Sonha com um ateliê caótico, mãos e cara sujas de tinta, padrões caleidoscópicos e novas texturas criadas a partir de fragmentos de tecidos. Constança Entrudo acaba de sair da faculdade, mas já é capaz de trazer mudança e novidade à moda portuguesa.
Constança Entrudo
12 de outubro de 2017 às 18:20 Carlota Morais Pires
Sábado à tarde e dezenas de pessoas com o telemóvel na mão ocupavam o pátio exterior do Pavilhão Carlos Lopes, onde aconteceu a 49.ª edição da ModaLisboa. No centro, meia dúzia de modelos empoleiravam-se em pilares de gesso branco, como um arco-íris. Nas escadas, Constança Entrudo, a designer que assinava a coleção, tentava resolver o problema de som que a obrigou a avançar para uma apresentação muda. "Falta a música!", dizia preocupada. Tudo estava pensado ao pormenor – os cabelos, a maquilhagem, ostyling e o casting. Tudo encaixava no conceito de desconstrução das peças e a playlist, que também fazia parte disso mesmo, foi criada numa colaboração especial, que nunca chegou a ser concretizada. Mas ninguém parecia reparar na ausência de som, de olhos colados nas peças construídas com mil fios e mil cores, surpreendentemente feitas com as mãos e a criatividade de uma designer que acaba de sair da faculdade.
"Sempre me interessei pela vertente mais artística da moda, mas ao início não sabia qual seria a melhor forma de me exprimir, porque gostava de styling mas não era exatamente aquilo que queria fazer", conta Constança Entrudo em entrevista à Máxima. "Acabei por estudar economia e aos 17 anos candidatei-me à Central Saint Martins [uma das melhores faculdades de moda do mundo, na capital britânica], onde não entrei. Tinha os meus desenhos, pinturas e muitas colagens, mas disseram-me que o meu portfólio não era suficiente e que ainda não estava preparada."
Ficou em Londres e, apesar de tentarem convencê-la a candidatar-se a outras faculdades, trabalhou durante um ano em lojas e restaurantes enquanto fazia cursos de design e procurava aperfeiçoar o portfólio. "Foi um ano muito difícil, Londres é uma cidade dura. Acabei por conhecer muitas pessoas e consegui estagiar com a Marta Marques e o Paulo Almeida, da Marques’Almeida", continua. "No final desse ano consegui entrar para o Foundation, o ano zero da Central Saint Martins."
A oportunidade de experimentação do Foundation foi fundamental para perceber o caminho que queria seguir. "Nesta fase podemos tentar tudo e explorar áreas muito diferentes", resume. "Mas, mais do que uma designer ou artista, sinto que sou quase uma artesã. O que mais me interessa é trabalhar os materiais e perceber como é que vão reagir no corpo."
Começou o curso de design têxtil e continuou a trabalhar para a Marques’Almeida, não só na concretização das peças mas também em outras áreas fundamentais à existência e evolução de uma marca, o que lhe permitiu ter uma visão de 360 graus da indústria e saber o que é necessário para fazer o seu próprio caminho. "Os Marques’Almeida ensinaram-me muito. Foi o sítio que mais marcou o meu percurso, mesmo esteticamente. Claro que acabei por definir o meu estilo, mas sempre com influências da Marta e do Paulo."
Depois, estagiou na Peter Pilotto, a marca inglesa conhecida pelos padrões fora da caixa, interessava-lhe a oportunidade de criar têxteis de raiz. "Fui aceite para um estágio e depois acabei por ficar como designer têxtil. Agora continuo a trabalhar com a marca como freelancer."
Esta coleção que acaba de apresentar na ModaLisboa mostra influências das duas marcas, da desconstrução de Marques’Almeida à geometria caleidoscópica de Peter Pilotto. Mas há uma abordagem completamente nova e ainda mais interessante, uma reinterpretação de todas estas referências com um sopro de modernidade. "Foi quando lancei a minha última coleção de final de curso, que gosto de dizer que foi a primeira, que comecei a perceber realmente que peças queria criar e a direção que queria seguir. Foi aqui que comecei a perceber qual era a minha abordagem", acrescenta a designer.
Tinha dez peças expostas no Wonder Room da ModaLisboa e conseguiu vinte encomendas. Mesmo sem ter espaço na sala de desfiles ou no calendário oficial, conseguiu apresentar uma das coleções mais estimulantes. Vimos uma imagem nova, à medida da sua imaginação. "No final de cada projeto, o meu estúdio ficava um caos, com restos de tinta e materiais, até porque a minha fase experimental dura muito tempo. Tive a ideia de condensar todos os restos de materiais e criar uma peça nova numa prensa térmica", explica Constança. "Contactei fábricas no Norte de Portugal e pedi que me enviassem os restos de tecidos e linhas, que depois tingi ou modifiquei de alguma forma." Trabalha fibras sintéticas porque são mais fáceis de manipular, mas preocupa-a que não sejam as mais sustentáveis. Mesmo assim, o seu trabalho tem como ponto de partida o conceito de reciclagem e a criação de novas texturas através do calor. "Agora estou à procura de novos materiais para explorar, sempre trabalhando esta ideia de concretizar as peças através do calor. Tento não costurar ou recorrer à tecelagem nos meus tecidos", garante.
Tem ideias novas, sede de mundo e uma visão muito concreta do que quer agarrar no futuro. Mas nem por isso tem vontade de trabalhar sozinha. "Imagino-me numa vida de colaborações. Interessa-me trabalhar com outros designers ou, por exemplo, lançar uma coleção de botões com um artista." Para já, acaba de lançar uma coleção de sapatos numa parceria com a Émme, marca assinada pela também portuguesa Maria Mota.
Diz que admira Faustine Stneinmeitz e tem como referência maior o japonês Issey Miyake, que gosta de pensar que daqui a alguns anos vai estar perdida no caos do seu estúdio, entre máquinas, com as mãos e a cara sujas de tinta. "Não é o lado glamoroso da moda que me atrai, nem as festas e as celebridades. Gosto de pensar que sou uma maker, que estou no meu espaço a criar as minhas coisas."
Agora, é tempo de trabalhar na sua marca e de continuar a aprender e a absorver todos os estímulos à sua volta, por isso anda à procura de apoios e de investidores. "Vou perceber qual é o melhor sítio para começar e evoluir." Enquanto conseguir trabalhar numa escala mais pequena, diz que quer manter a exclusividade das suas peças, até porque o que mais tem são ideias. "Quero sempre alterar todas as peças, para não existirem peças iguais. Acho que as pessoas valorizam o meu trabalho por ser diferente e eu quero dar-lhes essa diferença."
Miguel Marques da Costa tem 24 anos e acaba de lançar a C.R.T.D (lê-se Curated), uma marca aberta à criatividade, que quer abraçar novas ideias e colaborações, como uma galeria de moda que se transforma a cada estímulo. Em entrevista à Máxima conta como é dar o primeiro passo de um projeto do futuro.
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