Jonathan Anderson assume o controlo criativo total da Dior

O designer norte-irlandês prepara-se para inaugurar um novo capítulo na carreira, ao assumir a direção criativa da Dior, em todas as frentes. A chegada à maison francesa marca uma aposta estratégica da LVMH num nome que tem provado saber transformar tradição em vanguarda.

Foto: Getty Images
02 de junho de 2025 às 10:37 Safiya Ayoob

Durante anos, Jonathan Anderson foi mais do que o diretor criativo da Loewe - foi o seu motor de reinvenção. Agora, depois de 11 anos à frente da casa espanhola, o designer norte-irlandês tem um novo destino confirmado: a Dior. A notícia, há muito sussurrada nos bastidores da indústria da Moda, foi finalmente oficializada, ainda que com a discrição quase enigmática que parece caracterizar o momento atual do grupo LVMH.

Foi durante a assembleia anual de acionistas do grupo francês que Bernard Arnault, presidente e diretor executivo da LVMH, deixou escapar aquilo que muitos já intuíam: Anderson vai liderar a linha masculina da Dior. A confirmação oficial chegou mais tarde num comunicado sucinto, sem citações nem floreados, afirmando apenas que o designer assumiria o cargo de diretor artístico da Dior Men, com estreia marcada para o desfile de 27 de junho, durante a Semana da Moda de Paris.

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Essa data mantém-se, mas o alcance da sua nomeação revelou-se ainda mais ambicioso do que se supunha inicialmente. Esta manhã, a Dior anunciou oficialmente que Jonathan Anderson assumirá a direção criativa de todas as coleções da casa: femininas, masculinas e de alta-costura. Pela primeira vez desde Monsieur Dior, um único criador será responsável por toda a expressão artística da maison - um gesto que reforça a confiança da marca numa visão coesa e verdadeiramente transversal.

Delphine Arnault, Presidente e Diretora Executiva da Christian Dior Couture, foi clara no seu entusiasmo: “É com grande prazer que dou as boas-vindas a Jonathan Anderson para liderar as criações femininas e masculinas da casa. Tenho seguido a sua carreira com grande interesse desde que entrou para o grupo LVMH há mais de dez anos. Estou convencida de que ele trará uma visão criativa e moderna à nossa Maison, inspirada na fabulosa história de Monsieur Dior e nos códigos que ele criou. Será apoiado pelas nossas equipas e pelos nossos incríveis Ateliers, que darão vida à sua criatividade.”

É uma mudança significativa, mas também simbólica, que acontece num momento delicado para o gigante do luxo. A LVMH enfrenta uma desaceleração no mercado, com uma quebra de 3% nas vendas anuais e um desempenho abaixo da média da própria Dior, segundo a diretora financeira Cécile Cabanis. Esta nova nomeação parece, portanto, mais do que apenas uma troca de cadeiras criativas – é uma tentativa clara de reanimar a marca com uma dose renovada de audácia e inovação.

Jonathan Anderson traz consigo um histórico de transformação. Na Loewe, não só revitalizou uma marca de marroquinaria de prestígio, mas fê-la vibrar com a energia da cultura contemporânea. Misturou o artesanal com o conceptual, e os resultados foram palpáveis: o negócio multiplicou-se em dimensão, com receitas estimadas próximas dos 2 mil milhões de euros. A visão estética – em que o intelecto se cruza com a emoção, e o luxo dialoga com a arte – foi amplamente elogiada tanto pela crítica como pelo público. Agora, com a missão de reinventar toda a Dior, há uma expectativa clara de que traga essa mesma alquimia ao universo parisiense.

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A sucessão de Anderson a Kim Jones, que deixou o cargo em janeiro após sete anos de trabalho prolífico, também encerra um ciclo e inicia outro. A era Jones foi marcada por colaborações de alto perfil e pela introdução de uma energia pop e urbana na casa Dior. Anderson, por seu lado, é conhecido por um estilo mais introspectivo, mais ligado ao design puro e ao discurso visual. A expectativa, portanto, não é apenas de continuidade, mas de reinvenção.

Bernard Arnault não poupou elogios, no comunicado, afirmando:  “Jonathan Anderson é um dos maiores talentos criativos da sua geração. A sua assinatura artística incomparável será um trunfo crucial para escrever o próximo capítulo da história da Maison Dior.”

O próprio Anderson reagiu, concluindo dizendo “É uma grande honra juntar-me à Maison de Dior como Diretor Criativo das coleções femininas e masculinas." O designer norte-irlandês continuou, "sempre me senti inspirado pela longa história desta casa, pela sua profundidade e empatia. Estou ansioso por trabalhar com os seus lendários Ateliers para criar o próximo capítulo desta incrível história. Gostaria de expressar os meus sinceros agradecimentos a Delphine Arnault e Bernard Arnault pela confiança e lealdade ao longo dos anos.”

O primeiro desfile – Dior Men Summer 2026 – mantém-se agendado para 27 de junho, em Paris. Mas agora, com o fôlego completo da maison nas suas mãos, o impacto dessa estreia ganha proporções muito maiores.

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O próprio Arnault parece estar a apostar numa nova geração de talentos para relançar o portefólio do grupo. Além de Anderson, mencionou recentemente a chegada de Sarah Burton à Givenchy, Michael Rider à Celine, e a dupla Lazaro Hernandez e Jack McCullough à Loewe – estes últimos numa espécie de regresso às origens após anos na Proenza Schouler. Esta movimentação revela uma estratégia clara: em tempos de menor crescimento, é a criatividade que pode reanimar o desejo.

Assim, com olhos postos em Paris e no que Jonathan Anderson tem preparado para o verão de 2026, a pergunta que se impõe não é apenas “para onde vai Jonathan Anderson?”, mas sim: “para onde nos levará ele agora?”. Porque se há algo que a sua carreira já provou, é que nunca se limita a desenhar roupa – constrói visões. E a Dior pode muito bem estar prestes a entrar numa das suas fases mais intrigantes

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