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A Máxima foi até aos arredores de Veneza perceber o que torna os sapatos Louis Vuitton tão especiais.
11 de novembro de 2016 às 18:11 Máxima
Quando pensamos em Louis Vuitton pensamos inevitavelmente em carteiras e malas de viagem com o monograma LV. Mas o universo da marca é bem mais extenso. E não se resume ao savoir-faire francês. Foi o que descobrimos em Fiesso d’Artico, nos arredores de Veneza, onde a Maison sediou a produção de todos os seus sapatos. É uma das facetas menos conhecidas da marca e uma das mais recentes (a produção de sapatos Louis Vuitton começou em 1998, com Marc Jacobs) mas nem por isso menos interessante. Na verdade, numa época em que a excessiva exposição dos logótipos se tornou menos apetecível, o enfoque em peças que dão menor protagonismo à etiqueta parece definitivamente o melhor caminho para agradar aos exigentes consumidores da geração millennial.
Quem já visitou a Fundação Louis Vuitton, em Paris, inaugurada em 2014, não lhe fica indiferente. Além de ser por si só uma obra arquitetónica excecional, da autoria de Frank Gehry, oferece uma experiência imersiva ao universo da arte contemporânea que cativa até o mais cético dos visitantes.
O projeto merece agora um novo olhar através da exposição Construir em Paris patente no
Espace Louis Vuitton, em Veneza, que apresenta uma seleção de modelos em escala criados durante o projeto da Fundação. A não perder até 26 de novembro.
Mais do que sapatos
Foto:
De Paris para Veneza
A fama dos sapatos italianos vem de longe. E não estamos a falar dos chopines, os sapatos plataforma que se tornaram muito populares entre as mulheres venezianas entre os séculos XV e XVII. Muito antes disso, já no século XIII, o êxodo de verão das famílias aristocráticas de Veneza (que encomendavam sapatos novos durante as férias) atraiu os melhores artesãos para Fiesso d'Artico, a cerca de trinta quilómetros da cidade dos canais, conferindo-lhe, desde então, a reputação de capital do calçado.
Assim, quando, em 1998, a casa Louis Vuitton decidiu centralizar o desenvolvimento e produção de sapatos, Fiesso d’Artico afigurou-se a escolha óbvia. À maestria dos artesãos locais, transmitida de geração em geração, veio juntar-se a qualidade irrepreensível das matérias-primas e a filosofia de manufatura de luxo da casa francesa, que soube associar o "feito à mão" à melhor tecnologia (sim, porque alguns processos requerem mais do que a intervenção humana, mas isso explicaremos mais à frente).
O complexo da manufatura tal como existe hoje abriu em 2009, após três anos de pesquisa e de construção. Ao todo são 14 mil metros quadrados distribuídos essencialmente por quatro ateliês especializados em diferentes modelos de sapatos, laboratório de testes, armazém (com o curioso nome "neverfull"), centro de formação (onde os diretores de loja vêm aprender a arte de vender sapatos excecionais não só em preço mas em qualidade) e galeria/museu. E, como não podia deixar de ser numa marca em que a arte contemporânea ocupa sempre um lugar especial, nos espaços exteriores sobressaem instalações artísticas como o famoso sapato Priscilla (feito com panelas) de Joana Vasconcelos.
Como nasce um sapato
Quando os desenhos da nova coleção chegam de Paris há toda uma engrenagem que se inicia em Fiesso d’Artico. Tudo começa no laboratório de testes. É aqui que se inicia também a nossa visita. E é aqui que começamos a ter uma ideia mais clara da complexidade de todo o trabalho desenvolvido nestes ateliês. Percebemos que aqui vai-se muito além de fabricar "simples" sapatos. O objetivo é produzir sapatos excecionais. Não basta satisfazer os critérios standard de qualidade, nada abaixo da perfeição é admissível. Por isso, antes de entrarem em produção, todos os modelos são testados além dos limites exigíveis, desde os diferentes materiais ao produto final e sob as mais diferentes condições climatéricas (afinal, os sapatos Louis Vuitton são vendidos em todo o mundo). Por exemplo, para assegurar que a coloração final da pele não sofre alterações, este material é submetido a um teste que simula o efeito da fricção das calças no sapato e exposto a uma solução alcalina que simula o suor (a sério!). A resistência da sola é colocada à prova com testes que simulam o movimento de caminhar (no caso dos ténis, têm de percorrer 100 km). Vimos inclusive um sapato de salto alto a ser levado ao limite em testes de impacto (com cerca de 40 mil batidas) e de pressão (suportando uma pressão equivalente a 90 kg – os testes standard ficam-se pelos 50 kg, ficámos a saber), tudo para garantir que os sapatos Louis Vuitton são mais do que uns sapatos "normais".
Mas o controlo de qualidade não se fica por aqui. Uma vez garantidas todas as especificidades técnicas em laboratório, os protótipos são testados na vida real e há alguém que tem a ‘difícil’ tarefa de calçar sapatos Louis Vuitton e reportar o seu comportamento face aos múltiplos desafios da vida quotidiana.
Só depois dos protótipos aprovados tem início o processo de produção propriamente dito. O primeiro passoé a construção de um molde para cada modelo. Esculpido à mão em madeira até atingir a forma perfeita, é depois reproduzido em plástico para os diferentes números a produzir (no final da coleção os moldes são enviados para reciclagem, de forma a reduzir o desperdício). É, depois, a partir destes moldes que se segue a produção em cada um dos quatro ateliês especializados em diferentes tipos de sapatos: Alma (sapatos elegantes para mulher), Nomade (mocassins), Speedy (ténis) e Taiga (sapatos clássicos para homem).
Mão VS. Máquina
No total, cada sapato percorre 200 passos distintos, desde o esboço inicial até chegar à loja, entre as mãos hábeis dos artesãos e alguns processos mecanizados. No ateliê Alma, por exemplo, alguns cortes da pele são feitos por computador, mas este trabalho é parametrizado peça a peça por mão humana. Depois, todo o restante processo é feito manualmente, desde o esticar da pele sobre o molde até à aplicação do salto (fica-nos a imagem da destreza com que os artesãos retiram os pregos que seguram na boca e os vão martelando nos sítios exatos). No ateliê Speedy, há novamente intervenção tecnológica, com a introdução de um microchip em cada par de ténis para identificar qual a tela a aplicar. Já no ateliê Nomade, onde são feitos os mocassins, todo o processo é manual, incluindo as costuras, com recurso apenas a duas peças de pele (a equipa garante que é possível identificar o "autor" de cada sapato simplesmente pela maneira como foi cosido). Mas foi o ateliê Taiga, onde são feitos os sapatos clássicos para homem, que mais nos impressionou. Aqui as solas são cosidas à mão, utilizando uma técnica que poucos artesãos dominam, e o acabamento final da pele requer a dedicação de um artesão durante várias horas, munido apenas com cera, água, uma escova e um pano. Na verdade, todos os sapatos que saem das oficinas Fiesso d'Artico são excecionais, mas estes podem ainda subir um nível graças ao serviço de encomendas especiais, que permite personalizar totalmente os sapatos.
E é graças a este cuidado exímio na manufatura de cada modelo – onde homem e máquina andam de mãos dadas na busca conjunta pela perfeição – que a Louis Vuitton se orgulha de produzir sapatos que garante valerem cada um dos muitos euros que custam.