Convidados excêntricos, alta-costura, cenários decalcados de um sonho e rodopios no salão de baile até altas horas da madrugada. Numa edição em que falamos de celebração, convidamo-lo a recordar e espreitar os bastidores das mais fabulosas festas do último século. Já fez RSVP?
What a night!
10 de dezembro de 2013 às 07:00 Máxima
Baile Beistegui
Veneza, 3 de setembro de 1951
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Numa altura em que várias figuras do meio social competiam pelo título de melhor anfitrião, o Baile Beistegui, realizado pelo mexicano Don Carlos de Beistegui y de Yturbe, um abastado colecionador de arte e designer de interiores, destacou-se de tal forma que foi alcunhado de “O Baile do Século”.
A importância social deste evento deveu-se especialmente ao facto de se tratar do primeiro grande baile após o final da II Guerra Mundial, numa altura em que o mundo voltava a respirar de alívio. O próprio local onde foi realizado, o Palazzo Labia, foi um símbolo desse novo momento da história, já que alguns anos antes o edifício viu a sua fachada e interior serem parcialmente destruídos devido à explosão de um barco de munições junto ao seu perímetro. Mas isso eram coisas do passado. Agora Labia reluzia após uma recuperação milionária, com um novo recheio composto por antiguidades e tapeçarias raras.
Jonathan Adler, designer de interioresQual foi a festa mais fantástica onde já esteve? A minha festa favorita foi no verão passado, na minha casa de férias, em Shelter Island. O tempo estava perfeito, a mesa chique, a comida deliciosa e estava rodeado das pessoas certas. Que mais posso pedir? O que é essencial para criar um ambiente perfeito?Velas, velas, velas e mais velas. Toda a gente parece mais bonita à luz das velas. No que toca à lista de convidados, procure uma mistura de jovem e velho, estranho e ainda mais estranho. Uma drag queen nunca fez mal a ninguém.
Numa época em que a gasolina ainda era racionada e chegar a Veneza de barco ou comboio demorava vários dias, os convites foram enviados com seis meses de antecedência para que todos tivessem tempo para preparar os seus fatos. Personalidades como Orson Welles, Gene Tierny, Aga Khan e Salvador Dalí, que surgiu fantasiado de Fantasma de Veneza (com óculos de vidro duplo desenhados por Pierre Cardin onde passeavam formigas reais), reponderam à altura, encenando grandiosas chegadas sob o olhar atento de um público em êxtase. Segundo um artigo da Vanity Fair, publicado quando o Château de Groussay (outra propriedade de Beistegui) foi vendido pela Sotheby’s por 10 milhões de dólares, os convidados chegaram mesmo a treinar as suas entradas durante vários dias para que nada falhasse. E não era para menos, já que todos queriam ficar bem na objetiva de Cecil Beaton, que fotografou todos os instantes deste baile para a Vogue.
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De todos os convidados, o couturier Jacques Fath, vestido de Rei Sun, foi talvez um dos que mais se destacou. A sua fantasia, perfeitamente ajustada ao seu corpo e rica em bordados, não permitia que se sentasse, tendo sido obrigado a fazer todo o trajeto de gôndola, até ao Palazzo, de pé. As gôndolas eram mesmo a única opção, já que Beistegui proibiu qualquer outro meio de transporte mais moderno. “Quando Beistegui viu aquele palácio em ruínas, viu algo maravilhoso, viu a Veneza do século XVIII”, recorda o historiador Nicholas Foulkes. “Este foi um evento a uma escala imensa, maior do que qualquer pessoa do grande público poderia imaginar. Ao escolher este tema para o seu baile, e como demonstra o seu trabalho como decorador, Beistegui voltava as costas ao mundo moderno, ao mundo da Guerra Fria, ao plano Marshall e à ameaça do comunismo para recuperar uma sociedade onde todos conheciam o seu lugar. E Beistegui estava no topo da pirâmide social.”
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Black and White Bal
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Nova Iorque, 28 de novembro de 1966
No pico do sucesso da publicação de A Sangue Frio, que consolidou a sua fama mundial, Truman Capote decidiu organizar o baile que marcou a história social de Nova Iorque e que ainda hoje é aqui e ali recriado. O autor, que lançou os seus primeiros contos aos 20 anos, era já uma figura notável de Manhattan – e uma presença querida nas mesas dos grandes anfitriões da cidade –, mas nada se comparava ao que poderia colher se organizasse o seu próprio baile.
Consciente de que teria mais a ganhar do que a perder, Truman Capote entregou-se aos preparativos desde evento com a mesma dedicação com que se entregou aos seus livros. O local escolhido para acolher esta soirée para cerca de 400 pessoas foi o salão de baile do histórico Plaza Hotel, que segundo Capote tinha o “último salão de baile decente de Nova Iorque”. O tema preto e branco foi inspirado numa cena em Ascot de May Fair Lady, onde elegantes personagens assistem às históricas corridas de cavalos vestindo apenas essas cores.
Ophélie Renouard, fundadora do Bal des Débutantes, no L’Hôtel de Crillon, onde debutaram as filhas de Bruce Willis, Clint Eastwood, Sylvester Stallone e Forest Whitaker.Qual foi a festa mais fantástica onde já esteve? Vou partir do princípio que por “fantástica” quer dizer muito sofisticada e trabalhosa. Já estive em várias, em diferentes países, mas prefiro sempre as festas em casa. A mais recente foi em agosto, no aniversário da Princesa Melusine Ruspoli, em Roma, no castelo que está na família desde 1674.Quais são as características do convidado perfeito?Será sempre o que é mais amado pelos outros convidados, quer seja pelo seu estilo, beleza ou inteligência. É muito difícil encontrar todas estas características numa pessoa e, por isso, um fantástico evento resulta de um bom mix de pessoas.
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A fazer-se valer da sua capacidade de dominar histórias de suspense, Truman Capote criou a antecipação em dose certa que tornou este baile no evento mais concorrido da segunda metade do século XX. Para começar – e porque não era socialmente elegante organizar um baile em seu nome próprio –, decidiu homenagear Katharine Graham, diretora e proprietária do The New York Post. “Truman ligou-me nesse verão e disse: ‘Acho que precisas de te animar. Vou fazer um baile em tua honra’... Eu fiquei um pouco perplexa... Senti que Truman iria dar o baile de qualquer forma e que eu iria ser um dos ornamentos”, disse a editora à Vanity Fair.
Talvez o maior desafio fosse criar a lista de convidados perfeita, um trabalho que parece ter dado a Truman Capote um especial prazer. Num caderno preto e branco que lhe custou dez cêntimos e que carregou para todo o lado durante três meses, o autor acrescentava, riscava e voltava a acrescentar nomes da elite nova-iorquina. Quando alguém lhe perguntava se iria ser incluído na festa, retorquia ‘não se preocupe, vai ser convidado’ ou “talvez seja convidado, talvez não!”. Truman Capote obrigou também vários amigos a oferecem jantares pré-baile, onde testava a sua guest list, dando indicações concretas de quem deveria ou não ser convidado. Uma atitude criticada por muitos. “Cecil Beaton foi aplaudido quando soube que Truman estava a planear uma festa e expressou o seu descontentamento no seu diário. ‘O que é que ele estava a tentar provar?’, escreveu. ‘A tolice de estar tanto tempo a organizar uma festa é algo digno de um homem mais novo ou de uma mulher sem valor, cujas ambições são apenas sociais”, cita o jornal britânico The Guardian.
Apesar das críticas, o certo é que às dez horas do dia 28 de novembro de 1966 o Plaza Hotel recebeu estrelas como Frank Sinatra, Mia Farrow, Henry Ford, Richard Avedon, Marisa Berenson, Leonard Bernstein, Oscar de la Renta, Greta Garbo, o Marajá de Jaipur e o decorador Billy Daldwin, que usou uma máscara de unicórnio aplaudida pelo anfitrião. E não restam dúvidas de que Capote conseguiu aquilo que sempre quis. Como conclui o livro Bals de Légende, publicado pela joalheira Van Cleef & Arpels, este foi “‘o mais espetacular presente de todos os tempos’ que Truman Capote deu... a si mesmo”!
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Baile da Quinta do Vinagre e Baile Patiño
Colares e Cascais, 4 e 6 de setembro de 1968
Apesar de ser aparentemente sorridente e politicamente correta, a alta sociedade pode ser competitiva e implacável. E, mesmo nos anos 60, os dois grandes bailes quase consecutivos que trouxeram a Portugal uma chuva de estrelas internacionais nunca antes vista geraram drama suficiente para alimentar toda uma temporada de Gossip Girl. O centro da polémica era nada mais nada menos do que São Schlumberger, uma excêntrica portuguesa que residia em Paris e que se tornou milionária ao casar com um magnata do petróleo. Schlumberger tinha acabado de recuperar a Quinta do Vinagre, uma opulenta mansão de 1712, em Colares, onde passava o verão, e nada melhor do que um grandioso baile para reforçar a sua posição social (frágil, segundo as más-línguas) junto dos seus cerca de mil convidados oriundos dos quatro cantos do mundo. Numa tenda decorada com quadros de Picasso e Braunner e esculturas de Henry Moore, figuras como Audrey Hepburn, Gina Lollobrigida ou a Baronesa de Rothschild dançaram ao compasso de uma orquestra completa. No dia seguinte, o Diário de Notícias descrevia a festa na sua capa como uma “encruzilhada de celebridades”.
Tudo teria sido perfeito se o milionário boliviano Antenor Patiño, alcunhado de “Rei do Estanho”, não tivesse, mais de quatro anos antes, programado e preparado um outro baile para 1400 pessoas que se realizaria dois dias depois. Apesar de São Schlumberger ter afirmado em várias ocasiões que os dois eventos tinham sido coordenados de forma a aproveitar a presença em Portugal dos vários convidados internacionais, reza a história que Beatriz Patiño, a esposa do empresário e influente figura social da época, não ficou feliz com a situação. Mas qual foi a melhor festa? Para Maria Guadalupe, cronista social das extintas revistas Olá Semanário e Gente, na altura iniciando a sua carreira profissional como uma secretária envolvida neste evento, não há dúvidas: “A Patiño foi a melhor. Era um homem absolutamente internacional.”
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Baile Oriental
Paris, 5 de dezembro de 1969
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O convite era enigmático e não deixava que ninguém conseguisse prever a imponência deste evento que tornou o Barão Alexis de Redé uma das figuras sociais mais importantes de Paris do século passado. No entanto, mal cruzavam os portões do Hôtel Lambert, o hôtel particulier do século XVII onde residia o anfitrião, os cerca de 400 convidados eram transportados para um cenário de mil e uma noites, onde poucos foram os limites para entreter. Os dois elefantes em tamanho real esculpidos em papier maché, montados por dois homens trajados a rigor, eram apenas um amuse-bouche.
O segredo do sucesso deste baile residiu em grande parte na genialidade do seu decorador, Jean-Francois Daigre, um jovem criativo de feitio difícil que começara a sua carreira chamando a atenção de Christian Dior, que lhe deu uma oportunidade ao convidá-lo para fazer as montras das suas lojas. Durante os dez meses de preparação da festa, Daigre esmiuçou todos os detalhes, tendo, por exemplo, percorrido inúmeros ginásios de Paris em busca dos 16 figurantes perfeitos para, durante o evento, segurarem em tochas ao longo de um lance de escadas, mascarados de escravos núbios. Havia também tocadores de cítara, homens que escoltavam convidados com sombrinhas dignas de um marajá e no ar pairava um exótico aroma a incenso. Helene David-Weill, filantropa e presidente do reputado museu Les Arts Décoratifs, que nessa noite vestiu uma criação de Christian Dior cor de laranja, bordada a topázios e alterada para melhor responder ao tema da festa, recorda o baile como um momento em que “a extravagância e as maravilhas não tinham fim. Tinha de devorar tudo com os olhos, nunca tive uma sensação semelhante. Foi como se, subitamente, fosse transportada para um sonho, para outra era, outro mundo”.
Ao contrário da grande maioria das festas de hoje, onde os dress codes são tidos como algo secundário, no Bal Oriental os convidados trajaram todos a rigor. A começar, naturalmente, pelo próprio anfitrião, que surgiu com uma fantasia de aristocrata russo, desenhada por Pierre Cardin. A ele juntaram-se personalidades como Salvador Dalí, os Barões Marie-Hélène e Guy de Rothschild, Brigitte Bardot, Aga Khan, o Príncipe Henrik da Dinamarca e um convidado cujo nome não ficou para a história, mas que chegou à festa com uma pantera bebé debaixo do braço. No entanto, ninguém superou a Viscondessa de Bonchamp, nascida Dale King, que Alexis de Redé recorda nas suas memórias: “Veio vestida de pagode. Teve de ser transportada para o baile na parte de trás de uma carrinha, pois o seu fato era feito de metal. Não se podia sentar na carrinha e só o fez quando despiu o fato. Tem de encontrar um equilíbrio entre o saber aproveitar a noite e a reação que quer causar. Não sei se ela acertou.”
Mas o que leva um homem a investir uma infindável soma de dinheiro numa festa que durou cerca de oito horas? A fama e o reconhecimento? Puro hedonismo? “O Baile Oriental foi descrito como uma das festas mais fantásticas do século XX e um dos pontos altos da minha vida”, lê-se em Alexis: The Memoirs of the Baron de Redé. “Perguntam-me frequentemente porque quis fazer esta festa e devo dizer que não foi por razão nenhuma em especial. Decidi apenas dar um baile.”
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Le Bal Proust
Ferrières, 2 de dezembro de 1971
Poucas personalidades receberam com a pompa e circunstância, mas também a elegância, de Marie-Hélène de Rothschild. Descendente da poderosa família banqueira, a rainha da sociedade francesa era conhecida pela organização exímia dos seus gatherings únicos, onde fazia circular as maiores estrelas do seu tempo e apoiava artistas e criativos.
À boa moda da nobreza europeia, os Barões de Rothschild cultivavam um enorme saudosismo pela antiguidade. Assim foi confirmado após o inesquecível Bal Proust, realizado em Ferrières, uma propriedade a 25 quilómetros de Paris onde Guy e Marie-Hélène de Rothschild habitavam num Château decorado ao estilo do Renascimento italiano, recuperado pelo casal.
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Sob o mote “À la recherche du temps perdu”, o desafio lançado aos convidados foi de vestir a pele de heróis de romances de Marcel Proust, o escritor francês que era homenageado devido à celebração dos 100 anos do seu nascimento. O evento começou com um jantar para 350 pessoas – onde foi servida lagosta, foie gras e foie de canard, pequenas ameixas e compota – às quais se juntaram mais 350 convidados para uma ceia tardia, num grande salão com palmeiras e fetos.
Naomi Campbel, modelo Qual foi a festa mais fantástica onde já esteve? A festa de anos de Puff Daddy no Cipriani, em Wall Street. Nunca esquecerei Sarah Ferguson e Mohammed Ali a entrarem juntos. O que é absolutamente proibido? Mulheres que roubam os homens de outras pessoas.
A lista de presenças foi um misto de Hollywood e nobreza, contando com Humphrey Bogart eElizabeth Taylor (a atriz levava o cabelo literalmente coberto com diamantes Van Cleef & Arpels), Audrey Hepburn, a Princesa Grace do Mónaco e a Duquesa de Windsor. Marisa Berenson, também convidada, ainda recorda essa noite como se fosse hoje. “Chegar a Ferrières era como entrar noutra época, mas de uma forma ainda mais luxuosa e refinada. Era como um filme de Visconti”, afirmou a atriz. “Havia flores brancas por todo o lado e as mulheres usavam vestidos longos, corpetes, tiaras, joias... Eu não ia vestida dessa forma. Tinha acabado de gravar Morte em Veneza e trabalhei com Piero Tosi [conhecido especialista em guarda-roupa]. Disse-me: ‘Não vais como toda a gente! Vou vestir-te de Marquesa Casati.’ Tratava-se de uma mulher excêntrica, que marcou o final dessa época. Era muito rica e onde quer que fosse causava sensação. Entrei na personagem e senti-me como ela. Achei divertido vestir esse papel.”
Apesar da sofisticação que se respirava no Le Bal Proust, nem o mais glamoroso evento está imune aos seus pequenos acidentes. Que o diga a Duquesa de Windsor, que usava uma enorme pena azul no cabelo. Ao virar-se, não reparou que o seu acessório mergulhou num consommé e, voltando-se de novo, pincelou o rosto do Barão Guy, o anfitrião, com parte do jantar. Não há dúvida que, até em Ferrières, errar é humano.
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O regresso ao passado
A excitação que se sentia no lobby do mítico hotel Bauer, um dos spots mais concorridos de Veneza, deixava adivinhar que em algumas horas o Ballo Volpi viria a tornar-se de novo um dos eventos mais cobiçados do calendário do Festival de Cinema de Veneza. “Vou levar o meu cabelo com ondas estilo Kim Basinger”, comentava uma deslumbrante modelo americana ao seu grupo de amigas, enquanto esperavam por um water taxi.
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Bobbi Brown, maquilhadoraQual foi a festa mais fantástica onde já esteve? O meu casamento foi sem dúvida a festa mais memorável e especial. Casei-me com o amor da minha vida. Celebrámos este dia com toda a nossa família e amigos mais próximos. Foi perfeito. Em setembro, celebrámos o nosso 25.º aniversário. Não podia estar mais feliz. Que truque de maquilhagem sugere para que esta se mantenha perfeita numa festa? Use pó para que a base fique com um aspeto fresco e natural durante mais tempo. Para que o look não fique muito pesado, opte por um pó que seja translúcido e com base amarela. Além disso, quando maquilhar os olhos, não aplique creme de olhos nas pálpebras porque esta dose extra de hidratação vai fazer com que a sombra vinque e não aguente muito tempo.
Criado originalmente em 1932 pelo Conde Giuseppe Volpi di Misurata, o poderoso político e empresário que fundou o Venice Film Festival, esta festa, realizada na sua residência privada à beira do Grande Canal, tornou-se rapidamente um dos pontos altos do certame, onde se juntavam as maiores estrelas de cinema, magnatas e supermodelos. No entanto, apesar de ainda hoje ser atribuído aos vencedores do Festival de Veneza o prémio Coppa Volpi, este baile acabou por perder o seu esplendor, deixando de ser realizado em 1991.