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Moda / Tendências

ModaLisboa: o primeiro dia

Como é que a indústria de moda e as maiores forças criativas portuguesas antecipam a primavera de 2018? Dos talentos em ascensão aos já consolidados Ricardo Preto, Valentim Quaresma e Lidija Kolovrat, estas são as primeiras pistas para a próxima estação.

07 de outubro de 2017 às 14:53 Carlota Morais Pires

Durante anos a ModaLisboa ocupou o Pátio da Galé, em Lisboa, um espaço que acabou por se tornar demasiado claustrofóbico para as suas intenções de crescer e abraçar o trabalho de novos criadores. Agora, e para esta edição, a que chamou de Luz, a organização trocou as salas do Terreiro do Paço pelo monumental e recém-estreado Pavilhão Carlos Lopes, no Parque Eduardo VII. 

Rodeado de árvores e com uma surpreendente organização dentro da sua imponente dimensão (e sem os problemas de ligação à Internet que aconteceram na última edição, no Centro Cultural de Belém), este parece ser o lugar certo para conseguir concretizar tudo o que a ModaLisboa ambiciona.

No primeiro dia, o maior destaque foi para os novos criadores em ascensão que apresentam na plataforma Sangue Novo. David Pereira, vencedor do prémio ModaLisboa, apresentou uma coleção andrógina e monocromática, com silhuetas descontraídas em tons pastel. Um outro ponto de vista interessante foi o de Rita Afonso, que criou uma coleção conceptual inspirada numa carta de tarot e nos fala de Walter Benjamin e da importância da contemplação, principalmente numa era em que o excesso de estímulos nos obriga a viver à velocidade da luz, sem tempo para parar um segundo para compreender e digerir a informação e as imagens à nossa volta.

Também conceptual foi a coleção de Kolovrat, que fez subir à passerelle homens e mulheres de todas as idades, numa coleção que quis falar de diversidade em todas as suas vertentes. A coleção tinha coesão e uma perspetiva forte: vimos vestidos e casacos masculinos, mais compridos atrás do que à frente e por vezes sem costas o que, em peças criadas para homens, não deixa de ser um risco interessante. Para explicar as suas influências e inspirações, a designer bósnia (que tem o seu atelier há vários anos no Príncipe Real, em Lisboa) fala de um ritual, conta que quis invocar "práticas antigas, de modo a inquietar o moderno e o racional, abrangendo vulnerabilidade, encanto e mudança de formas". A desconstrução da forma e reinterpretação das silhuetas foi levada ao limite, em interessantes sobreposições de materiais, cores e texturas. A apresentação de Lidija Kolovrat também foi uma apetecível antecipação da primavera: os manequins usaram sapatos em ráfia e flores estampadas nas caras e nos vestidos. Vestiram camisas brancas XXL em algodão e saias em tule com aplicações, ganga dos pés à cabeça, transparências, riscas e padrões geométricos.

Sem sair do seu universo estético, que imaginamos como um mundo fantasioso com guerreiros de armadura ou um filme de sci-fi com personagens alienígenas, Valentim Quaresma deixou-nos espreitar uma coleção a que chamou carnal. Peças quase artísticas, em filigrana indústrial, fotografia, pedras, pexiglass e latão, são símbolo de criatividade e experimentação - são fora da caixa mas mostram coesão com a identidade da marca e do criador que a assina.

Este primeiro dia de desfiles encerrou com a apresentação de Ricardo Preto, uma coleção ultrafeminina a que o criador português chamou de Whole Lotta Love, referência à música dos Led Zeppelin que começou a tocar assim que a modelo que vestia o primeiro coordenado, em branco total, pisou a passerelle. A partir daqui, não conseguimos descolar os olhos do exército de modelos vestidas por Ricardo Preto - vimos sapatos (ou gremlins?) em pelo, Mary Janes em pele amarela, saias em tule com aplicações, flores (coladas nos vestidos e impressas nos padrões), denim, materiais fluídos e vestidos sobrepostos a t-shirts. O sportswear e os anos 90 também influenciaram a coleção, na escolha de materiais, no corte das silhuetas e na descontração desportiva que até moldou os fatos masculinos, agora com riscas nas calças, a fazer lembrar um fato de treino. Depois, a peça mais especial da coleção fez as primeiras filas vibrar e acenar com a cabeça em jeito de aprovação - falamos de um macacão em crepe de seda, encarnado com folhos e a cintura descida, mas também podíamos parar para falar do nightwear, das rendas, dos coordenados monocromáticos de corte impecável.

A coleção é especial do início ao fim - é inspirada nas tendências de agora, mas reinterpretadas com modernidade, segundo o ponto de vista de um criador com um visão de mundo e um sentido de estilo apurado. É o guarda-roupa de verão que qualquer mulher queria vestir sem hesitar. 

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