As coleções de Amorphous, Beatriz Bettencourt, David Catalan, Fii, Inês Maia, KDI, Patricia Shim e Sara Marques.
20 de março de 2016 às 23:27 Máxima
AMORPHOUS
Neste presente manifesto, intitulado Cesura, é evocada a clarividência do aspeto primário e máximo à condição vital humana, a liberdade de escolha, a libertação dos estigmas sociais e morais instaurados que forçam vidas a subsistirem em condições desumanas sob pena de exclusão e punição de várias ordens.
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Ao longo da História, as mulheres lutaram por igualdade de direitos, por dignidade e assim conquistaram a plenitude de viverem e encararem o mundo como os seus semelhantes. Ainda hoje, rituais, crenças e valores de algumas culturas resistem a esta luta constante; resistem aos circunstancialismos de tempo e de espaço e renegam a mudança.
Este manifesto pretende ser um retrato de uma realidade encoberta ou desconhecida que vive entre barreiras psicológicas, culturais e impenetravelmente silenciosas. M001 Cesura visa ser um aforismo que através de imagens, palavras e sensações descortinam a problemática abordada: mutilação genital feminina. Vozes por todo o mundo procuram divulgar esta prática milenar, apelando à destruição desta tradição que inferioriza a mulher e a marca irreversivelmente para o resto da vida.
BEATRIZ BETTENCOURT
Beatriz Bettencourt apresenta uma coleção citadina para a estação outono/inverno 2017, sendo esta inspirada no desenvolvimento progressivo das formas orgânicas. Morphogenesis simboliza uma nova perspetiva influenciada pela constante evolução das estruturas fundamentais que nos compõem. Perspetiva essa que revela o dinamismo, a prosperidade e a transformação permanente das cadeias moleculares, que originam as nossas células, que por sua vez criam as fibras que nos sustentam.
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Para tal, toda a coleção revela a forte influência destas visões microscópicas, retratando-as sob a forma de estampados all over, pontos de tricot aproximados e motivos de relevo trabalhados segundo uma componente gráfica. Tratando-se de uma ambiência orgânica e até mesmo sinuosa, a própria silhueta oversized, em "O", enfatiza esse princípio. Esta é trabalhada em materiais alternativos como feltros, compactos como malhas neoprene e materiais técnicos de aspeto plastificado. Onde a cor aparece de forma contrastante: o preto e o cinza com igual densidade, nuances de branco, toques de verde-lima em pormenores e interiores, bem como alguns apontamentos de vermelho.
Tendo como foco a mulher ativa, consciente e prática, Morphogenesis procura transmitir uma mensagem positiva, baseada no autoconhecimento, na essência e no fundamentalismo do ser humano.
DAVID CATALAN
Partindo do conceito de cultura urbana, David Catalan apresenta-nos, nesta estação, uma reinterpretação de duas culturas urbanas. Pegando no movimento Suedhead, reminiscente do início do movimento Skinhead londrino, cria uma coleção atual, moderna, urbana, estabelecendo paralelismos com um movimento urbano que surgia em Londres nos anos 70, mas que contém o ar atual que sempre caracteriza as suas coleções.
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As silhuetas caracterizam também estas duas culturas, contrapondo cortes rígidos, quase de alfaiataria, com cortes fluídos e oversized, com um estilo baggy. Estas silhuetas surgem de uma forma indiferente ao género de quem a veste, numa reflexão sobre a semelhança entre a indumentária masculina e feminina neste período, no qual o designer faz uma justaposição sobre o que vivenciamos hoje.
Através da paleta de cores, somos rapidamente levados por uma viagem pelo imaginário da cultura musical londrina nesta década, sendo a palete de cores proposta alusiva a uma das mais marcantes bandas da época, os The Who.
FII
Kunoichi é uma coleção que aborda o anonimato característico dos ninjas. A principal preocupação é fazer com que a atitude e a personalidade de quem veste as peças transpareça, sem que a sua identidade seja revelada. Numa era em que a internet deixa pouca margem para sermos anónimos, esta coleção procura resgatar a lenda urbana dos ninjas para restaurar o mistério, o poder e a independência, agora tão associados a uma cara e a um nome.
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Nesse sentido, as caras tapadas e a expressão do olhar contribuem para que o espectador se concentre mais na forma como as modelos se movimentam e na sua postura e atitude com as roupas, do que em quem são.
Peças práticas, funcionais e confortáveis, sem perderem o lado cool e irreverente, marcam o ritmo desta coleção de streetwear em tons de preto, vermelho, cinzento e branco. Por sua vez, os cortes e a construção partem duma mistura do vestuário tradicional e contemporâneo dos ninjas e resultam em detalhes como bolsos em forma de lágrima com debruns, cintos pespontados, trespasses e ombreiras.
De aparência minimal e com um toque de workwear, esta coleção de outono/inverno foi pensada para que todas as peças possam ser conjugadas entre si, resultando num guarda-roupa com múltiplas combinações a partir de apenas oito peças.
INÊS MAIA
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Scadenfeuer é uma proposta de vestuário para mulher.
Com uma estética associada à música, Schadenfeuer ou fogo hostil, nasce de Mein Herz Brennt, banda sonora desta coleção e motivo da presença da língua alemã. Sobreposições, frentes duplas, termocolagem. Cada tecido, uma textura. Dois tecidos que formam um. Cada cor em complemento.
Conta a história de uma viagem contínua, no presente. É um percurso que se expande além das suas fronteiras, um fogo hostil que não pode ser controlado ou dominado. A combustão espontânea sem limite que começa de dentro para fora e não regressa. Uma viagem onde o fim não se conhece, onde só o caminho é o objetivo.
A origem vem da cor: neutros, crus. Brancos, pretos, cinzas, beje.
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Dos materiais, a viagem: texturas, opacidades, peso.
Das peças: o nómada.
KDI
No início do século XX, na Rue du Chatêau, em Paris, os artistas Yves Tanguy, Marcel Duchamp e Jacques Prévet inauguraram o método Cadavre Exquis. Esta técnica ganhou grande prestígio entre pintores e escritores surrealistas que se reuniam e completavam uma obra com o seu registo, traço individual num trabalho em conjunto, sem terem conhecimento do registo anterior.
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A coleção 2+1_UNLIKE outono-inverno 16/17 utiliza os mesmos princípios do Cadavre Exquis e usa-o como fonte de inspiração. Partindo do forte grafismo e do lado sensorial do traço do Cadavre Exquis, a coleção explora o sentido de escala, de volumetria, tridimensionalidade dando ênfase a cada uma das peças e formando uma linguagem própria num todo. O estampado gráfico de figuras contornadas assume diferentes escalas e registos por vezes visível, outras subentendidas. Os volumes afiguram-se geométricos explorando várias formas e repetições. Os tecidos fluídos suavizam a volumetria conferindo elegância e equilíbrio à coleção.
A coleção expressa-se streetwear, numa silhueta com sobreposição de peças. O preto e branco apresentam-se como condutores e o azulão realça a coleção com apontamentos de cor. Os materiais que constituem a coleção são: bamboo, lã merino, malha, pele, neoprene.
PATRICIA SHIM
Deparei-me, no ano passado, com a forte possibilidade de perder a visão e embora tenha sofrido danos ligeiros irreversíveis, estes não foram significativos para interferir sobejamente com a minha capacidade visual. Foi no confronto emocional com essa hipótese que procurei o motif para esta coleção: a cegueira ou o processo gradual de perder a visão.
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Para além da cor e dos tecidos escolhidos na paleta dos materiais entendi que era pertinente a introdução de ultimações têxteis que ajudassem simbolicamente a narrativa da coleção e contassem a sua dita história. A paleta de cores varia entre o tom exterior azul, que representa a "íris", e o toranja, que representa o "nervo" ótico. A minha primeira proposta são os favos. A sua semelhança ocular, ainda que vertical, ajuda à introdução temática. O ponto-cruz será responsável pela perda da definição visual, e a sua "pixelização" em quadrados distintos de cor será assim uma das técnicas incluídas na representação do processo de ablepsia. Por fim, a representação do Braille através de missangas.
SARA MARQUES
Para o Inverno 2016/2017 Sara Marques apresenta uma coleção sofi¬sticada, com forte inspiração no ténis e na época dos anos 20, tendo como protagonista a tenista Suzanne Lendgen. Suzanne Lendgen causara grande excitação nesta época, devido aos seus movimentos e saltos acrobáticos. Os seus movimentos surgem como uma fada e a protagonista movia-se como uma bailarina na ponta dos pés. Lenglen já tinha adotado os trajes convencionais do ténis, compostos por saias compridas (muitas delas plissadas), peças largas e soltas.
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Lenglen era muito livre diferenciando-se das outras mulheres. Dentro de campo era considerada uma leoa pois tinha uma atitude agressiva, mas livre ao mesmo tempo. Foram fatores importantes para o desenvolvimento da coleção, assim como a silhueta reta e alongada. As matérias-primas interligam-se com a personalidade so¬fisticada e elegante, fator evidente nas transparências, malhas delicadas, plissados assim como nos detalhes e acessórios.
As cores tiveram influência no trabalho do artista plástico checo Juraj Kralik. O artista convidou uma tenista a criar pinturas abstratas com o bater de bola de ténis cobertas de tinta sobre e contra uma tela gigante com textura, revestida de grama. Uma técnica que o artista designa de "tennising". Os tons cinza, tom creme, bordeaux e os verdes (detalhes) são predominantes na coleção. Os estampados surgiram baseados no mundo do ténis (raquete, demarcações do campo), a silhueta é reta e as linhas suaves e marcadas por transparências. Deste modo a coleção transpira feminilidade, detalhes, movimento, elegância e so¬fisticação.