graduação em marketing de vinhos, a seguir fiz outra em gestão e direção comercial, e por fim enologia" conta.

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Este é o segundo ano de produção dos vinhos Ilha, a marca fundada por esta produtora, cujas uvas provêm maioritariamente da zona de São Vicente. "Compramos uva e crescemos bastante, no ano passado fizemos onze mil garrafas e este ano dezassete mil. "A parte mais crítica deste negócio é de agosto para a frente por causa da vindima mas não só – temos de reeducar o viticultor que está habituado a vender esta uva para vinho Madeira, logo não tem tanto foco na maturação, pelo que temos muito trabalho pela frente" conta Diana, sobre um dos maiores desafios deste negócio. 

O desafio mais difícil? "Sempre as uvas, penetrar na Madeira e conseguir arranjar uvas, convencer os viticultores a venderem-me a mim." Houve um momento em que eu não tinha uvas, foi a Justino's [um dos maiores produtores de vinho da região] que me salvou. No ano passado vendemos toda a nossa produção" conta, com alguma emoção.

Sobre esta casta, Diana ri-se ao falar das críticas e obstáculos que lhe puseram quando anunciou que iria privilegiar o uso desta casta nos seus vinhos. "Esta casta é mal-amada, toda a gente a odeia, é a bastarda. Até há dois anos atrás ninguém a tinha no rótulo, eu adoro a casta, é a Molar de Colares, e para mim é um clone de pinot noir (há quem diga que não) porque tem 9.5 moléculas de ADN do pinot noir, tem a cor e identifica-se como tal."

Contrariando a tendência, Diana apresenta o nome desta casta bem visível, a vermelho, nos rótulos das garrafas da trilogia deste ano. Além do Ilha Tinta Negra Rosé, do Ilha Branco – "o primeiro Blanc de Noirs" da Ilha da Madeira" -, e do Ilha Tinta Negra Tinto, com apenas 12% (qualquer um a €19,90) este ano a produtora apresenta novidades especiais. Uma delas é o Ilha Verdelho (€23,90), um verdelho com alto teor de acidez, mas menor maturação alcoólica, por ser proveniente de uma vinha de altitude, em São Vicente. Outra é o Ilha E 2017 (‘E’de experiência, €20,99) que originou 1.064 garrafas e  que é o resultado da crença da produtora nesta casta.

Este é, sem dúvida, um convite inusitado a descobrir a ilha da Madeira, feito por quem acreditou no seu terroir e o fez, acima de tudo, com paixão.  

Os vinhos Ilha encontram-se em algumas garrafeiras, tais como a Garrafeira Nacional e a Garrafeira Imperial, Garrafeira Napoleão e no Clube Gourmet do El Corte Inglés, ou em restaurantes como o Feitoria. 

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