“Ao descer a escadaria mítica do número 31 da rue Cambon, tomei consciência de que fazia parte da Casa Chanel, o que me tocou profundamente. Temos a impressão de seguir os passos de Coco Chanel, no local onde ela se instalava para ver desfilar as suas modelos. Para mim, Chanel é um mito. Li muitos livros sobre Gabrielle Chanel e a evolução da casa. E depois, agora há Karl, evidentemente. Percebi o que representou aquela mulher numa época em que a moda, a política e a economia eram dominadas por homens. É por isso que é uma honra fazer parte desta casa: porque, por detrás de tudo isto, está uma mulher vinda da rua que se fez sozinha, com a sua tenacidade e sem fazer cedências. É o meu lado feminista: não me sentiria tão orgulhosa de representar uma casa criada por um homem. Gabrielle melhorou a condição da mulher na sociedade. As suas palavras são tão únicas e poderosas como o seu estilo. Releio-as muitas vezes. Doravante, como, bebo e respiro Chanel. ”
'Sente-se um verdadeiro orgulho em trabalhar para Karl e dar vida aos seus esquissos'As casas de arte: os ateliês Lesage e Massaro
“A Chanel adquiriu casas de arte para permitir que continuassem a existir: entre elas, a Massaro e a Lesage. Há o ateliê da rue de la Paix, da Casa Massaro, uma verdadeira sede do saber-fazer. Há gerações que os artesãos fazem à mão aqueles sapatos que dão estilo e feminilidade a uma silhueta.
Empoleirado no quinto andar de um prédio tipicamente parisiense está o ateliê Lesage, uma sucessão de pequenas divisões a transbordar de pérolas, lantejoulas, strass e brilhantes. Por detrás de grandes bastidores de bordado, armadas de uma paciência inquebrantável, as mãos bordam, pespontam, enfiam e aplicam com uma mestria que constitui um dos tesouros bem guardados da alta-costura.
Apercebemo-nos verdadeiramente da medida do seu contributo para a elaboração da coleção. Compreendemos a que ponto o reconhecimento da marca Chanel os ajuda a fazer perdurar esta profissão. É fascinante ver o trabalho feito por equipas tão apaixonadas e, sobretudo, tão jovens!”
O ateliê de Madame Cécile
“Ela dirige o ateliê de alta-costura Flou e tem, portanto, o privilégio de ser chamada ‘Madame’ antes do nome próprio; é uma tradição nas casas de alta-costura. Aqui reina um ambiente quase familiar, diligente mas cheio de bom humor, numa altura em que estamos já a poucos dias do desfile. Sente-se um verdadeiro orgulho em trabalhar para Karl e dar vida aos seus esquissos.”
A seleção dos acessórios no Estúdio Chanel, rue Cambon, 29, J-2...
“Última etapa antes do desfile: Karl conjuga os acessórios nos modelos da coleção com a equipa do seu estúdio de criação. Nada é deixado ao acaso. Cada acessório encontra o seu lugar: os sapatos vistos na Massaro casam com um par de luvas ou com uma rede para o cabelo. Tudo parece ser tão evidente… embora o tempo urja. Faltam dois dias para o desfile, mas nada escapa ao olhar sabedor de Karl. ”
Os bastidores do desfile
“A efervescência atinge o paroxismo, os corredores do Grand Palais estão transformados em gigantescos camarins. As aderecistas apressam-se, as manequins correm entre o ensaio e o hair & make-up como abelhas num cortiço. As chefes dos ateliês, entre elas Madame Cécile, chegam com os últimos modelos, acabados de confecionar. Ainda assim, Karl arranja tempo para dar algumas entrevistas em jeito de antevisão, enquanto Virginie Viard [a directora do Estúdio Chanel] acompanha de perto os últimos ajustes. Nunca transparecendo qualquer stress, o desfile vai começar, as pessoas instalam-se na sala. Enquanto espero, consigo responder a algumas perguntas da imprensa...”