De acordo com o British Medical Journal, uma pequena dose de cetamina – uma substância utilizada em anestesias, controlo da dor e tratamento da depressão – administrada uma única vez e logo depois do parto pode ser tudo o que é preciso para manter a depressão pós-parto à distância. Já havia estudos sobre os efeitos positivos da cetamina em mulheres com partos por cesariana, mas estes sempre excluíram mulheres com sintomas de depressão durante a gravidez que estão, na verdade, mais vulneráveis à depressão pós-parto. O enfoque deste estudo é, portanto, precisamente nestas mulheres e independentemente do tipo de parto. Sobre a depressão pré-natal, o estudo explica ser um situação bastante comum, "com uma prevalência reportada de 6-13% em países de rendimento elevado, 21% em países de rendimento médio e 26% em países de rendimento baixo".
Neste estudo, que decorreu em cinco hospitais chineses entre junho de 2020 e agosto de 2022, participaram 364 mulheres que tinham sido diagnosticadas com sintomas de depressão durante a gravidez. Cerca de 40 minutos depois do parto, metade das mulheres foi injetada com 0,2mg/kg de cetamina, e a outra metade, com placebo. Passados 42 dias, das mulheres injetadas com cetamina, 12 – ou seja, 6,7% – tinham tido um episódio depressivo grave, o que compara com 46 mulheres – 25,4% – das que foram injectadas com placebo. O que representa uma redução de cerca de três quartos. De sublinhar que houve maior incidência de "episódios neuropsiquiátricos adversos" no grupo da cetamina – observados em 82 mulheres versus 40 no grupo do placebo –, no entanto, "os sintomas duraram menos de um dia e nenhum necessitou de tratamento medicamentoso".
O estudo sublinha que "a depressão pré-natal é um forte indicador da depressão pós-parto". Razão pela qual, mulheres com depressão pré-natal são "boas candidatas para intervenções que possam reduzir a depressão pós-parto". Salvaguardando que "medidas não farmacológicas sejam preferíveis, os tratamentos medicamentosos são por vezes necessários", porém "o uso de antidepressivos tradicionais durante a gravidez e a amamentação é limitado pelo início retardado dos efeitos e pelo potencial de causar danos aos recém-nascidos". Pelo que o uso da cetamina, que não suscita as mesmas preocupações, parece ser um bom candidato no combate desta condição debilitante.