Grace Wales Bonner. A nova era da masculinidade na Hermès
A britânica será a primeira mulher negra a liderar o design numa grande casa de moda tradicional.
Há tecidos que contam histórias, linhas que guardam memórias. O tartan, com o seu entrelaçado de cores e geometrias, é um desses raros casos em que o tecido é também uma linguagem. Não é apenas uma questão de moda - é identidade, herança, pertença. Cada padrão é um nome, cada cor uma memória. E poucas marcas souberam interpretar esse legado com tanta subtileza e autenticidade como a Barbour.
O tartan nasceu nas Highlands (Terras Altas, são uma região montanhosa do norte da Escócia), em tempos em que o vestuário era mais do que função: era símbolo de clã, território e linhagem. Cada família escocesa – cada clã- tinha o seu padrão, o arranjo próprio de cores e riscas. Eram tecidos feitos com recurso a tear manual, com lã grossa e resistente, pensados para o frio e a humidade. Mas eram também bandeiras discretas, identidades portáveis, quase códigos secretos.
Ao longo dos séculos, o tartan deixou de ser apenas um distintivo tribal para se tornar um ícone de estilo britânico. As variações multiplicaram-se, o tecido saiu “das montanhas” e entrou nos salões, nas universidades, nas casas reais. Tornou-se não só símbolo de tradição, como também de elegância e permanência.
Quando John Barbour fundou a sua empresa em 1894, no nordeste de Inglaterra, talvez não imaginasse que o nome da família viria a tornar-se um sinónimo de estilo e durabilidade. Os seus casacos encerados, pensados para resistir à chuva, ao vento e ao trabalho do campo, tornaram-se um emblema nacional - um verdadeiro uniforme do countrywear britânico. Mas havia um detalhe que distinguia essas peças utilitárias: o forro em tartan. Lá dentro, escondido sob a superfície encerada, vivia o símbolo de uma linhagem. Era como se a Barbour dissesse: "Por fora, a robustez inglesa; por dentro, o coração escocês."
No final do século XX, a Barbour quis dar um novo passo. Não bastava usar tartans tradicionais, era preciso criar um próprio, com raízes genuínas. Foi então que Dame Margaret Barbour e a filha Helen Barbour decidiram ir à origem da família. Trabalharam com os mestres escoceses do tartan da Kinloch Anderson, em Edimburgo, e juntos traçaram a árvore genealógica dos Barbour até ao século XIII, à região de Ayrshire, na costa sudoeste da Escócia - o lugar onde o nome Barbour nasceu.
Dessa viagem à história nasceu a inspiração: o Ayrshire District Tartan, ponto de partida para a criação de um padrão único e exclusivo — o Barbour Tartan Sett. Imaginado para refletir o espírito da família, a ligação à terra e o carácter intemporal da marca, este tartan complementa, assim, o icónico encerado Barbour e honrar as suas origens rústicas e autênticas.
O resultado é absolutamente singular, com uma sequência precisa e imutável de fios e cruzamentos que nunca será alterada. É o ADN têxtil da marca — a sua assinatura invisível. Ainda hoje, mesmo quando a Barbour cria novas variações de cor para acompanhar as estações e coleções, o padrão-base mantém-se fiel àquele desenho original, reconhecível e inconfundível.
Do tartan fundador nasceram várias interpretações. O Classic Tartan, em tons verdes e castanhos, evoca o campo e as raízes utilitárias da marca; o Dress Tartan, mais claro e elegante, reflete uma Barbour adaptada à cidade; o Modern e o Ancient Tartan reimaginam o desenho com novas escalas e luminosidades. Mas, independentemente da cor, todos partilham o mesmo sett, o mesmo coração.
O tartan Barbour é uma herança viva. Representa uma linhagem que atravessa séculos e que, entrelaçada em lã e cera, continua a vestir gerações. É o fio que une o passado escocês à modernidade inglesa, o campo à cidade, a tradição à inovação.