Laura Dutra: "A Teresinha veio reforçar o meu gosto por personagens com uma veia mais cómica"
É uma das grandes protagonistas do momento. A atriz, que atravessa uma fase imparável, brilhou nos Globos de Ouro com um look que aliou moda e joalharia numa colaboração deslumbrante, e partilhou fotografias exclusivas com a Máxima. Laura fala-nos do seu estilo, dos projetos que se seguem, da sua carreira e ambições.

Aproveitando o contexto da XXIX Gala dos Globos de Ouro, que decorreu no passado domingo, 28 de setembro, a Máxima falou com a atriz Laura Dutra, que brilhou em várias frentes: estava nomeada para o Globo de Ouro de Melhor Atriz na categoria de Ficção, subiu ao palco para apresentar um dos prémios e destacou-se como uma das mais bem vestidas da noite, graças a um look que uniu moda e joalharia numa colaboração singular com a joalheira Jé e o designer Gabriel Daros. Com uma carreira que, pelas suas palavras, “tem evoluído de forma natural e bonita”, a atriz vive uma fase imparável. Laura começou no teatro e rapidamente se afirmou na televisão e no cinema, até conquistar espaço em produções internacionais - na saga norte-americana After e na série brasileira Vermelho Sangue, que estreou recentemente. Hoje, entre o sucesso estrondoso da personagem Teresinha na novela A Herança, que se transformou num verdadeiro fenómeno nas redes sociais, e o impacto sensacional da nova série Situações Delicadas - ambas atualmente no ar - a atriz soma reconhecimento e novos desafios que confirmam o seu talento, versatilidade e uma visão clara sobre a arte que escolheu como vida. Nesta entrevista exclusiva, fala-nos do seu estilo, de projetos futuros, da sua carreira e ambições, do seu propósito e da forma como encara a arte enquanto uma força transformadora e capaz de educar.

O teu look dos Globos de Ouro foi apontado por muitos como um dos mais bonitos da noite. O que podes contar-nos mais sobre a ideia por detrás do resultado final?
Reuni uma verdadeira equipa de sonho. O meu look nasceu de uma colaboração entre a joalheira portuense Jé e o designer Gabriel Daros, com quem já tinha trabalhado antes. A ideia de criar uma peça de joalharia que complementasse o vestido partiu de mim e, juntas, desenvolvemos o projeto. Sou fã do trabalho da Jé — as suas criações, inspiradas em formas orgânicas da natureza, são sempre únicas. Para equilibrar a força do metal, quis um vestido delicado e elegante, duas palavras que descrevem bem o trabalho do Daros. Ele criou um vestido minimalista com corte em viés de costas abertas e uma cauda longa - feito exclusivamente para mim e pensado para realçar a peça de joalharia. Dei total liberdade a ambos para criarem sem limitações. A esta colaboração juntei ainda a fotógrafa portuense Matilde Cunha, que tanto admiro, para eternizarmos o momento numa sessão fotográfica em analógico. Estou verdadeiramente feliz com o resultado final.

Podes falar-nos mais sobre o colar, assim como os outros acessórios, nomeadamente as peças que parecem unhas? Como te sentiste ao usar uma peça da qual também fizeste parte numa noite tão especial?
Quando idealizei a peça, imaginei de imediato algo nas costas, ligado ao pescoço - queria criar um efeito surpresa no look: algo discreto à frente, mas com impacto ao virar-me. Bastou partilhar essa visão com a Jé e começámos a criar. Iniciámos pela gargantilha e, a partir daí, fomos entrelaçando fios de latão que desciam pelas costas. Enquanto moldávamos umas peças, surgiram outras ideias. Experimentámos um fio mais fino para fazer algo diferente nos dedos. Não queria um anel tradicional, quisemos dar um apontamento subtil nas mãos e na orelha, como um prenúncio do que se revelava nas costas. Entre filmagens e provas do vestido, passei o último mês a viajar para o Porto para dar vida a este projeto. Foi exigente, mas valeu cada segundo. Não há nada mais gratificante do que entregar tanto tempo e dedicação a algo e sentir que tocou o público como nos tocou a nós.

Quem te segue nas redes sociais pode ter reparado que passaste uma boa parte do verão no Douro, a gravar uma longa-metragem, o filme Vindima, realizado por Luís Galvão Teles. Foi essa a inspiração? Podes falar mais sobre esse projeto?
As formas das costas são inspiradas nas ramificações das vinhas. A peça cria quase a sensação de um abraço - tal como as vinhas envolvem, de forma natural e espontânea, tudo o que as rodeia. O filme Vindima foi um projeto muito especial. Passámos mais de dois meses a mergulhar nas paisagens do Douro e a dar vida ao romance de Miguel Torga. Trabalhar com o Luís foi um sonho tornado realidade. Tive ainda o privilégio de contracenar com a Maria de Medeiros, que fazia de minha mãe, e com o Miguel Borges como pai - ambos atores que admiro profundamente. Cruzei-me com talentos incríveis, como a Joana Pialgata e a Filipa Saavedra, que vão dar que falar e com um elenco de peso que adoro: Vicente Wallenstein, Afonso Laginha, Raimundo Cosme, José Condessa entre outros. Criámos uma verdadeira união, desde atores, a técnicos/produção e uma relação que vai para além do Douro. A história deste vestido cruza-se com todos esses momentos vividos, o que o torna ainda mais especial para mim.

Como defines o teu estilo, no dia a dia, fora do tapete vermelho?
Diria que é descomplicado. No meu dia a dia, não perco muito tempo a escolher o que vestir. Gosto de peças versáteis — umas calças largas, por exemplo, funcionam tanto com uma t-shirt casual como com um blazer mais formal. Acima de tudo, procuro conforto sem abdicar de algum estilo.
Quando pensas num look perfeito para ti, o que nunca pode faltar?
Conforto, acima de tudo. Gosto de me vestir de forma mais elegante em momentos pontuais, mas no dia a dia, o que não pode mesmo faltar é um bom par de sapatos confortáveis.
Tens algum produto de beleza que já se tornou indispensável no teu dia a dia?
Não costumo usar maquilhagem no dia a dia. O meu essencial é, sem dúvida, o protetor solar. Cuidar da pele e preveni-la é, para mim, a parte mais importante de qualquer rotina de beleza.

Nas redes sociais, a tua personagem Teresinha tem sido alvo de uma verdadeira loucura, um fenómeno mesmo. Como é que geriste e acompanhaste toda a intensidade?
Sinto que ninguém estava à espera deste boom. Claro que temos sempre a ambição de que corra bem, mas o sucesso foi totalmente inesperado. Estou profundamente grata ao público e aos fãs da personagem. Tive a oportunidade de conhecer a Sara e a Bea, que gerem a conta @bernesinha, e foi muito especial perceber que criaram uma amizade graças à Teresinha. É bonito ver como uma personagem pode gerar ligações reais entre pessoas. Receber esse tipo de feedback no dia a dia reforça todo o empenho e dedicação que coloquei neste trabalho. É mesmo muito gratificante.
Pensamos que uma das razões pelas quais a Teresinha teve tanto sucesso, mesmo no início de tudo, ainda sem o Bernardo, foi pela tua interpretação excecional, e que fez parecer tudo tão natural e real. Houve um grande trabalho de preparação? No que é que a Teresinha e a Laura são parecidas?
Há sempre um trabalho inicial que ninguém vê. Pessoalmente, adoro a fase de criação da personagem: estudá-la, compreendê-la e moldá-la ao projeto. A Teresinha nasceu numa sala de ensaios com a Patrícia Tavares. Comecei, de forma totalmente improvisada, a falar sobre o que significava a madrinha para ela. Quando terminei, olhámos uma para a outra - sem nos conhecermos até então, e estávamos ambas emocionadas. O amor que a Teresinha sente pela madrinha foi, de certa forma, o ponto de partida para tudo o resto. Nesse sentido, sinto que eu e a Teresinha nos cruzamos em muitos aspetos. Faço tudo pela minha família e pelos meus amigos, sou bastante direta e adoro comer (não tanto quanto ela, é verdade, mas vem tudo do mesmo lugar).
O que esta personagem te ensinou sobre ti própria?
A Teresinha veio reforçar o meu gosto por personagens com uma veia mais cómica. A personagem, tal como foi escrita, não tinha inicialmente essa carga de humor, mas durante as leituras percebi que havia espaço para explorar esse lado. Comecei a arriscar em pequenos improvisos — e o facto de ver o elenco a rir deu-me confiança para continuar a brincar em cena. Adoro interpretar cenas mais intensas e dramáticas, mas descobrir que também posso divertir-me e fazer rir é um prazer enorme. Há algo de muito libertador na comédia.

Por outro lado, que projeto é que fizeste até agora que não aches que tenha tido o devido reconhecimento?
Isso é sempre relativo. Uma novela terá, naturalmente, mais visibilidade pelo formato e alcance, mas isso não significa que uma série não chegue a um público igualmente, ou até mais, interessante. Sinto que todos os projetos em que participei conquistaram um público sólido. Um bom exemplo disso é Situações Delicadas, a série mais recente que fiz para a RTP Play. É um projeto muito diferente e, de forma surpreendente, tem tido ótimos resultados de audiência, além de uma receção muito positiva por parte do público - ao ponto de já se manifestar uma forte vontade de ver uma segunda temporada.
Começaste no teatro em 2010/11, entraste na ficção nacional em 2016, entretanto, cinema e streaming, até chegar a produções internacionais - tanto norte-americanas (saga After) como no Brasil (Vermelho Sangue). Aos 27 anos, já tens um percurso sólido. Como é que te posicionas neste momento de sucesso?
Sou uma pessoa bastante ambiciosa - no melhor sentido da palavra. Sinto que a minha carreira tem evoluído de forma natural e bonita. Realizei um grande sonho ao trabalhar na Globo e interpretar a minha primeira vilã em Vermelho Sangue (disponível na Globoplay), o que foi um marco importante para mim. Esse feito, apesar de significativo, não me sacia por completo. Quero continuar a crescer, a explorar personagens cada vez mais diferentes e desafiantes. É isso que me move enquanto atriz.
Tens ambição de investir numa carreira internacional, estás mais focada em Portugal ou seria perfeito para ti se houvesse um equilíbrio?
Se pudesse dividir o ano a trabalhar entre Portugal e o Brasil, acho que seria feliz para o resto da minha vida. Claro que tenho vontade de trabalhar nos Estados Unidos, mas acredito que, se isso tiver de acontecer, surgirá de forma natural. Neste momento, estou muito focada no mercado português e brasileiro. A ideia de poder atravessar o Atlântico a trabalhar, entre dois países que me dizem tanto, é algo que me fascina profundamente.

Na tua bio de Instagram tens a frase/motto “A Arte educa”. O que essa ideia significa para ti?
É uma frase simples, mas que carrega muito da forma como vejo o meu trabalho e o papel da arte na sociedade. Acredito profundamente que a arte tem o poder de abrir consciências, provocar reflexão, gerar empatia e até transformar mentalidades. A arte tem a capacidade de nos ensinar algo - sobre o outro, sobre o mundo e até sobre nós próprios. Para mim, fazer parte desse processo é um privilégio e uma responsabilidade enorme.
Há alguma obra - um livro, um filme, uma peça, que tenha mudado a forma como vês o mundo
Falando em empatia, qualquer livro da Carla Madeira convida-nos a refletir sobre a forma como nos relacionamos com os outros. Obras como A Natureza da Mordida ou Tudo é Rio são exemplos poderosos disso. São livros que nos fazem questionar comportamentos, julgamentos e emoções — e, por isso mesmo, valem muito a leitura.
Como lidas com o facto de tu própria seres uma referência para quem te segue?
Não me vejo como uma referência. Limito-me a partilhar e a criar manifestos com os quais me identifico. O Instagram, como qualquer outra plataforma, dá muitas voltas; houve uma altura em que a exposição constante era o que mais despertava interesse, mas sinto que isso já mudou. Hoje, o lado mais discreto, mais intimista, começa a ganhar espaço e a atrair atenção de uma forma diferente. Gosto de usar o Instagram como um espaço artístico, quase como uma extensão criativa do meu trabalho. E é muito gratificante perceber que há quem se conecte com esse lado, para além da minha vertente mais visível como atriz.

Créditos
Fotografia: Matilde Cunha
Jóias Jé: Jéssica Dias
Vestido: Gabriel Daros
Make up: YSL / Catarina Albano
Hair: José Taipa

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