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Celebridades

Madalena Aragão: "Sou apenas uma miúda com sonhos, como toda a gente"

Aos 20 anos, Madalena Aragão consolida um lugar central na nova geração de atores portugueses. Entre projetos que variam do streaming ao cinema, e uma relação que descreve como o seu “primeiro grande amor”, a atriz reflete sobre vulnerabilidade, disciplina e autenticidade — na arte e na vida.

Vestido em malha com plumas, Paula. Meias em algodão, Calzedonia.
Vestido em malha com plumas, Paula. Meias em algodão, Calzedonia. Foto: RICARDO SANTOS / MÁXIMA
30 de outubro de 2025 às 20:28 Safiya Ayoob

Há presenças que, mesmo antes de se tornarem ícones, já irradiam alguma coisa maior do que o momento passageiro. Madalena Aragão chega ao set — rosto sereno, passos rápidos, olhar que observa antes de agir — e não precisa de anunciar quem é. O ambiente simplesmente ajusta-se a ela. No shooting que antecedeu esta entrevista, tudo aconteceu com uma fluidez rara: trocas de looks rápidas, posições instintivas, uma gentileza constante. Há ali uma profissional que conhece o seu corpo, a sua imagem e o seu lugar e que ainda assim nunca deixa de ser apenas ela.

"Nunca fui muito de separar o que é a 'persona' do que é a Madalena", diz-nos. "A 'persona' fica-se atrás das câmaras. Na vida real, nos eventos ou nas redes, eu apareço como sou."

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Cresceu diante do país, mas nunca perdeu o sentido de casa — essa que não tem câmaras, nem maquilhagem, nem guiões prontos a dizer-lhe quem ser.

A grande estreia de Madalena Aragão aconteceu em Rainha das Flores. Tinha onze anos, talvez menos certezas do que hoje, já nos 20, mas uma vontade enorme de criar mundos. "A primeira vez que me viram [a família] foi no primeiro episódio da novela e claro que foi uma animação. Juntámo-nos toda para o momento", recorda. Foi uma surpresa para todos. "Não sei se os meus pais alguma vez pensaram que eu tinha 'queda para representar'. Era uma coisa que eu queria, mas eles não ligavam muito."

O que lhe passaram foi outro tipo de legado, menos glamoroso, muito mais essencial: disciplina e resiliência. "Quando não alcanço o sucesso, ensinaram-me que o importante é ter a certeza que fiz tudo para o conseguir. E que poucas coisas são definitivas."

Vestido em malha com plumas, Paula. Meias em algodão, Calzedonia.
Foto: RICARDO SANTOS / MÁXIMA

E depois, há as irmãs. Uma já é médica, outra está a caminho de o ser. Ciências puras. Rotinas clínicas. Nada de guião, luz ou red tape. "Atualmente somos as melhores amigas. Ninguém sabe mais de mim do que elas. Não vivo sem as minhas irmãs." Recorda-se de uma fase que resume a relação que tem com elas: "Quando era pequena e precisava de me arranjar, pedia sempre à minha irmã do meio para me pentear ou maquilhar. Ela odiava", ri-se. "A minha mãe tinha de a convencer. Depois, com o tempo, comecei a observar, a tentar fazer sozinha. Hoje é o contrário — é ela que me pede para a maquilhar."

Se há algo magnético na presença de Madalena é a forma como se entrega à construção de uma personagem — não como quem imita, mas como quem observa a humanidade nos detalhes mínimos. "Se vou interpretar uma filha, procuro ver muito bem a mãe. Os trejeitos, os tiques, as manias. Perceber como age, como pensa. Se não há família na história, invento uma. Crio o que ela gosta, o que não gosta, o porquê de cada gesto."

Vestido em malha com plumas, Paula. Meias em algodão, Calzedonia.
Foto: RICARDO SANTOS / MÁXIMA

É um trabalho silencioso, quase íntimo, distante da rapidez com que muitas vezes consumimos séries e filmes. Há método ali, mas há sobretudo instinto. E isso nota-se nos projetos que coleciona: novelas, cinema, plataformas de streaming — um percurso que se adapta, que cresce, que procura.

"Fico muito feliz quando consigo variar", conta, quando fala das diferença entres televisão, cinema e streaming. "São estilos de representação diferentes e é muito estimulante quando os projetos têm andamentos e objetivos distintos."

Vestido em malha com plumas, Paula. Meias em algodão, Calzedonia.
Foto: RICARDO SANTOS / MÁXIMA

Entre as personagens que mais a desafiaram, recorda duas: Olívia, em Morangos com Açúcar, e Elda, num projeto filmado em Budapeste. "Interpretar uma personagem que se relaciona comigo complica. Fazer de conta é mais fácil quando nada se relaciona. Quando há pontos em comum, levas mais tempo a saíres de ti."

Ser rosto de uma nova geração — e mais ainda, referência — chega com silêncio e responsabilidade. "Percebo que há imensas miúdas que me seguem. Claro que sinto responsabilidade. Mas às vezes apetece-me dizer que sou apenas uma miúda igual a tantas outras, com medos, receios e sonhos como toda a gente."

Vestido em malha com plumas, Paula. Meias em algodão, Calzedonia.
Foto: RICARDO SANTOS / MÁXIMA

E é aqui que surge o amor. Não como manchete, mas como eixo interno. Madalena vive entre Lisboa e Paris. Travessias constantes, aeroportos, malas, tempo suspenso. E no meio disso, está João Neves. 

"Sim, é o meu primeiro grande amor", afirma sem hesitar. "É a pessoa que me fez perceber o que era realmente o amor. Antes dele, eu não sabia."

A forma como o diz não é declarativa, é serena. É a segurança de quem encontra casa, não espetáculo. "O João é o meu melhor amigo. Nós rimos, divertimo-nos, cuidamos um do outro. É isso para mim: respeito, lealdade, cuidar."

Conheceram-se no Instagram. Amizade primeiro. Depois inevitabilidade.

E sobre a pressão mediática? "Zero. Nunca houve medo. Somos duas pessoas apaixonadas. O resto é barulho", responde. "A casa são as nossas pessoas. Se ele está, se a minha mãe está, se os meus cães estão, eu estou bem. Posso estar em Paris, Lisboa, num estúdio ou numa sala vazia. Se eles estiverem lá, é casa."

Vestido em malha com plumas, Paula. Meias em algodão, Calzedonia.
Foto: RICARDO SANTOS

Não há idealização aqui. Não há persona polida. Há autenticidade — inclusive no amor próprio. "A relação comigo mesma não era a melhor há uns tempos", confessa. "Mas de há um ano para cá tenho percebido que isto de cuidar também é sobre nós. Sobre darmos valor e perceber a importância da reciprocidade."

Entre filmagens, estreias e prémios silenciosos (os internos, os que contam), Madalena está num ponto de viragem: mais mulher, mais firme, mais consciente. Acabou de estrear Rabo de Peixe: "uma personagem pequena, mas que adorei fazer". E em breve chega aos cinemas num filme de Simão Cayatte, que a levou a aprender a tocar uma parte de uma sinfonia de Beethoven. "Foi um desafio enorme. Estou super entusiasmada."

Se lhe perguntam com quem sonha trabalhar, não hesita um segundo: "Christopher Nolan!! Sempre!" Se lhe perguntam quem é o seu ícone: "Meryl Streep, claro. E fora deste meio? A minha mãe." E afinal, o que é que ela gostaria que dissessem de si daqui a dez anos? Talvez apenas isto — e é ela quem o sugere, até sem dizer: Que fez do seu talento um compromisso. Que não se perdeu na pressa de ser vista. Que foi fiel à pessoa antes da personagem. E que continuou, simplesmente, a ser a Madalena.

Vestido em malha com plumas, Paula. Meias em algodão, Calzedonia.
Foto: RICARDO SANTOS / MÁXIMA

Créditos:

Realização de Cláudia Barros.

Fotografia de Ricardo Santos.

Vídeo de Tiago Ribeiro.

Cabelos e Maquilhagem de Alex Origuella.

Assistente de styling: Tita Mendes.

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